Um novo lar

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      Estive me preparando psicologicamente e fisicamente há aproximadamente uma semana, para ir embora do lugar onde fui criada e tive muitas conquistas, amigos, uma vida... É difícil se despedir mesmo que seja temporariamente (pelo menos é o que espero). Não consegui dormir direito durante a noite, após arrumar duas malas grandes e uma menor, chequei no mínimo cinco vezes se havia colocado tudo que era necessário e não havia esquecido de nada.
     Quando consegui dormir, o alarme tocou me lembrando mais uma vez que logo precisaria ir para o aeroporto. Levantei da cama com muito esforço e pouca força de vontade, antes que minha mãe viesse me chamar e visse que claramente não quero me mudar, mas estou fazendo isso por obrigação e para o bem estar dela, não quero deixá-la triste. 
   Tracei planos durante 17 anos, e apesar de sempre dizer para todos que a mudança é algo bom, não me via seguindo o que acreditava. Talvez por que tenha medo de encarar um novo país, meu pai e sua nova família, e ter que aceitar totalmente que nunca pude ter um pai presente ou uma família unida.
   Após levantar da cama, peguei a roupa que tinha deixado na cama no dia anterior e minha toalha, e fui para o banheiro tomar um banho, coloquei "Skinny Love" que fazia eu me distrair, aproveitei para lavar meu cabelo e deixá-lo hidratado e sedoso. Depois de trinta minutos, me arrumei, ajeitei o cabelo e passei uma maquiagem suave ou leve, conduzi minhas malas pelas escadas até a sala, peguei meu celular e meu headphone, minha mãe estava na cozinha numa ligação que parecia ser importante, enquanto passava um batom vermelho escuro.
     Saímos de casa duas horas antes do voo, chegando no aeroporto vi Lian, meu melhor amigo desde a infância, nos despedimos depois de muito choro e muitos abraços, sentiria muita falta dele. A parte mais difícil sem dúvida foi me despedir de minha mãe, ela não parava de chorar mas tentava sorrir e fazer parecer que estava feliz e que seria o melhor para mim, mas ambas sabíamos que esta poderia ser uma péssima ideia, mas o pessimismo sempre foi meu maior inimigo, e se fosse fazer tamanha mudança, deveria começar com minha personalidade. Era a última chamada do voo para o Rio Grande do Sul, dei um último abraço na minha mãe e caminhei em direção ao avião, depois de sentar no meu assento, desliguei meu celular e tentei relaxar, embora uma viagem tão longa fosse cansativa. Um garoto loiro, que aparentava ter uns 16 ou 17 anos, sentou-se ao meu lado, e colocou seu cinto, o que me fez lembrar de colocar o meu, ele sorriu para mim e perguntou para onde estava indo, pois o voo não era direto.
    Ficamos conversando antes do voo decolar, e depois continuamos, descobri que ele se chamava Scott e era um canadense filho de uma brasileira, e estava indo morar com sua mãe em Curitiba, que ainda sim era no sul, então quem sabe poderíamos nos encontrar pelo Brasil, ele tinha 17 anos e queria fazer biologia.
   Quando permitiram ligar o celular, coloquei uma música calma e fiquei ouvindo com meus headphones, não via a hora de chegar logo ao Brasil, mas está viagem parecia a coisa mais longa pela qual já havia passado. A aeromoça costumava vir servir algum lanche, que era consideravelmente bom. A esta altura já sentia tanta saudade do meu lar, ou meu antigo lar como devo chamar agora.
    O avião finalmente pousou depois de inúmeras horas que pareciam intermináveis, me despedi de Scott enquanto pegava minhas malas no desembarque e fui ao banheiro checar se minha cara estava boa, retoquei o batom, passei um rímel e ajeitei o cabelo, saí pelo portão de desembarque empurrando as malas no carrinho enquanto meus olhos procuravam atentamente qualquer sinal de meu pai. Estava quase desistindo, considerando que já havia no mínimo quinze minutos que o procurava, liguei meu celular mas parecia demorar um século só para desbloquear, até que ouvi alguém me chamar, olhei para trás e vi meu pai, ele estava bonito, com uma calça jeans e uma blusa social, ele me ajudou com as malas e ficamos calados enquanto pagava o estacionamento e colocava toda minha bagunça em seu carro. Entro e coloco meu fone e depois o cinto de segurança, sua casa era um pouco distante do aeroporto, então demoraria um pouco.
- Como foi a viagem filha?- ele me olha com um sorriso tranquilizador.
-Foi cansativa, mas finalmente cheguei. Vai demorar muito para chegarmos?
- Não, provavelmente estaremos em casa em cinco minutos.
-E como anda sua nova família?
- A Suzi está ansiosa para te conhecer, ela é minha atual esposa, e tem dois filhos: Bruno e Carolina, são ótimas pessoas, mas acho que se dará melhor com o Bruno por serem da mesma idade.
-Da mesma idade?
- Sim, ele estudará com você, espero que te ajude a se adaptar a nova escola.
   Ficamos calados novamente, até que chegamos e tiramos minhas malas com cuidado, pois eram realmente muito grandes e pesadas. Ao olhar para sua casa, percebi que era bonita, apesar de simples.

Meu meio irmãoOnde histórias criam vida. Descubra agora