Capítulo III

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Não havia nada de estranho naqueles jovens. Ninguém aparentava a presença de algum "poder" em especial. Devia haver mais de sessenta, e eu não conseguia enxergar nada de diferente neles, a não ser um ou outro par de olhos de cor exótica. Todos ainda observavam a ilustre presença um tanto quanto animalesca da diretora. Ela usava óculos de armação redonda e um vestido preto que cobria seus pés. Os olhares a ela eram de admiração, respeito e paciência. Sua presença era imponente e pude ver seus miúdos olhos por detrás do óculos analisarem tudo á sua volta. Seu olhar pousou em mim, e uma de suas sobrancelhas levantou. Todos da mesa me olharam e me senti murchar, cada vez mais. Ser extrovertida nesses momentos não resolvia muita coisa.

-Justin.- a Srta. Hulten chamou o garoto, que não pestanejou em levantar e ouvir as instruções da diretora ao pé do ouvido.

Todos da mesa começaram a cochichar, olhando para mim. Se alguém ainda não tinha notado minha presença, a partir daquele momento notariam.

-Jennevive Bates, por favor, nos acompanhe.- Justin disse. Eu quase não reconheci seu timbre de voz, que antes era casual e descontraído, e passou a ser sério e formal.

A sala toda estava em um completo silêncio, Emmily se afastou para eu me levantar da cadeira e seguir os dois escada acima. Pude sentir todo os olhares pousados em mim e minhas bochechas queimaram. Srta. Hulten subia degrau por degrau, vagarosamente, e em um curto espaço de tempo, eu já estava apenas um degrau abaixo de Justin. Finalmente chegamos ao segundo andar da casa, onde viramos alguns corredores e chegamos á escada em espiral. Srta. Hulten parecia subir com mais afinco, talvez porquê nessa aventura de subir escadas barulhentas levamos uns três minutos. Ao chegarmos ao piso superior, o ar de meus pulmões de repente sumiu. Todo o cômodo era de madeira, e a parede oposta á escada era inteira de vidro intercalando algumas vigas de madeira que sustentavam o forro também de madeira. Em um canto, havia uma gaiola consideravelmente grande. Talvez fosse aonde ela dormia, o que era estranho para eu pensar, já que a ideia de "pássaro-humano" ainda era nova para mim. Em todas as outras paredes haviam infinitas estantes lotadas de livros. O piso era de uma madeira clara e contrastava com um tapete vermelho que dava inicio a uma mesa, onde havia diversos papéis e livros sobre ela.

Srta. Hulten se sentou na cadeira detrás da mesa e fez um gesto para que eu me sentasse na cadeira á sua frente. Justin a puxou para mim e logo se sentou ao meu lado.

-Você se parece muito com sua mãe.- foram as primeiras palavras de Srta. Hulten diretamente para mim.

Ela me olhava pensativa com aqueles olhinhos pequenos por detrás dos óculos de armação redonda.

-Creio que sua mãe deve ter te contado algo, você não parece tão...confusa.- ela disse, arqueando uma das sobrancelhas.

Balancei a cabeça em sinal afirmativo. Eu sabia o que eu era, eu sabia o que eles eram. Mas ao mesmo tempo eu desejava que tudo fosse só um sonho ou um delírio. Aquela casa, aqueles jovens, dezenas deles! Todos igual a mim. Pelo menos na teoria.

-Acho que ela não sabe de tudo, Srta.- disse Justin, me olhando de canto de olho. -Creio que deva contar um pouco sobre sua mãe.

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