Acordei com o leve balançar do carro. Esfreguei os olhos e olhei pela janela embaçada. Subíamos uma colina coberta de grama, onde só havia uma pequena linha de terra em que o carro trafegava. Bem mais a frente, logo acima da colina havia uma casa. Era enorme, com diversas janelas na parte superior e uma varanda na frente. O céu estava negro, com alguns pontinhos de luz aqui ou ali. Já devia ser madrugada, talvez umas duas ou três da manhã, mas havia uma luz acessa na casa, que transpassava pela porta entreaberta. O carro ia se aproximando do topo da colina, e dai pude ver uma silhueta desenhada perto da porta. Era alta, esquia e batia o pé esquerdo ritmadamente no assoalho da varanda. Passamos por um portão baixo feito de madeira que dava inicio ao terreno do casarão. O carro parou logo na frente da varanda, me permitindo analisar melhor a pessoa dona da silhueta. Era um garoto, talvez um ou dois anos mais e velho que eu. Sua expressão era séria e havia linhas de expressão na sua testa. Desci do carro com minha mochila em mãos, ajeitei o cabelo que estava todo emaranhado e caminhei até o casarão. O "taxista" me acompanhou, trocou algumas palavras com o garoto, voltou para o carro e foi embora. Alguns segundos de um silêncio constrangedor até ele dizer a primeira palavra.
-Você deve ser a Jennevive.- ele disse. Sua voz era grossa e suave.
Concordei com a cabeça. Ele pegou a mochila da minha mão e por um instante eu prendi a respiração.
-Deixe que eu leve isso para você. Vamos entrar.- ele disse, já abrindo a porta e iluminando a varanda com a luz que vinha de dentro da casa.
-Ah.-ele completou, suspirando. -Eu sou Justin.-me deu a mão em um comprimento, retribui.
A porta dava para uma sala comprida, com um sofá verde musgo de três lugares, virado para uma mesinha de centro de madeira escura e envernizada. Ele caminhou pela sala, enquanto eu observava cada detalhe daquele casarão.
-Seja bem vinda á escola.- ele disse, se virando para mim e dando um sorrisinho mostrando a parte de cima de seus dentes. -Nessa parede aqui, temos todas as diretoras que a escola já teve, desde 1901. Mas essa daqui...- ele disse mostrando uma parede com diversos quadros pintados a mão de mulheres em poses formais, mas ele destacava uma. Skylar Hulten.- Essa é a nossa atual diretora, Srta. Hulten.
Srta. Hulten, era dela que mamãe estava falando. Eu precisava vê-la imediatamente.
-Será que posso vê-la?- minha voz saiu fraca, e vi sua cara de surpresa. Percebi que não tinha dito uma palavra desde que cheguei, era primeira vez que ele escutava a minha voz.
-Desculpe, ela já está dormindo. Você está um pouco atrasada, não está?- disse com um ar brincalhão. Mas eu realmente não estava no clima de brincadeiras.
-Não pode acordá-la?- eu disse. As palavra saíram mais rudes do que eu esperava, mas eu não ligava.
Ele me olhou por alguns segundos, as linhas na sua testa voltaram a se formar e pude perceber toda sua receptividade indo embora naquele exato momento.
-Não, não posso. Ela fica bem brava quando interrompem seu sono, e acredite, você não vai querer ver ela brava.- ele disse, com um ar muito mais sério do que antes.
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Peculiar
FantasyJenn se vê dentro de um turbilhão de mudanças. Após o sumiço da irmã mais velha, tudo foi de mal a pior, e oito anos depois, descobre que sua vida não era nada do que ela pensava. A explicação para diversos mistérios da sua vida estão para vir á ton...