Capítulo V

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Mais tarde, tive aula de "Controle de Dons", com a Srta. Hulten. Estávamos eu e mais alguns jovens dentro de uma sala inteiramente branca, onde as parede eram de um material fofinho, como almofadas. Em uma parede, havia um vidro, que através dele pude ver uma outra sala, essa bem maior que a caixa branca -foi assim que chamei a sala com paredes almofadadas-. Me senti extremamente sufocada e claustrofóbica com tantas pessoas dentro de uma sala tão minúscula. Srta. Hulten nos orientou até a sala do vidro, onde todos nós coubemos perfeitamente. Mas uma menina permaneceu na caixa branca. Ela parecia calma e confiante. Srta. Hulten se sentou na poltrona e apertou um botão que não pude ver da onde que tinha saído, apenas ouvi o blip. Uma mesa cheia de botões e alavancas surgiu, saindo de dentro da parede. Senti uma vontade incontrolável de apertar todos aqueles luminosos botões e puxar todas aquelas alavancas vermelhas. Srta. Hulten apertou alguns deles, puxou algumas delas e todas as luzes se apagaram. Senti um calafrio na espinha, eu odiava o escuro. Mas de repente, uma luz muito forte surgiu na caixa branca, transpassando o vidro que nos protegia na outra sala. Era a menina, ela estava literalmente gerando luz, seu corpo inteiro brilhava, e mal podíamos ver suas feições. Todos a olhavam com monotoniedade, já eu, estava fascinada. Não tinha visto muitas manifestações desde que cheguei, e essa realmente foi um ótimo começo. A menina levantou o braço e fez um movimento circular, deixando um rastro luminoso em forma de "o". Srta. Hulten apertou um botão quadrado e se aproximou do microfone.

-Tente soltar algumas correntes, Georgia. -ela disse, enfática. Ela estava estimulando sua evolução.

Georgia não parecia mais tão confiante quanto antes. Concentrou todas as suas forças, levantou os dois braços, com as mãos viradas para uma parede almofadada. Mesmo com tanta luz a encobrindo, era possível vê-la fazendo uma careta, como se estivesse canalizando todas as suas forças para esse ato. Finalmente, um rastro amarelo cheio de faíscas escapou de sua mão direita, atingindo uma das paredes, mas não causando estragos. Todos soltaram um leve ooh impressionado, e Georgia parecia ter gostado da reação de todos, pois logo quantos as luzes acenderam e não havia mais luz alguma a encobrindo, entrou na sala com um sorriso vitorioso. Todos a cercaram, parabenizando-a. Parecia ter sido uma grande conquista, pois até Srta. Hulten estampava em seu rosto miúdo um sorriso orgulhoso. A porta da caixa branca se abriu, era Justin, ele segurava diversas pastas e livros. Seus olhos se arregalaram ao ver que havia outras pessoas na sala, e logo tratou de fechar a porta. Mas Srta. Hulten interviu.

-Justin! Que bom que está aqui, faz tempo que não treina conosco, por que não nos mostra um pouco de suas habilidades?- ela disse, se levantando da poltrona.

Seu semblante endureceu, e por um momento mínimo, suas bochechas coraram, mas logo a vermelhidão cessou e um semblante confiante e quase ganancioso irrompeu novamente. Ele entrou na sala onde estávamos, deixou suas coisas e se fechou na terrível caixa branca. Srta. Hulten voltou a se sentar na poltrona, e agora procurava, aparentemente animada, botões para apertar e alavancas para puxar. Justin me observava atentamente do outro lado do vidro, e o encarei em resposta. Ele realmente gostava de se exibir, e isso me irritava muito. Um sorriso no canto de sua boca surgiu, e eu fiquei sem reação, o que não acostumava acontecer normalmente. Poupando os clichês e indo direto ao ponto, Srta. Hulten diminuiu a luz do lugar, deixando tudo em sombras. E novamente, uma luz surgiu na sala branca. Mas dessa vez não era apenas luz, era fogo. Labaredas enormes em laranja, vermelho e amarelo subiam pelo braço de Justin, quase chegando em seus ombros. Todos olhavam maravilhados agora, as chamas refletindo em suas íris, suas bocas entreabertas mostravam que o que eles mais queriam era soltar novamente aquele ooh impressionado. Justin forçou seus braços para frente e soltou uma rajada de fogo direto no vidro. Todos nós soltamos um grito de pavor, como um latido, alto e agudo, mas Srta. Hulten permanecia estática, observando com um sorrisinho no canto da boca.

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⏰ Última atualização: Apr 10, 2016 ⏰

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