Plano

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Maysha acordou com dor de cabeça. Aparentemente havia sido jogada no chão do quarto de qualquer maneira e agora todo o seu corpo doía. Se levantou devagar e observou o ambiente atentamente. Havia uma cama de casal com uma colcha branca, pufes brancos jogados em um canto, nichos que preenchiam toda uma parede, repletos de livros. Uma TV imensa pregada na parede, um vaso de rosas brancas ao lado da porta. Ela correu até a porta, mas esta estava trancada, sem a chave. Desesperada, ela foi até a janela que dava para uma varanda, alta demais para pular, ela percebeu que realmente havia uma piscina circundando a casa e fora isso, havia um vale verde que se estendia até onde sua vista podia alcançar.

Havia outra porta no quarto, esta estava aberta e levava a um banheiro impecavelmente limpo. Na pia havia uma pilha de roupas, calça e blusa branca de algodão, sabonete, shampoo, condicionador, escova e pasta de dente, pente de cabelo e um bilhete.

Volto em breve. Tome banho, você fede.

A assinatura era um risco ilegível. Ela pegou o poema que havia roubado há sabe-se lá quanto tempo e observou que era a mesma caligrafia e a mesma assinatura, ambos cheiravam a canela. Ela odiava canela. Em um estranho impulso ela colocou os papeis em um livro de Hamlet, como se quisesse protegê-los de algo e voltou a vasculhar o quarto. Retirou a colcha da cama, afofou os travesseiros, os pufes, abriu vários livros, em um acesso de fúria atirou alguns pela janela e pelo chão do quarto. Sem sucesso, não havia nada que pudesse ajudá-la.

Frustrada. Essa era a palavra certa. Maysha esperava se encontrar com alguém que fosse ajudá-la a seguir em frente em sua missão e não ficar trancafiada em um quarto na casa de um estranho. Ela precisava do mapa e precisava encontrar suas amigas em madalena, mas não fazia idéia de como fazer isso. Em outro ataque de fúria se jogou contra a porta, repetidas vezes até que sentiu seu braço estalar e desistiu. Horas se passaram. Ninguém aparecia, ela sentia fome e medo. Mais horas se passaram e ela resolveu tomar um banho, pois realmente estava fedendo.

A água era quente e relaxou todo o seu corpo, mas ela não se permitiu demorar e logo desligou o chuveiro. Desembaraçar seu cabelo foi uma luta e escovar os dentes uma alegria, a roupa era confortável e ela só sentia vontade de comer algo e dormir, mas não podia se dar a esse luxo.

Assim que saiu do banheiro se deparou com o estranho homem sentado na cama. Ele usava a mesma roupa do dia anterior e folheava um livro que provavelmente fora pego no chão.

__Vejo que se divertiu. – Disse ele apontando para a bagunça no quarto. Sua voz era surreal, como se estivesse muito distante ou dentro da cabeça dela. Seus olhos não apresentavam nenhuma expressão, mas Maysha sentiu que ele estava menos hostil.

__Você me nocauteou. – Foi a primeira coisa que lhe veio a mente e sua voz soou frágil, assim como ela era. Com passos rápidos, ele logo estava na frente dela e a garota pode sentir o cheiro de canela e apesar de odiar, ela percebeu que não era tão ruim assim. Ficaram parados se encarando, como se nenhum deles quisesse quebrar a tensão, até que ele envolveu o pescoço de Maysha com uma mão e apertou levemente. Ela não se moveu, estava em transe.

__Eu teria te matado se Ana não me dissesse para não o fazê-lo. –Com a mesma rapidez de antes ele voltou para a cama e se sentou, cruzando as pernas de forma elegante.

__Ana? Você conhece Ana? –Maysha quase gritou, saindo de seu estado de choque.

__Conheço, vou te ajudar e você vai sair da minha casa. Não me faça perguntas e tenha paciência, eu tenho negócios a resolver antes de começar a participar dessa história maluca que a deusa inventou. -Ele lhe lançou um olhar de desprezo e saiu do quarto trancando a porta atrás de si.

Maysha sentiu vontade de ir atrás dele, gritar que queria explicações, pedir para sair do quarto, dizer que estava com fome, mas ao invés disso ficou parada vendo-o se afastar e trancá-la novamente. Ela não sabia como lidar com isso, não sabia onde estava ou o que estava acontecendo. Aceitara participar da missão, mas não imaginou que fosse ficar sem suas amigas e agora ela estava sozinha e com medo. Lembrou-se de Ana dizendo ''não será algo simples, vocês terão que ser corajosas'', ela não havia levado aquilo tão a serio.

Se deitou no chão e deixou que as lágrimas rolassem e que seus pensamentos fossem invadidos pela figura do cara estranho, suas novas amigas, pelos seus antigos amigos, pela faculdade que abandonara, pelos seus pais e pelo cara estranho novamente. Ficou assim por horas, pensando e pedindo a ajuda dos deuses, quando se deu conta havia uma bandeja com frutas, pão, água e suco perto da porta. Ela não ouvira ninguém entrando, talvez tivesse dormido, não importava, ela estava com fome, tinha comida e acabara de bolar um plano.

A maldição da deusaOnde histórias criam vida. Descubra agora