(Narrador autor)
Deena sorriu torto. -Amiga sua?! Mal sei quem é você... -Sou do bem, qual o seu problema em evitar as pessoas? -Difícil achar alguém em quem confiar. Já confiei em muitas pessoas erradas na vida. Ela se acalmou, um pouco. -Me desculpa se pareci um pouco louca. É... é.. Tem sido bem difícil. Acabei de me mudar.. -Eu sei. -Ela questionou com o olhar.-Cidade pequena. Pegou de volta os livros caídos no chão e colocou de volta na pratilheira. -E então, Deena, tem planos na cidade? Se quiser posso te apresentar alguns lugares. Ela hesitou por mais que alguns segundos. -Vou pensar nisso. Bem, eu preciso ir agora. -Não precisa não. -Mas vou. -Ela sorriu sem sutileza e saiu.-Até mais. Deena olhou bem para a rua escura antes de pegar seu caminho. Não conseguia encontrar nenhum táxi. Foi caminhando, não morava tão distante dali. Quando chegou na penúltima esquina antes de sua casa ouviu um ruído. O ruído. Olhou de soslaio para trás e não encontrou nada. Cerrou o punho e lembrou-se da pequena, porém afiada, faca em seu tornozelo. Continuou andando, sem medo. Chegou em sua rua, ousou olhar para trás e encontrou o vazio. Entrou em casa e espiou pela janela. Se sentiu seguida o caminho todo, mas não podia ver ninguém. Foi tomar banho. Despiu-se e olhou no espelho. Doía, queria ser normal. Queria não se sentir perseguida quando não havia ninguém na rua. Queria mesmo que pudesse sorrir para estranhos tentando se aproximar amigavelmente. Queria não sentir tanto ódio, tanta vontade de se vingar daquela que roubou sua vida, roubou sua essência. Socou a pia enquanto a banheira enchia. Prendeu os ruivos fios em um coque desajeitado e entrou na banheira. Sentia um misto de tristeza e vontade de não ser tão problemática. Afundou o rosto na água morna. Fechou os olhos, se concentrou. Enquanto pensava, vieram à sua mente aqueles pensamentos. Ela nunca podia saber se eram memórias ou fantasias, pesadelos. Ela pequena na casa de sua tia, tomava remédios e vomitava. Às vezes surgiam em sua mente imagens daquela velha tia que ela mal se lembrava. A mulher parecia fria, má. Mas Deena não podia se lembrar de nada disso. Não conseguia se lembrar muito bem nada desde a cena do médico dando lhe a notícia sobre a morte de Dylan. As coisas ficavam complicadas quando esses velhos pensamentos insistiam em aparecer, Deena não sabia como reagir. Não sabia o que fazer. No fundo seu coração tentava entender o que alguém que perdeu tudo deve fazer para sobreviver. Enquanto se perdia em incertezas, mergulhada na banheira, ouviu um barulho. Pareciam correntes caindo no chão. Levantou de uma vez o olhou em volta, pupilas dilatadas. Tremeu o corpo todo. Correntes. Engoliu a seco, segurando o choro, e olhou pelo vão da porta entreaberta. Seus lábios tremiam. Encolheu-se, deixou-se ter medo. Passaram alguns minutos e ela levantou da banheira. Abriu a porta, não se importava e molhar o chão. Olhou no quarto, ninguém. Correu na ponta dos pés até o guarda-roupa e pegou a 38. Segurou com força e pôs um cartucho na cama. Olhou em volta, apavorada. Não se importava com sua nudez. Fixou os olhos no corredor a frente do quarto, o qual assistia pela porta aberta. Respirava com dificuldade. Lembrava-se das correntes no tão triste dia. Depois de quase meia hora piscou. Levantou e vestiu um roupão para ajudar com o frio que sentia. Esvaziou a banheira. Ainda segurava a 38. Foi à cozinha pegar um copo de água e quando ia chegar perto da geladeira viu as correntes no chão. Levantou o braço com arma, tremia. Olhou em volta. -Quem está aí?!-Gritou. Não conseguiu conter as lágrimas, jorraram. Olhava para todos os lados. Andou pela casa, procurando. Procurava Amber, seu pior pesadelo. Olhava em volta, sabia que ela estava ali ou estivera ali, apenas ela poderia colocar as correntes ali. Deena tremia, estava em pânico. Mesmo com tanto medo ela já havia imaginado esse momento muitas vezes, encontrar-se com Amber. Sabia que não demoraria. Não achou ninguém. Correu de volta para seu quarto e se trancou. Deitou na cama, exausta. Lutou para manter os olhos abertos, mas dormiu.
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Quem é Deena?
Mystery / Thriller-Talvez ela seja uma daquelas pessoas que precisam viver aos empurrões... Aquelas que precisam de um motivo a mais para descer a rua além da própria gravidade.