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4 Posto Vigília
De manhãzinha, saímos novamente, só que desta vez a pé. Andar pelo Umbral é estranho. Se a
Colônia é uma festa aos meus olhos, o Umbral, com seu ambiente angustioso e depressivo, é para mim uma
visão terrível e horripilante. Sabia que muitos espíritos vagavam por lá, e apiedei-me deles, como também
sabia que muitos ali estavam por gostar, o que achei tremenda falta de gosto, mas temos todos o livre-arbítrio
e cada um gosta de um lugar. Caminhamos horas em fila, todos juntos: D. Isaura na frente, Raimundo no
meio e Frederico no Final; Flor Azul ao meu lado. Não conversamos, íamos em silêncio. Tivemos
recomendações de não conversar, para não sermos notados. Caminhávamos cautelosos pisando em terreno
mais firme, porque há muita lama. Vestimos capas de cor marrom, que vinham até os joelhos, com capuz,
deixando somente o rosto de fora, e calçamos botas especiais. Luíza comentou, enquanto nos vestíamos:
- Por que nos vestimos assim para andar pelo Umbral? Parece tão estranho.
- Estamos somente nos protegendo - respondeu D. Isaura.
- Caso sejamos atacados, as capas nos protegerão. As botas são para dar segurança na caminhada.
Ao caminhar pelo Umbral, entendi o porquê de nos vestirmos assim.
O Umbral é sujo, tem partes escorregadias. As botas nos davam firmeza, e as capas, conforto.
Deslumbrada com o que via, ao dar por mim, muitas vezes estava com os olhos arregalados. Pensei:
"Se estivesse aqui sozinha, morreria de medo, se porventura isto fosse possível". Em certo momento, uma
grande ave voou perto de nós. Assustei-me e abafei um grito que ficou preso na garganta. Mas não fui só eu a
levar o susto, Luíza e Nair aconchegaram-se a Flor Azul, que estava tranqüilo e nos olhava sorrindo. O resto
do caminho fiquei bem perto dele. Fizemos o trajeto em perfeito silêncio e sem problemas.
A claridade é escassa, parecia o anoitecer entre os encarnados. Sem muita neblina ou nevoeiro. De
longe, o Posto parece somente um muro, não se vê nada dele por fora. Ao aproximarmo-nos mais, vimos o
muro cinzento e o portão, parecido com um de madeira, pesado, trabalhado em relevo, bonito e simples.
D. Isaura fez soar a campainha e o pesado portão foi aberto. Entramos no pátio: era quadrado com
poucas flores, em alguns canteiros, a enfeitá-lo, rodeado de pequenas árvores sem muita beleza, parecidas
com muitas que possuem os encarnados. Fomos recebidos pelo seu administrador, diretor ou responsável:
- Boa tarde! Sou Guilherme. Sejam bem-vindos ao Posto Vigília. Por favor, venham comigo,
mostrarei seus alojamentos, pois presumo que queiram descansar.
As Colônias e Postos de Socorro seguem o mesmo horário da Terra. Se na cidade dos encarnados
fossem quatorze horas, ali também era.