5 Samaritanos
No outro dia, logo após a oração matinal, foi dado o alarme. Aproximavam-se os samaritanos.
Continuamos no pátio para esperá-los.
O portão foi aberto e eles entraram.
Vieram em veículos que não há como descrever. Não há condições de transmitir situações idênticas,
porque não são iguais, nos dois planos de vida. Só posso transmitir semelhanças de estados psíquico e
espiritual. Podem haver semelhanças visuais, mas não fatos iguais no conteúdo externo e interno. Ficamos a
observá-los, menos Joaquim, que foi ajudá-los. Samaritanos são os trabalhadores do Posto que saem pelo
Umbral a socorrer os que querem auxílio. Estavam vestidos, para melhor trabalhar, de botas altas e capas
com gorro de tonalidades do bege ao marrom-claro. Como as que usamos para atravessar o Umbral. Os
socorridos estavam seminus, e os poucos vestidos tinham suas roupas sujas e em farrapos. Apiedamo-nos.
Estavam sujos, com cabelos e unhas grandes. Uns falavam, outros permaneciam como múmias, não se
mexiam, embora estivessem com os olhos abertos e aterrorizados. Muitos gemiam tristemente. Por um
instante entristeci. Ver aqueles irmãos daquela forma era comovedor. Nunca pensei em ver tanto sofrimento.
Muitos apresentavam sinais de torturas. Ficamos em silêncio, parece que por momentos não tivemos vontade
de falar, a cena nos comoveu.
Uma senhora socorrida, ao ver uma das trabalhadoras, exclamou:
Um anjo! Você é um anjo! Socorra-me, pelo amor de Deus! Os socorridos foram levados para uma
enfermaria própria, especial, para serem limpos e alimentados. Depois seriam encaminhados para as
enfermarias e separados, conforme seu estado.
- Por favor, deixem-me ficar com ela!
Um homem segurava a mão de uma mulher, que dormia em pesadelo.
- Providenciarei para ficarem juntos. Obrigado!
Um samaritano respondeu:
Guilherme confirmou o pedido. Ficariam juntos. Normalmente, pelos seus estados, seriam separados.
Mas aqueles dois estavam unidos e o homem, em estado melhor, se preocupava com a mulher, em condições
piores. Notava-se que se amavam. "Ainda bem que ficaram juntos" - pensei.
O grupo de samaritanos era formado por duas mulheres e seis homens. Cumprimentaram-nos sorrindo
e foram guardar os veículos. Em seguida, esses trabalhadores iriam alimentar-se e descansar. Aproximamo-
nos, admirando sua coragem e abnegação. Indaguei a um deles:
- Gosta deste trabalho? Faz isto há quanto tempo?
- Amo ir à procura dos que pedem auxílio em nome de Deus. Fui socorrido por uma caravana como
esta, há quinze anos, neste Posto, e há cinco anos estou nesse trabalho.
- Como se sente a senhora, sendo mulher, num trabalho que exige tanta coragem? - Indagou o nosso
distraído Zé a uma das trabalhadoras, uma moça de seus trinta anos e muito bonita.