Segunda Parte

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Na manhã seguinte ao baile de Netherfield, o sr. Darcy acordou sobressaltado. Tivera um sonho muito perturbador - ele estava casado com a srta. Bennet durante o baile. Lembrava-se perfeitamente dos eventos daquela noite. Dançara uma vez com Elizabeth. Talvez esta indulgência fosse a causa de tão estranho sonho. Ela mencionara Wickham durante a dança e lhe fizera algumas estranhas perguntas na tentativa de esboçar seu caráter. Também se recordava do comportamento abominável da família dela e da insinuação de Sir William a respeito de Bingley e da srta. Bennet. Até então ele não se dera conta de que as atenções de Bingley para com a moça haviam suscitado uma expectativa geral de que os dois ficassem noivos. Mas o pior era que ele não percebera antes a gravidade da situação em que Bingley se envolvera. Seu amigo não deveria voltar a Netherfield, de Londres, este inverno.

Enquanto ele se levantava e tocava a sineta para chamar seu criado pessoal, a mente de Darcy voltou ao sonho. Ele representou uma série de eventos muito diferente do que realmente ocorrera, mas parecia tão real. Ele quase podia sentir Elizabeth em seus braços, o sabor de seus beijos em sua boca, a fragrância de sua pele. Era quase que uma memória alternativa da mesma noite - e uma que ele decididamente preferia. Nunca havia sonhado de uma forma tão intensa.

Lembrou-se de ter mostrado a ela uma estrela cadente. Foi isso - a causa de toda essa perturbação! Na noite anterior ele estivera pensando nela, olhando pela janela, lamentando que ela fosse tão inadequada, lamentando que nunca conheceria o prazer de seus encantos. Foi quando viu a estrela e desejou que pudesse saber como seria tê-la como esposa, embora não pudesse se casar com ela. Um desejo absurdamente impossível que lhe foi concedido na forma de um sonho - seu desejo segurando as rédeas de sua imaginação enquanto dormia. Ele sorriu.

Já vestido, continuou sendo perseguido por seu sonho, o que o impeliu quase inconscientemente na direção da estufa. Ao entrar, seu olhar atravessou o ambiente até a janela no lado oposto. Caminhou até lá, recordando-se de que mencionara seu desejo a Elizabeth. Considerou que, em seu sonho, seu desejo lhe fora concedido como a realidade de estar casado com ela, porém, na realidade, fora-lhe concedido apenas como um sonho. Meneou a cabeça com o pensamento. Não sabia por quanto tempo permanecera à janela, mas quando saiu em direção à porta sua atenção foi atraída por uma roseira plantada em um vaso. Examinou a planta minuciosamente e pôde ver que uma única flor havia sido arrancada de um galho na parte superior. Sentiu uma intensa sensação de assombro se apoderar dele enquanto refletia sobre a estranha coincidência daquela prova diante de si.

Lembrou-se do sonho com a mesma nitidez com que se recordava das ocorrências reais da noite anterior. Ele estivera neste exato lugar, arrancara uma rosa daquele mesmo galho em que faltava um botão, removera os espinhos, e entregara a flor a Elizabeth. Instigado pela lembrança, abaixou-se para examinar o vaso em que a roseira estava plantada. Não havia espinhos quebrados em nenhum ponto do chão ou no vaso. Tinha quase certeza de que a estufa ainda não fora varrida esta manhã. Aquilo o satisfazia - era uma mera coincidência. Alguém, sem dúvida a srta. Bingley ou a sra. Hurst, havia colhido a flor.

Ainda assim, não se contentou e considerou melhor seu sonho, aprofundando-se em sua lembrança. Quando removera os espinhos da rosa, não os jogara no chão. Estava tão concentrado em sua mulher, que simplesmente os mantivera em sua mão. Os dois haviam subido para que ela guardasse a rosa em sua caixa de lembranças. Ali, em seu quarto, ele depositara os espinhos descuidadamente sobre uma mesa enquanto a esperava.

Darcy deixou imediatamente a estufa com toda a pressa que seu orgulho lhe permitia e fez o caminho de volta ao seu próprio quarto. Seu assombro era inexprimível. Sobre uma mesinha próxima à porta encontrou quatro espinhos - exatamente onde os deixara durante o sonho. Pegou-os cuidadosamente, embrulhou-os em seu lenço, e colocou-os no bolso de seu casaco.

Percebeu o quão ridículo isso tudo parecia ser, mas não conseguia encontrar uma explicação plausível para a evidência que acabara de encontrar. Seus pensamentos estavam confusos, tentando discernir o sonho da lembrança verdadeira e a realidade da fantasia. Com Bingley ausente, e sem nenhuma disposição para suportar a companhia dos outros, preocupado que estava, ele decidiu cavalgar nas proximidades de Netherfield.

Saiu galopando, tentando compreender a situação. Devia haver uma explicação racional para a flor que faltava. Alguém poderia tê-la cortado na noite passada ou esta manhã. Era possível. Tinha que ser essa a resposta. Mas por que alguém deixaria os espinhos em seu quarto? Não havia explicação para isso.

É o que acontece por se deixar encantar por uma mulher! Sentia-se como se tivesse perdido toda a sua razão. Cavalgando, tentava livrar-se do vínculo imprudente que criara. Mas o sonho lhe permitira vislumbrar o que seria estar casado com Elizabeth, tê-la para si. Seria tão horrível? Não, havia sido maravilhoso. E não somente abraçá-la e beijá-la, mas o conforto de saber que ela era dele, de ter sua companhia. Seu coração estivera pleno de satisfação e contentamento. Havia até mesmo achado sua família suportável. Talvez fosse hora de parar de pensar no casamento com Elizabeth como uma impossibilidade. Hora de ceder aos seus próprios sentimentos. Estaria pronto para admitir que era amor? Ele o fizera em seu sonho.

Em algum lugar distante de Netherfield, ele ralentou o galope ao longo de um caminho que seguia o rio e, parando, desmontou para permitir que seu cavalo bebesse um pouco d'água enquanto ele caminhava pela margem do rio. Em poucos minutos ele fez uma curva no caminho e teve um súbito encontro com o objeto de seus devaneios. Elizabeth estava sentada sobre uma rocha perto da água com o olhar fixo numa rosa que tinha nas mãos. Uma rosa muito familiar.

Ele sabia que deveria se fazer notar. "Bom dia, srta. Bennet."

Elizabeth imediatamente levantou o olhar na sua direção. Era notório que ela ficara muito surpresa com o seu cumprimento. "Bom dia." ela respondeu, levantando-se.

Ele se aproximou dela, olhando de relance para a flor em sua mão e disse, "Não é época de rosas, srta. Bennet."

"Realmente, não é, sr. Darcy," ela respondeu.

"A estufa de seu pai deve ser especial, parece capaz de produzir rosas sem espinhos."

"Os espinhos foram removidos, e... não temos rosas na estufa de Longbourn."

Ele deu mais um passo em sua direção, dizendo, "Então estou curioso para saber onde conseguiu tal tesouro fora de estação, srta. Bennet."

"Estou igualmente curiosa, pois a encontrei esta manhã dentro de uma caixa onde guardo objetos que me são caros."

Ele a fitou com uma expressão de compreensão quando ela mencionou sua caixa de lembranças, e disse, "Parece-se muito com as rosas de uma determinada roseira na estufa de Bingley."

Desta vez foi o semblante dela que expressou compreensão. Ela simplesmente o encarou em silêncio.

Finalmente ele indagou, "E posso lhe perguntar quantos espinhos havia em sua rosa?"

Ela o olhou com curiosidade, mas em seguida baixou o olhar para a flor para contar as marcas onde anteriormente havia espinhos. "Quatro," ela respondeu.

Ele tirou cuidadosamente o lenço do bolso e o abriu. Ela sobressaltou-se ao ver seu conteúdo, deixando escapar uma breve exclamação de surpresa. "Onde os conseguiu?" ela perguntou num sussurro.

"Sobre uma mesa... em meu quarto. Encontrei-os lá esta manhã."

Elizabeth o fitou e manteve o olhar fixo por um momento antes de dizer, "Já fez um pedido a uma estrela cadente, sr. Darcy?"

Ele simplesmente a olhou e sorriu, "Somente uma vez, srta. Bennet."

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Por favor, deêm uma olhada em uma nova fanfic de Orgulho é Preconceito que estou colocando aqui traduzida.

Sim, eu sei, eu sempre coloco uma. Mas, essa aqui a muito pequena. Já tenho até mesmo os capítulos salvos em rascunho.

Querem que eu poste tudo hoje?

Vislumbre || Orgulho E PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora