Lobo Uivante

Capítulo 1

Seu pai o chamava para o café da manhã. Ainda tinha dificuldade para abrir os seus olhos, mas seu pai continuava a chamar. Levantou da cama esfregando as mãos em seus olhos ao mesmo tempo que colocava sua calça, sua blusa já gasta devido ao árduo trabalho no campo e a mochila de couro preto que sempre levava consigo. Olhou pela janela, e na beira do córrego que atravessava o pequeno pedaço de terra que sua família possuía, avistou seu irmão mais novo Erick, que brincava de arremessar pedrinhas na água. 

Ao perceber, pelo movimento captado pelo canto de seu olho, que seu irmão Cryzq havia acordado, Erick veio correndo para dentro de casa. Quando Cryzq chegou na cozinha, lá estavam seu pai e seu irmãozinho esperando para dar os parabéns pelo seu 18º aniversário. Contudo, esse não era um momento realmente de felicidade e alegria para seu pai e Erick, pois como tradição na cidadela de Niter, onde residiam, os homens ao completarem 18 anos, teriam que escolher se continuariam a morar no vilarejo e trabalhar no comércio local ou nas suas fazendas ou se partiriam em rumo a uma jornada pelo reino. Se escolhessem por trabalhar no comércio local, deveriam escolher uma especialização para seguir, seja ela na marcenaria, na forja, no açougue, na padaria ou no hospital. Já se optasse por uma aventura pelo reino, eles poderiam escolher uma arma da forja para levar consigo e receberiam um pouco de comida proveniente do açougue e da padaria. Cryzq, desde pequeno, já sonha em explorar o mundo para saber mais sobre o paradeiro de sua mãe, que sumiu de casa logo após dar a luz a seu irmão Erick, quando tinha apenas 3 anos.  

Cryzq não conseguia lembrar de nada da sua mãe a não ser o seu sorriso. Um sorriso tão aconchegante que ele poderia passar eras só admirando-o. Com essa lembrança em mente, foi tomar o café da manhã. Tanto seu pai quanto seu irmão, haviam feito presentes para ele. Presentes esses um pouco mais especiais do que comumente recebia, pois essa poderia talvez ser a última vez que fossem se encontrar. Após a refeição, seu irmão Erick foi o primeiro a dar seu presente. Entregou a Cryzq uma pequena estátua de madeira, esculpida por ele mesmo, onde era possível enxergar 3 figuras - Erick, Cryzq e seu pai - e pediu para que guardasse sempre consigo para ele nunca esquecer sua família e que se algum dia ele passasse por um problema muito grande, ele sempre teria um lar para qual poderia voltar. Guardou a estatueta em sua mochila e direcionou-se ao seu pai. Com um sorriso triste em seu rosto, seu pai abraçou-o e em seguida se dirigiu para o lado de fora da casa. Ambos os filhos os seguiram. Pegou um arco que estava encostado na parede externa da casa e pegou uma aljava que suportava 12 flechas e disse:

-Meu filho, eu passei um bom tempo cunhando esse presente para você. Procurei a melhor madeira na região inteira para fazer seu arco e suas flechas, comprei a corda mais resistente que havia na vila e pedi para que o ferreiro preparasse o ferro mais bem temperado que ele conseguia para fazer a ponta de suas flechas para que essas flechas fossem as mais eficazes já feitas. Sou um pobre fazendeiro, não posso lhe oferecer nada de extrema valiosidade, mas esse é o melhor que posso fazer. Nunca se esqueça da sua família e dos princípios que você aprendeu conosco. Que os deuses te protejam em sua longa jornada. Eu te amo.

Com isso, deu mais um forte abraço em seu filho. Cryzq percebeu lágrimas caindo em sua roupa e sentiu um nó se formando em sua garganta. Erick correu para abraça-lo também. Logo os 3 ja estavam chorando, mas Cryzq tinha que partir para o vilarejo antes que ficasse muito tarde. Então se aprontou, colocou sua bolsa em seu ombro, colocou o arco e aljava em suas costas e seguiu em direção ao vilarejo, com os olhos ainda inchados por ter chorado. Andou alguns metros, e pela última vez, olhou para trás e acenou para se despedir de seu pai e seu irmão. Sua jornada acabara de começar.