Capítulo 07

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Bruna estava extasiada em usar pela primeira vez o seu vestido de noiva, feito a mão especialmente para ela. Ela se olhava em frente ao espelho com um sorriso no rosto, com Gaspar a observando por cima dos seus ombros com um sorriso num tanto forçado. E Bruna estava acreditando fielmente que o seu enteado estava melhorando e se acostumando com a presença dela naquela casa. Gaspar avançou uns passos e tocou os ombros de sua madrasta com as duas mãos, sentindo os detalhes do vestido pinicar as suas mãos. Sua respiração saía calma, batendo na nuca dela.
– Te desejo toda a felicidade do mundo. Realmente acredito que você será uma boa esposa para meu pai – falou, sínico, óbvio. No fundo, o que ele mias quer é ver essa vaca longe do seu pai.
    Bruna girou nos calcanhares, com o véu de calda longa roçando no chão. Ela sorri para o enteada e o abraça em seguida, um abraço forte, realmente de uma boa amiga. Ela deu uns tapinhas de leve nas costas do garoto que se olhou no espelho com as sobrancelhas juntas; estava incomodado com o abraço de Bruna. Quando ela se afastou deu um sorriso largo.
    – Apesar das nossas picuinhas no começo posso garantir que serei uma boa madrasta para você Gaspar – sorriu. – Apesar de ter a idade de ser a sua irmã. – dizia enquanto começava a tirar o vestido para por a sua roupa de ficar em casa que estava posicionada em cima da cama, largada de qualquer jeito.
    – Agora que somos amigos queria compartilhar uma coisa com você. Sobre os meus sentimentos – passou a língua nos lábios, nervoso em tocar nesse assunto. Jamais pensou que se apaixonaria rápido demais, e ainda por um estranho na rua, policial, defensor do povo; talvez o homem que pode lhe crucificar um dia.
    Bruna tirou o véu e encarou o enteado com uma expressão de surpresa no rosto.
    – Está apaixonado por alguém? – indagou.
    – Sim – respondeu. – Eu o conheci em Copa, lugar onde tudo acontece. – riu com o nariz.
    Ele não queria se abrir com a mulher que pode virar a cabeça dele e do seu pai de cabeça para baixo a qualquer momento, mas para fazer ela acreditar que ele confia nela vai ter que se abrir com ela, não deixando nada para depois, talvez, contar a profissão dele. Mas ele tem senso o suficiente para saber que, ao revelar que ele era delgado da polícia, estaria colocando o pai e o pai dela na mira dele, então inventaria uma desculpa esfarrapada para despistar sua madrasta.
    – E ele é daqui do Rio mesmo?
    Gaspar acena positivamente olhando para um ferro de passar roupa na lateral do guarda roupa pequeno do quarto.
    – Sim.
    – E o que ele faz da vida?
    Gaspar engole em seco.
    – Bem, ele é um estudante de direito.
    Bruna dá de ombros.
    – Bom saber que você agarrou um estudante de direito. Isso quer dizer que ele tem grana, muita grana, capaz de comprar qualquer coisa que você deseja. Então faça tudo valer a pena, cada minuto, conquiste-o na cama e nos beijos para ele comer bem aqui – dá uns tapinhas na palma da sua mão. – Na  palma da sua mão. – falou em um tom baixo como se fosse uma conversa confidencial, onde ninguém pode escutar.
    Gaspar parou para refletir sobre tudo o que ela lhe disse, mas ele se considerava uma pessoa firme, que não tem ambição e que nunca cogitará em estar ao lado de alguém por interesse, com sede de ganhar dinheiro, como uma mulher de vida fácil que sai da rua com uma aliança de brilhante no dedo dado por um homem que largou a família para poder fazer outra com esta mulher.
    – Eu não sou ambicioso, mas posso tentar ser pelo menos uma vez na vida – coçou o alto da cabeça.
    Bruna sorriu orgulhosa.
    – Faça isso, e nada de ruim vai te atingir enquanto aproveita o melhor da vida que é estar ao lado do homem que você sempre quis – abriu o zíper de trás do vestido de noiva, que deslizou até um pouco abaixo do quadril de Bruna que amostrou um pouco da calcinha fio-dental rosa que ela usava.
    – Bom, agora tenho que ir – Gaspar se levantou da cama e saiu pela porta com ódio de Bruna e suas ambições de se dar bem nas custas dos outros.
    Ele saiu um pouco de casa para espairecer a cabeça, esquecer que o casamento do seu pai está mais próximo do que ele imagina, e o quanto ele vai sofrer em saber que ele colocou uma vagabunda dentro de casa. Um nome que tirou um sorriso do rosto dele logo passou por sua cabeça. Diogo. Ele vai ir atrás dele para tentar fazer de tudo para tirar esse maldito casamento da cabeça. Ele pega uma moto táxi em frente do mercadinho e desceu o morro, ansioso, louco para encontrar o policial para conversar e se aproximar mais dele. Quando chegou em frente ao apartamento onde o bonitão morava desceu da moto e tirou uma nota de dez e outra de quinze, pagando ao moreno que ficava pra cima e pra baixo com os moradores do morro. A moto se foi em velocidade razoável e Gaspar caminhou até o saguão de entrada do prédio, com um teto de vidro onde dava para se ver as pequenas varandas de cada apartamento e uma porta de vidro com dois vasos de plantas, uma em cada lado; ele entra na portaria bem arrumada com um cheiro de lavanda que coçou o seu nariz. Ele girou pelo local encantado, o porteiro usando uma roupa social estranhou aquilo e limpou a garganta chamando a atenção de Gaspar que parou de girar. Se recompôs e limpou a garganta. Ele sorriu para dar aquela impressão de garoto simpático.
    – Boa tarde, rapaz! O que deseja? – indagou o porteiro grisalho e calvo com as mãos para trás.
    – Desejo falar com o Diogo do sétimo andar, por favor! – respondeu.
    – O senhor Diogo não está no momento. Ele tem um grande compromisso com a delegacia, então, caso esteja interessado em encontrá-lo lá... talvez ele lhe receba bem. – sorriu forçado.
    Gaspar estreitou os olhos e abriu a boca para falar algo desagradável, mas uma voz rouca e grave soou pelo local:
    – Não se preocupe, Josefino. Eu estou aqui – sorriu. – O garoto é bem-vindo até nos momentos em que eu não me encontro, confio nele, sei que ele sabe esperar bem. – dizia encarando o porteiro com um tom cordial, mas ainda sim, autoritário. O porteiro assentiu em concordância e voltou para trás do balcão de mármore escuro onde tinha um computador da marca LG é um rádio antigo em volume baixo, onde ele escutava o que deveria ser uma partida de jogo de futebol.
    Josefino se joga na cadeira gasta de girar e pega o jornal dobrado em cima da mesa de madeira onde estava o computador, abrindo na página de esportes.
    – Venha, por gentileza – maneou a cabeça em direção à porta de aço com um quadrado de dois botões no lado direito da parede.
Gaspar o seguiu e ficou bem atrás dele enquanto Diogo apartava o botão de subir do elevador. Por cima dos ombros, Diogo sorri, e Gaspar sorri de volta. As portas duplas metálicas se abrem e ambos adentram no espaço grande com um espelho atrás dele e uma placa de botões com diversos números que eram os andares do prédio.
Um olha para o outro e sorri.
– Como você está? – perguntou pondo as mãos atrás do corpo.
– Estou bem. Com alguns problemas em casa, mas tento ficar muito bem. Às vezes é muito bom esquecer todos os problemas estando ao seu lado, Diogo – respondeu encarando o delegado.
Diogo sorriu e abaixou os olhos para encarar o chão, depois sobe os olhos para a placa escura onde dizia em qual estava. Quando parou no seu andar, o elevador para e faz um barulho sinalizando que chegou no andar desejado; as portas se abrem e os dois saem do elevador, com Diogo em frente tirando o molho de chaves dos bolsos, estava indo até a porta de madeira que ficava no final do corredor de paredes brancas com luminárias floridas que dava um ar sofisticado ao local. Ele chegou em frente à porta e pôs a chave na fechadura, abrindo a porta que dava logo para a sua sala bem decorada com um rack baixo onde ficava a sua tevê de tela plana, o Home-Theater, o aparelho de DVD e alguns enfeites pelas laterais do móvel como gansos de cristais e pratos cerâmicos. O sofá era um L de couro branco e no canto alto da sala tinha uma mesa de jantar com seis lugares.
Gaspar entrou e ficou encantado com a beleza do apartamento, estava boquiaberto e olhando em volta. Digo pousou as chaves na mesa de jantar e olhou para o garoto com um sorriso no rosto.
– Gostou? – sorriu.
– É tudo tão bonito, Diogo. Tão sofisticado e tão incrível – respondeu de forma alegre.
Diogo pensou em uma loucura, mas seria o inicial para ter o garoto na palma da sua mão.
– Eu queria te propor uma coisa.
– O quê?
– Queria que você morasse comigo.
Gaspar enrijeceu e se sentiu surpreso com a proposta num tanto peculiar. E isso fez com que ele estranhasse a pergunta.
– Diogo, nos conhecemos pouco tempo e você me propõe uma coisa tão... improvável. Agora eu pergunto: por que?
    – Você não disse que está com problemas em casa? Então, queria te tirar um pouco desses problemas e dar um lar com paz, sem pessoas desagradáveis em sua volta.
Gaspar o olhou incrédulo. Não acreditava que ele, o seu crush de Copacabana estava sendo preconceituoso dizendo que as pessoas em sua volta eram desagradáveis.
– Você está sendo preconceituoso ao dizer isso! – acusou Gaspar.
– Eu não fui preconceituoso, eu quis apenas ser gentil com você. Mas pelo visto as gentilezas você só aceita dos vagabundos, bandidos – retrucou.
Gaspar revirou os olhos e girou nos calcanhares bufando de raiva.
– Achei que você era um homem de verdade, sem preconceitos, ignorância – murmurou.
Diogo, arrependido do que acabara de dizer, pega o garoto pelo pulso sem machucá-lo e o gira devagar, encarando aqueles olhos claros, sentindo o calor do seu corpo esguio que pedia para ser tocado em cada parte.
– Me desculpe. Fui indelicado em dizer aqueles absurdos para você – disse, arrependido. – Venha morar comigo, por favor. – insistiu sem rodeios.
– Não posso – disse Gaspar.
– Por que? – questionou Diogo.
    Gaspar engoliu em seco e se questionou se falasse ou não falasse. Optou por não falar, tem em mente os perigos de dizer que tem um pai criminoso que vai casar-se com uma vagabunda que está querendo vê-lo mais morto do que ao seu lado.
    – Meu pai é muito zeloso, não me quer morando fora, principalmente na cidade – inventou.
    – Que tal eu conhecer o seu pai – sugeriu com um sorriso.
    Gaspar ficou sem saída e sem palavras para escapar desse cambalacho.
    O que eu faço? Foi a única pergunta que fluiu em sua cabeça.
    – Ele não gosta de conhecer pessoas, Diogo. Não quer que eu namore agora. Ele me disse que eu tenho que focar nos meus estudos e no meu futuro – outra mentira que ele inventou.
    Diogo optou por não insistir mais.
    – Então, vamos deixar para uma próxima. Temos muito que nos conhecer ainda – sorriu.
    Gaspar acenou em concordância.
   

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