Capítulo 17

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 - Um doce por seus pensamentos.- Rafa fala, fazendo me desperta do meu pequeno sonho acordada.

Gostaria de ter coragem de dizer toda a minha historia para ele, mais não tenho coragem. Muito menos confio nele plenamente para contar meu pior pesadelo, somente Thalya sabe que eu já estive gravida e que perdi o meu bebê por causa do Pedro. Me lembro como se fosse ontem, do pior dia da minha vida.

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 - Filha você tem certeza que precisa ir embora tão cedo?- minha mãe pergunta preocupada.

 - Sim mãe, não estou me sentindo muito bem.- minto, para não a deixar preocupada.

Pedro está na sala me esperando com cara de poucos amigos, sei que ele ficou furioso por vê o Rafael aqui, e exigiu que eu fosse embora com ele para casa. Tenho medo do que pode acontecer assim que chegarmos em casa, e não tiver ninguém por perto, mas acho que não preciso me preocupar, desde que eu lhe contei que estou gravida, ele não me bateu mais, e agradeço a Deus por isso.

 - Então está bem, se você não melhorar, pode me ligar, que eu vou com você para o hospital.- minha mãe fala dando um beijo na minha testa e me abracando. 

 - Pode deixar mãe, obrigado pelo o almoço, estava tudo ótimo.- me viro e vou em direção a sala onde todos estão.

Entro na sala de cabeça baixa, não que eu esteja envergonhada ou algo do tipo, na verdade é que eu tenho é medo. Todas as vezes que eu saiu acompanhada do Pedro, eu só ando de cabeça baixa, porque se eu andar olhando para os lados, ele tira a conclusão que eu estou olhando para outro homem, e não importa a idade, estatura física, ou se é bonito ou feio. Aprendi isso na pratica, um dia saímos juntos para o centro da cidade, na volta quando estávamos no ônibus, eu estava distraída olhando pela janela, pensando na vida. E tomando o máximo de cuidado possível para não olhar para nenhum homem, pois já havia tido outras discussões sobre isso. Então toda vez que eu via qualquer homem, eu simplesmente abaixava a cabeça, mas em determinado ponto da viagem eu vi um grupo de três garotos brincando, eles tinham aproximadamente treze anos, e estavam brincando de bicicleta, e eu fiquei os olhando, coisa de cinco segundo, só o tempo do ônibus passar por eles. O restante da volta até em casa foi muito silencioso. Assim que coloquei os pés em casa, Pedro veio pra cima de mim, me dando tapas e socos em todo o meu corpo, dizendo que eu era uma safada, e eu não fazia ideia do que ele estava falando, foi quando ele disse que eu estava olhando para aqueles três muleques na rua e ainda me chamou de pedofila. Tentei argumentar, mais minha situação só piorou, ele me bateu ate a sua mãe que morava ao lado interferir e colocar ele para fora de casa.

 - Pai já vamos- falei dando tchau para o meu pai ao lado do Pedro.

 - Se cuida minha filha, e que Deus te abençoe.

Fomos para casa em silencio, e isso me era um sinal de tempestade a caminho. Temia por mim e pelo o bebê que agora eu carregava no meu ventre. Chegamos em casa e assim que eu acendi a luz do quarto ele entrou e me deu um soco na cara, fiquei tonta e consegui me apoiar na cama, ele montou em cima de mim, e começou a me socar.

 - Para amor, por favor, para.- falo chorando.

 - Sua puta, você acha que eu não vi você olhando para aquele amiguinho do seu irmão. Eu quase que parti pra cima dele, ele merecia um tiro bem no meio dos miolos, aquele filho da puta. Sua vadia, ele não tirou os olhos de você durante todo o maldito almoço. O QUE VOCÊ TEM COM ELE? COMO EU VOU SABER SE ESSE FILHO É MESMO MEU? SUA PUTA.

 - Eu não tenho nada com o Rafael, por favor acredita em mim.

 - Até o nome dele você fica chamando.. sua puta.- e me jogou no chão aos gritos.

Já no chão, ele começou a me chutar, e uma dor enorme se formou na minha barriga. Me mantive em posição de feto, tentando proteger aquela vidinha dentro de mim, e aos poucos fui perdendo a consciência, aos prantos.

Acordei com uma dor enorme, e deitada em uma poça de sangue, meu sangue. Olhei ao redor do quarto, e não vi ninguém, com muita luta e dor, me arrastei até onde meu celular estava e liguei para a Thalya.

 - Bruna, a quanto tempo.- minha amiga fala do outro lado da linha.

 - Socorro, Tha por favor, me ajuda.- consigo falar com a voz fraca, quase inaudível.

 - BRUNA, onde você está? O que aconteceu?

 - Estou em casa, por favor, não conta pra ninguém, eu te imploro.- só consigo dizer isso, e a escuridade me leva de novo.

Me vejo em uma clareira muito clara, linda, toda cheia de flores de todos os tipos, e vi uma menininho lindo, bem gordinho, de aproximadamente cinco anos, todo vestido de branco, com seus cabelos castanhos, olhos escuros e duas assas.

 - Olá mamãe.- o menino diz se aproximando de mim

 - Quem é você?- pergunto confusa.

 - Já se esqueceu de mim?- pergunta divertido, com seu jeitinho inocente.- Eu estava com você até agorinha, mais Deus falou que eu vou ter que ir morar com ele agora. Disse que eu vou ser um anjo agora.- fala e me dar um sorriso tão branco e lindo.

Não falo nada só começo a chorar por constatar que eu realmente perdi meu bebê, que agora descobri que seria um menino, um lindo menino. Choro copiosamente, e o menino vem até mim e me abraça.

 - Desculpa mamãe, mas eu não conseguir ficar mais ai com você. Eu te amo, e sempre vou lembrar de você lá em cima.  Não fica assim triste, não quero ver a senhora triste, eu te amo, e quero ver você feliz.

Suas palavras me trouxeram uma paz, um conforto, que nesse momento eu precisava.

 - Eu sempre vou te amar.- falo lhe dando um beijo na testa.

Queria ficar ali, naquela clareira, com aquele sentimento de paz, não quero mas voltar para a minha maldita vida.

 - Bruna, acorda, por favor amiga, volta.- sou trazida de volta a realidade com a minha amiga me chamando.

Aos poucos abro os meus olhos e vejo que estou na ambulância com alguns aparelhos ligados ao meu corpo, e minha amiga olhando para mim.

 - Graças a Deus, você acordou, o que aconteceu Bru?

 - Tha, não fala para ninguém, por favor, me promete. Eu te imploro.- peço.

 - Bru, você não pode me pedir isso.

 - Eu te imploro pela minha vida. Por favor.- peço, já voltando a chorar.

Meus batimentos começaram a subir significadamente, e um paramédico me deu um medicamento para me acalmar.

Eu não queria que meus pais soubessem disso, por que não queria os preocupar. E seria uma humilhação muito grande alguém saber disso. Não queria me expor dessa maneira.

 - Tudo bem amiga, eu prometo.- falou, e meus olhos tornaram a se fechar.

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 - Só estava admirando o por-do-sol. Nada de mais.- falo sem olhar para ele, e limpando discretamente uma lagrima.

 - Tudo bem.- ele para por um instante e pergunta.- Bruna, o que significa essas duas assas que você tem tatuado no pulso?

Olho para o meu pulso, lembro do seu significado daquela pequena tatuagem, e do que me motivou a faze-lá.

 - Essas duas assas significam um grande amor que eu perdi.- paro, ponderando o que eu diria dizer a seguir.- Um ser que se encontra com Deus no momento.

 - Você deve ter amá-lo muito.

 - Sim, mais que tudo na vida.- digo.


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