Capítulo 1

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Se tem uma coisa que eu odeio no domingo é que eu acordo de ressaca e, meus pais chegam da igreja praticamente as dez da manhã depois da escola dominical, a onde eles aprende sobre blábláblá da bíblia que não me interessa. Desde quando eu nasci meu pai é pastor, tecnicamente eu cresci na igreja, até um certo momento da minha adolescência- vulgo colegial, ou ensino médio, sei lá como vocês chamam isso- não foi algo que eu decidi do dia pra noite, eu não acordei e disse "a partir de hoje vou parar de ir na igreja" não, muito pelo contrário, foi devagar, eu só comecei a sentir que não valia mais a pena para mim estar ali, não sentia mais nada em relação a Deus, sei que ele existe, por isso estou aqui, mas a verdade é que eu não vejo mais valor nenhum em continuar dizendo que ele significa algo para mim.

Abri meus olhos lentamente me acostumando com a claridade invadindo o meu rosto, me sentei na cama lentamente e no mesmo ritmo coloquei meus pés para fora da cama calçando minhas pantufas pretas e lisas, mas confortáveis. Andei até o meu banheiro tropeçando nas roupas que estavam espalhadas pelo quarto, abri a porta me despindo e tomando um banho relaxante, deixando todos os vestígios de uma noite badalada indo junto com a água pelo ralo, desligo o chuveiro me enrolando na toalha. Volto para o meu quarto e troco de roupa, colocando um shorts jeans desfiado e uma blusa comprida que eu ganhei do meu pai- que confessando eu dei uma rasgada nas laterais, nada muito vulgar já que eu uso top, quando estou com ela, mas aquelas mangas me irrita- e meu all star inseparável e sujo.

Andei até o gigante espelho que eu havia pedido para o meu pai tirar do porão e colocar no meu quarto, me olhei tentando achar uma boa aparência ali, mas nada encontrei, apenas um par de oleiras embaixo dos meus olhos, e tensão no pescoço que eu juro que estava nítida, também a minha magreza, eu até diria que é por causa da dieta que devo seguir por conta dos treinos, mas isso seria uma mentira horrível já que não sigo e todo mundo sabe disso, então a verdade da qual eu corro, é que eu de fato estou assim porque estou adoecendo. Não é nenhuma doença séria, é só o meu psicológico reagindo no meu físico, as dosagens altas de álcool nas bebidas alcoólicas, ou as vezes que eu danço até sentir meus pés fraquejarem e meu corpo se lançar ao chão, ou as vezes que me enfio no meio da multidão só para fugir do momento em que eles começam a se drogar. Não posso e não vou dizer que em nenhum momento eu não ingeri droga, porque já peguei incontáveis copos com líquidos de cores diferentes ou com algo preso no fundo, se eu tiver sorte finjo que eu engulo, caso o contrário, sou obrigada a engolir, como ontem. Também conta questão de alimentação, além de não seguir a dieta da nutricionista da escola, como tudo quanto é tipo de gorduras e recheios doces, então por conta desses fatores, meu corpo em vez de inchar e me transforma em uma baleia, não, começo a emagrecer.

Tiro esses pensamentos da minha mente e pego uma escova de cabelo jogada no chão e passo nos meus fios e os desembaraçando, pego meu lápis de olho preto passando na minha linha da água e delineando meus olhos. Pego meu óculos escuro e prendo na minha blusa, saio do quarto descendo as escadas e já podendo ver minha mãe com varias sacolas na mão.

-Oi!-digo baixo, ela se vira sorrindo.

-Oi querida!- sorriu fazendo aparecer ruguinhas nos olhos, é de família, seus olhos verdes demonstrava cansaço e alegria ao mesmo tempo- Não te vi chegar ontem!

-É cheguei muito tarde... -disse e ela abaixou o olhar.

Amo minha mãe, cada detalhe dela, desde os olhos verdes cativantes, até os esforços e pulinhos que ela dá para entrar em uma calça jeans de um número menor que o seu, mas que ela insiste em usar, ou das vezes que pedimos um prato especial no domingo e ela faz. Ou quando está cantando- extremamente alto- e mesmo assim é perfeito, das vezes em que ela vem toda carente querendo abraço e de repente me dá um tapa e sai rindo, ou quando começa a gritar pelos quatro cantos da casa xingando satanás e dizendo que ele é um imundo, só porque a fez perde a paciência. Ou as vezes em que eu deveria apanhar e tudo o que ela faz e me lançar um olhar triste. Sinto que ela e meu pai desistiram de tentar me levar para igreja novamente, é como se o fato de eu ir para festas e namorar o Jasen não é algo pra se preocupar.

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