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-Eu preciso de o ver.-A senhora apenas disse, enquanto eu a levava para fora do edifício para a mesma apanhar ar.

-Eu não...não sei o que é que você...ahm...-Eu tropeçava nas palavras enquanto abria a porta principal e a deixava passar mais as suas intermináveis lágrimas.

-Ele está bem?-Questionou com uma réstia de esperança, encostando-se à parede de fora do prédio.

-Já tinha dito que está em coma.-Repeti, franzindo o sobrolho sem saber se devia dar um murro àquela mulher por o ter abandonado, ou lhe dar um abraço e acreditava na palavra dela.

Ela engoliu em seco, tentando controlar as lágrimas e olhando para o céu, fechando os olhos de seguida.

-Leva-me ao hospital.-Pediu num murmúrio controlado.-Eu preciso de o ver.

-Com o devido respeito, acho eu, mas eu não a conheço de lado nenhum.-Respirei.-Podemos nem sequer estar a falar do mesmo Michael.

-Michael Gordon Clifford, ficou sem a mãe quando era pequeno. Não coincidências a mais?-Questionou e eu apenas encolhi os ombros.-Já alguma vez viste uma foto dele de quando ele era mais novo?

-Uma vez ele mostrou-me.-Respondi e a senhora retirou o seu telemóvel do bolso, mexendo um pouco nele antes de virar o ecrã para mim.

-É remotamente parecido?-Engoliu o choro enquanto eu analisava a imagem um pouco chocada.

-É ele.-Murmurei, encarando a senhora que, de repente, me pareceu extremamente parecida com o meu amigo.

E ela limpou as pequenas lágrimas que começaram a cair no seu rosto, enquanto soluçava silenciosamente.

-O que é que aconteceu de verda...-Fui interrompida.

-Leva até ao hospital, por favor.-Implorou com uma expressão lastimável enquanto os seus olhos verdes ganhavam mais cor e a sua cara ficava cada vez mais avermelhada.-Eu preciso de ver o meu filho.

O meu estômago deu uma volta quando ela pronunciou aquilo, não sei se foi por ela ter finalmente dito concretamente quem era (apesar de eu já ter um palpite), ou porque a tristeza dela estava a fazer-me sentir mal, só sei que acenti e a levei comigo até ao carro.

A viagem foi passada num silêncio puro e triste. Eu fazia cenários na minha cabeça do que se podia estar a passar mas nenhum deles parecia plausível o suficiente. Por vezes olhava para a senhora ao meu lado e via os seus olhos encarando a estrada para além da janela enquanto as lágrimas escorriam no seu rosto. Deduzi que estivesse a pensar naqueles anos todos em que não estivera com o seu filho mas faltou-me a coragem para lhe pedir respostas às minhas questões.

Senti que ela era culpada, culpada da tentativa de suicídio. Se ela estivesse lá para ele, haveria uma grande hipótese dele não ter feito aquela parvoíce. Por outro lado, não sabia como é que ela era, qual a sua história ou motivos, não a podia julgar.

Passei a viagem até ao hospital em silêncio e com as palavras "eu juro que não o abandonei" a ecoar na minha mente sem se encaixarem em nenhum dos cenários em que eu pensara, fazendo-me ficar mais confusa.

Mal estacionei o carro, ela apressou-se a abrir a porta e a sair, indo rapidamente em direção àquele edifício deprimente e entrando sem esperar por mim. Apressei um pouco o passo, abrindo a porta mal lá cheguei, e reparando na senhora loira em frente ao balcão falando nervosamente com a rececionista.

Caminhei até lá enquanto inventava uma desculpa plausível para deixarem aquela senhora entrar, pois achava que aquela história toda não só fazia pouco sentido como as enfermeiras pensavam que o Michael não tinha família. Mas quando cheguei ao local, já estava a suposta mãe dele com o bilhete de identidade na mão secretária que o que ela estava a dizer era verdade.

New Streets || Luke HemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora