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-Achas que está a dizer a verdade?-O Luke perguntou, pousando a jarra com sumo de laranja em cima da mesa.

-Pareceu-me demasiado real para ser mentira.-Admiti, mal ele se sentou na cadeira à minha frente.

-Afinal ele tinha família que se importa com ele.-Suspirou ele, pegando no pão fresco que estava pousado à sua frente.

-Ela estava num desespero horrível. Se for mesmo verdade, o que acho que é, não consigo imaginar como se deve estar a sentir.

Comecei então a comer o pequeno almoço que o Luke preparara para nós, acordando mais cedo nesse domingo para ter tudo pronto para quando eu acordasse. Foi um gesto muito querido e a minha culpa aumentava de momento para momento.

-Só não percebi como é que a encontraste.-Ele falou e o meu coração começou a acelerar.

-Eu encontrei-a num grupo de apoio.-Respondeu, minimizando a resposta, apesar de saber que teria de contar.

-Pensava que já não ias ao grupo de apoio.-Reparou ele, sem dar muita importância ao assunto.

-Não era o meu grupo.-Respondi e a voz saiu-me mais fraca, fazendo-o olhar para mim com o sobrolho ligeiramente franzido.-Eu fui..fui a um grupo de apoio para pessoas que perderam os filhos e a Karen estava lá.

-Porque raio é que foste lá?-Questionou.

Foi das poucas vezes na minha vida em que eu perdi a fala por medo da reação de alguém. Não sabia porque é que aquilo me estava a afetar ao ponto de eu não conseguir falar. Por isso, passados uns segundos de olhares confusos do Luke direcionados a mim, contei rapidamente o que se tinha passado, como se arrancasse um penso rápido:

-Eu fui ver a tua mãe, combinei com o Jack para tentar que ela te perdoasse.-Ele não disse nada e apenas me encarou. Não suportei silêncio que se tinha instalado, por isso continuei:-Desculpa, ok? És importante para mim e eu não me contento com a tua infelicidade que manténs escondida de todos só para não magoares ninguém. Mas é tarde demais, essa tristeza magoa-me a mim e eu...não desisto, sou teimosa até dizer chega, irritante como o raio! Sou quem sou, lida com isso!

Encolhi os ombros e fiquei a encará-lo. Não consegui decifrar o seu olhar latejante que me fulminava. Estava a senti-me um pouco desconfortável até, por isso levantei-me, indo lentamente em direção à saída da cozinha.

Estava quase a chegar à porta quando sinto uma mão a pegar no meu braço.

Virei-me rapidamente, sendo surpreendida por um abraço apertado do Luke. Os seus braços estavam à volta da minha cintura e eu coloquei os meus à volta do seu pescoço.

Ficámos assim durante um bocado, enquanto um conforto crescente invadia o espaço.

Ele afastou-se um bocado de mim, encarando-me olhos nos olhos. Nem tive tempo o suficiente para avaliar o seu profundo olhar, ou para sentir que aquele momento era minimamente constrangedor, pois, depois dele revirar os olhos e lançar um pequeno sorriso, os seus lábios colidiram com os meus.

Correspondi um pouco ao beijo, antes dele se afastar um pouco e me voltar a encarar com o seu olhar indecifrável.

-Podemos falar sobre o que aconteceu quando foste lá?-Perguntou num tom triste.

-Pensava que não querias saber.-Respondi.

-Não, não pensavas.-Ele lançou um mísero sorriso antes de se afastar e de se voltar a sentar à mesa.

-Ela disse que apenas quando pudesse transmitir estabilidade, podias voltar para lá.-Expliquei, sentando-me à frente dele.-Eu pensei nisso, e realmente tu andas escondido. Disfarçado de Albert e sei lá o quê. O Michael também estava nas drogas e ele não se escondia, porque é que o fazes?

New Streets || Luke HemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora