Capítulo 02

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Por algum milagre Deus estava a meu favor aquele dia, tanto é que Marcelo e seu melhor amigo, Victor, decidiram sentar bem a minha frente, fazendo com que as quatro horas de viagem de Pirassununga até o Guarujá fossem sinônimo da palavra paraíso.

Marcelo tinha um sorriso fácil e havia uma semana que o aparelho ortodôntico saiu de seus dentes, e se eu já amava seu riso antes, agora essa era pra mim a oitava maravilha do mundo. Ele também possuía o dom de fazer qualquer um ao seu redor rir, era amigo de toda turma, até mesmo os professores o amavam. Eu costumava acreditar que Marcelo era envolto de mágica, pois não compreendia o tamanho encantamento que eu nutria por esse menino. Foi por isso que, desde o dia em que eu comecei a ter sentimentos por ele, ao fazer o percurso da escola para casa tirava uma flor do jardim da escola e arrancava as pétalas, numa tentativa idiota de me convencer de que Marcelo gostava de mim. Mesmo quando ele e Mariana começaram a namorar, e meu coração se quebrou em mil pedacinhos, não perdi a esperança.

— Você está bonita hoje, Rebeca!

Minha atenção correu direto para o dono da voz, e conhecendo cada pedacinho do Marcelo, apesar de não estar olhando, sabia que não era ele. No momento que minha visão captou o rosto de Victor, revirei os olhos. Diferente do melhor amigo, Victor era um pé no saco. Fazia parte daquele bando que jogava bolinha de papel no meio da aula, levou mais suspensão do que era permitido e só não foi expulso do colégio porque seu pai era o dono. Você já viu, ele era um desses... Não conseguia entender a graça que Marcelo via nele, pois se aquela frase "Os opostos se atraem" estivesse certa, Victor e Marcelo eram o melhor exemplo.

— Vai encher o saco de outra, menino. — retruquei.

Giovana foi a primeira a começar a rir, seguida por Marcelo e quando sua risada alcançou meus ouvidos, parei de escutar toda a cacofonia que preenchia o ambiente e só consegui ouvir o magnífico som da sua gargalhada. O som mais bonito que eu já havia escutado. E não consegui manter a cara fechada por muito tempo, deixando brotar de mansinho um sorriso nos meus lábios.

— Mas você está mesmo. — contestou Victor. — Será que é o novo corte de cabelo?

— Eu não cortei o cabelo. — retorqui.

— Mas... — ele inclinou a cabeça para o lado, concentrado em algum ponto da minha cabeça. — Ah, já sei! Você pintou o cabelo de preto!

Levantei as sobrancelhas, pega de surpresa pela sua resposta.

— O cabelo da Rebeca era castanho escuro — disse minha amiga — Como é que você reparou nisso?

Victor deu de ombros.

— Eu só percebi algo de diferente nela. — respondeu ele. — Mas po, Rebeca, você ficou muito bonita, não é, Marcelo?!

Giovana cutucou minha perna e eu abaixei a cabeça por dois segundos antes de tornar a olhar os dois garotos a minha frente.

Marcelo tinha um sorriso de lado no rosto.

— A Rebeca é bonita sempre. — disse por fim.

Eu senti meu coração subir pela garganta, sair pela minha boca e cair na mão dele. Nunca tive a autoestima baixa, mas me considerava uma garota normal e ouvir da boca do Marcelo que ele me achava bonita era como se eu tivesse acabado de ganhar o Oscar no lugar do Leonardo DiCaprio — esperava por esse momento há anos.

Bem me quer... [conto]Onde histórias criam vida. Descubra agora