Capítulo 04

67 8 21
                                    


A não ser pelos alunos do último ano do colégio São Francisco de Assis, a praia estava vazia. Meus olhos percorreram o ambiente tentando encontrar em meio a tantos rostos conhecidos um em especial, e quando não obtive sucesso fui me juntar com o pessoal da minha sala perto da fogueira. Nunca tinha estado em um luau antes, então presumia que a fogueira era algo de praxe, uma vez que, com o calor que estava fazendo naquela noite, ninguém iria precisar de fogo para se aquecer.

Embora eu estivesse rindo, bebendo e aparentemente, me divertindo, não conseguia parar de pensar "onde é que está o Marcelo?". Ele não perderia esse luau por nada, inclusive, quando recebemos o itinerário da viagem, ele se mostrou muito empolgado.

Percebendo minha agonia, Giovana veio me dar consolo, não que eu precisasse, afinal, não estava triste, só decepcionada por meus planos não terem tido sucesso.

— Ele ainda vai chegar, amiga. — disse ela, passando o braço pelo meu ombro. — Quase ninguém chegou ainda.

É claro que Giovana só estava dizendo aquilo para me fazer sentir melhor, uma vez que, o luau na verdade já estava quase no fim, ou seja, todo mundo havia chegado a essa hora. Ignorei minha amiga e sai caminhando pela praia, deixando meus pés serem molhados pelo mar fresco da noite.

Vai ver ele teve uma dor de barriga daquelas que o impediu de deixar o quarto, ou era alérgico a areia... Nunca se sabe, hoje em dia tudo é possível. Ou ele apenas não estava a fim de vir, a viagem de ônibus já foi cansativa o bastante.

Enquanto bolava desculpas ridículas para Marcelo na minha cabeça, avistei Mariana sair de trás das pedras rindo e de mãos dadas com alguém. Alguém que eu conhecia dos pés a cabeça, alguém que eu havia decorado até o jeito de andar. Porém isso só durou um instante, porque no segundo seguinte minha visão já estava embaçada com as lágrimas que brotavam nos meus olhos.

Eles tinham terminado!

Ele disse que me achava bonita.

Ele passou a viagem toda me lançando olhares.

Ele... Ele...

— Ei, Rebeca. — alguém disse na minha frente e precisei piscar várias vezes para focalizar a imagem da pessoa. — Você bem?

— O... oi, Victor. — gaguejei e forcei um sorriso. — Eu to bem sim.

Ele virou a cabeça para trás, seguindo onde meus olhos estavam há poucos minutos.

— Ah — murmurou, voltando a me encarar. — Pelo visto você já viu que eles reataram.

Engoli um caroço na garganta.

— Sim. Eles formam um casal muito bonito!

Victor fechou os olhos por uns dois segundos enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro.

— Não precisa mentir, eu sei.

— Sabe o que? — perguntei na defensiva.

— Todo mundo sabe, Rebeca. — continuou ele. — Está na sua cara que você é apaixonada pelo Marcelo.

Dito isso, minhas lágrimas despencaram sem vergonha e eu as acompanhei, caindo de bunda na areia fofa sem me importar que as pessoas vissem, afinal, eu já era a trouxa da década sendo apaixonada por um cara que nunca nem olhou pra mim.

— Oh, menina! — exclamou Victor, sentando-se ao meu lado. Aproveitei para apoiar minha cabeça em seu ombro e chorar na sua camiseta. — Não vale a pena chorar por isso não.

Não importa quantas vezes eu escute algum discurso feminista dizendo que não vale a pena chorar por garoto, meu coração acabou de se partir ao meio, e não há outra forma de sentir isso que não seja chorando.

— Você é mil vezes mais bonita que ela. Você é a garota mais linda de toda a escola. — Victor continuou com suas palavras motivacionais. — Eu nunca seria burro igual ao Marcelo em preferir a Mariana a você, na verdade, entre todas as garotas, eu sempre preferiria você.

Pega de surpresa por suas palavras, levantei a cabeça aos poucos, limpei as lágrimas que escorriam no meu rosto e encarei aqueles olhos cor de mel que se destacavam na pele morena. Dizer que eu era bonita era O.K, mas preferir eu entre todas as outras garotas? Bom, isso já era comprometedor demais.

— O que foi que você disse? — perguntei.

Victor riu uma risada rápida.

— Exatamente o que escutou. Enquanto você estava cega demais só notando o Marcelo, eu estive esse tempo todo me apaixonando cada vez mais por você.

Meus olhos se estatelaram, e eu não sabia se continuava a chorar ou começava a rir.

Victor apaixonado por mim?

— Mas... Como? Por que?

— Ah, Rebequinha. — ele limpou o que sobrara das lágrimas no meu rosto, e uma nova sensação tomou conta da boca do meu estômago com o toque macio e delicado. — Você é meiga, alegre e sempre disposta a ajudar quem for que precise. Além de ser a pessoa mais inteligente que eu conheço. Eu... — sua mão caiu e tocou de leve as costas da minha que estava apoiada na areia. — Você é incrível, Rebeca, e é a única que não percebe isso.

Sem que eu me desse conta já havia trocado o choro pelo riso, e nem me recordava mais o motivo de tanta tristeza alguns minutos antes. Às vezes tudo que precisamos são o monte de palavras bonitas juntas numa frase.

— Eu nunca percebi que você gostava de mim.

Ele riu.

— É claro, feia do jeito que é, ninguém iria mesmo gostar de você.

Joguei a cabeça para trás, soltando uma alta gargalhada, e quando voltei a olhá-lo ele estava sério de novo, porém eu não conseguia tirar o sorriso estampado no rosto. O Victor sempre foi meio inconveniente e tudo o mais, mas ele sempre me tratou tão bem e... pensando melhor, uma das suspensões que ele tomou foi para me proteger.

Levei um susto quando seu dedo indicador começou a desenhar meus lábios, minha respiração ficou mais pesada e pelo subir e descer do seu peito, notei que a dele também.

— Posso te beijar? — pediu com voz rouca.

Não conseguir pronunciar qualquer palavra, então com um manejar de cabeça deixei que a boca dele encostasse na minha. E a próxima coisa que senti foi o doce sabor do seu beijo.

Vim para essa viagem na intenção de conseguir o amor de um garoto, e o que eu consegui invés disso foi muito melhor.

Às vezes a gente só precisa saber para quem arrancar as pétalas.

Bem me quer... [conto]Onde histórias criam vida. Descubra agora