PEDROApesar de estar estudando em Horizonte do Norte, Agatha ainda vive em Horizonte do Sul e faz o trajeto de quinze quilômetros entre as duas cidades todos os dias.
Eu já imaginava que esse fosse o caso, mas tiro a prova dos fatos quando, durante o primeiro encontro de calouros organizado pelo departamento de Direito, minha ex-namorada me aborda com um pedido incomum:
—Será que eu posso ficar na sua casa esta noite? O meu carro quebrou quando eu estava vindo e os meus pais estão viajando a negócios, então não tenho como voltar para Horizonte do Sul hoje. —Meu primeiro ímpeto é negar e lhe dar a opção de se hospedar em algum lugar ou pegar um ônibus ou o um táxi, mas, como se soubesse que eu estava pensando exatamente nisso, ela emenda: —Já é tarde e é perigoso para mim voltar sozinha em um táxi ou ônibus e não tenho grana para me hospedar em outro lugar, porque tive que pagar adiantado ao mecânico quando levei o carro à oficina mais cedo. Sei que posso estar sendo descabida por causa do nosso passado, Pedro, mas é o único na cidade com quem tenho alguma proximidade e juro que não estou tentando nada. Já aceitei o nosso término. Só preciso dessa ajuda, por favor.
Apesar da ideia continuar me parecendo muito ruim, nunca tive sangue frio e, vendo-a tão preocupada, acabo cedendo.
—Tudo bem. —Suspiro. —Mas eu já estou indo para casa. —Não tenho absolutamente nenhum motivo para ficar mais tempo quando Anderson e Leandro furaram e Gustavo me trocou pelo primeiro rabo de saia que apareceu.
—Perfeito. —Agatha sorri.
Se eu pudesse, a levaria para Horizonte do Sul e me pouparia de mais um problema, mas, além do fato de eu ter bebido duas cervejas, Ricardo viajou e estou sem carro. Por isso, volto a pé com Agatha e a ouço tagarelar sobre o pai estar fechando negócio com uma marca nova para a loja de roupas da família e que essa é a razão de seus pais estarem fora.
Quando chegamos na minha casa, encontramos minha mãe ainda acordada na sala e dona Rosa logo demonstra alegria em ver a ex-nora, porque sempre gostou muito de Agatha.
—Mas o que foi que você veio fazer aqui tão tarde da noite? Não me diga que voltaram! —Os olhos castanhos da senhora Mendes quase brilham com a possibilidade.
—Não, dona Rosa. O Pedro só foi gentil e me ofereceu um lugar para passar a noite, porque o meu carro quebrou e não vou conseguir voltar para casa hoje. —Felizmente, Agatha parece ter falado sério quando disso que superou o nosso término, pois trata de desfazer o mal-entendido. —Espero que não seja um problema.
—É claro que não é, querida. —Apesar disso, minha mãe parece decepcionada. —Só fico triste de não os ver mais juntos como antes, mas é sempre bom revê-la. Está com fome? —Agatha assente, acanhada, e Rosa sorri. —Pois vou esquentar o jantar para você e o Pedro e depois arrumo o quarto de hóspedes para passar a noite, está bem?
Deixo que minha mãe cuide de Agatha e, antes de jantar, sigo para a escada com a intenção de subir até meu quarto e tomar o banho. Todavia, acabo me deparando com Mariana e seus olhos astutos de águia me fitando com visível desagrado no meio dos degraus.
—O que foi?
—Não consigo acreditar que está andando por aí com a maluca da Agatha de novo e que ainda a trouxe para dormir aqui. Por acaso, já se esqueceu o quanto ela distorce as coisas e pode muito bem estar só tentando te fazer cair em seus joguinhos de novo?
Quase reviro os olhos. Embora Mariana esteja certa nas suas desconfianças, não gosto nem um pouco quando a minha caçula as joga na minha cara.
—Acha que não sei? Fui eu a vítima do seu ciúme doentio e quem terminou tudo e foi perseguido depois —, respondo, já me sentindo exausto. —Mas ela está encrencada e eu não sei ser frio. Já foi difícil de ceder sabendo que é só por uma noite, Mari, então não fique me colocando mais dúvidas. A Agatha vai só dormir e depois vai embora. Fim.
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FOGO ENCONTRA GASOLINA [COMPLETO]
Teen FictionAlexandra Martins é órfã desde os 11 anos e vive com os irmãos mais velhos em uma pequena cidade praiana chamada Horizonte do Norte desde então. Em seu último ano escolar, a garota de humor ácido e pavio curto ainda não sabia o que faria quando não...