ALEXANDRA
A minha cabeça está doendo, provavelmente porque mal preguei os olhos na noite anterior. Depois da consulta com a psicóloga, a conversa com a minha madrinha e o encontro inesperado com Pedro, não consegui me concentrar em nada. Minha mente se tornou a minha fonte de tortura e o resultado é ser quase sete da matina, mas já estar me sentindo exausta.
Acrescente à equação uma Charlotte Carvalho disposta a me tirar do sério depois de eu ter confessado que beijei o Pedro após muita insistência dela e não vai parecer surpresa alguma que eu esteja desejando estar morta.
—Ah, qual é, Alex! —Minha melhor amiga praticamente esperneia no meio do corredor do colégio, enquanto eu tento organizar o meu armário ao retirar dele todo o lixo acumulado no último mês. —Você precisa me dar detalhes. Não se manda uma mensagem falando que beijou o Pedro depois de semanas de picuinha e depois se recusa a dar detalhes depois. É tortura.
—Foi só um beijo —, eu reviro os olhos com o seu drama. —Você também já beijou, então certamente sabe como é e não precisa que lhe dê detalhes.
—Mas eu nunca beijei o Pedro, ora. —Charlotte parece seriamente contrariada. —Você pode ao menos me dizer se ele beija bem?
—Por que você não experimenta e comprova por si mesma?
Fecho a porta do armário e me volto para ela, que é quem revira os olhos agora.
—Porque ele já é seu e eu não sou fura olho.
Felizmente, o sinal de início das aulas toca e vejo isso como uma ótima desculpa para encerrar o assunto. Nem pensar que vou falar para Charlotte mais do que eu já disse, como o fato de que constantemente luto contra a parte da minha mente que adoraria beijá-lo de novo.
—Só vamos para a aula agora, Cher.
Entrelaço meu braço no dela e finjo estar barulho demais para não responder as perguntas que minha amiga insiste em fazer enquanto seguimos ladeadas por um mar de alunos rumo ao corredor das salas de aula.
Porém, ao chegarmos no final do corredor, onde ficam as turmas de terceiro ano, eu estanco e obrigo Charlotte a parar de andar também. De repente, sinto o meu corpo inteiro paralisar, dominado pelo medo, pois há alguém que eu não esperava ver parado bem na porta da nossa sala.
—Desgraçado. —Cher sibila ao notar sua presença, fulminando-o antes de me lançar um olhar preocupado. —Não pensei que ele fosse voltar depois de tudo. Até perdeu o período de provas.
Eu, ingenuamente, pensei a mesma coisa.
Na primeira segunda-feira depois do incidente, eu faltei aula e meus amigos me disseram que Diego também não compareceu. Na terça-feira foi a mesma coisa, então resolvi aparecer na quarta, apesar de estar morrendo de medo. Disse a mim mesma que não poderia parar com a minha vida por causa dele e, conforme os dias foram passando e Diego permaneceu sumido, comecei a ganhar confiança ao acreditar que ele não voltaria.
Mas então o meu maior pesadelo agora está aqui, parado na porta da sala e me olhando enquanto o sorriso de provocação nasce na sua boca.
O meu instinto grita na minha mente que devo correr, mas fico só parada e sinto Charlotte envolver a minha mão com a sua.
—A gente pode matar aula, se quiser...
—Não posso fugir dele pelo resto do ano letivo.
Essa é uma verdade difícil de encarar, mas que tenho de lidar. Por isso, respiro fundo, seguro a mão da minha melhor amiga e me obrigo a caminhar até a sala. Nesse curto espaço, torço para que Diego finja não me ver, porque, se o fizer, sinto que vou poder tolerar a situação mais facilmente. No entanto, acho que não combina com a sua verdadeira personalidade. Assim que passo por ele, ouço-o murmurar:
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FOGO ENCONTRA GASOLINA [COMPLETO]
Teen FictionAlexandra Martins é órfã desde os 11 anos e vive com os irmãos mais velhos em uma pequena cidade praiana chamada Horizonte do Norte desde então. Em seu último ano escolar, a garota de humor ácido e pavio curto ainda não sabia o que faria quando não...