Eu e o Ed estávamos na floresta, perto da cidade. Apesar de tudo, não era muito frequentada. Apenas ciclistas costumavam andar por aquelas bandas. E, claro, pessoas como nós, apaixonados pela natureza.
O Ed estava sentado à sombra de uma árvore, a tocar guitarra e a cantar, fazendo algumas paragens para escrever o que até ao momento tinha composto. Enquanto eu, por outro lado, estava a tirar fotografias a tudo o que sentia que poderia tornar-se numa boa fotografia. Após algum tempo, fui sentar-me ao lado do meu irmão. Tirei o bloco da minha mochila, um lápis de grafite e comecei a fazer um desenho à vista, paisagístico.Mal chegou a hora de almoço, eu e o Ed já nos encontrávamos na margem do rio. Ele estendeu uma toalha de piquenique, puxou da sua mala e pousou o nosso almoço. Ele trouxera duas taças com salada composta por alface, rúcula, macedónia de legumes, frutos secos e lascas de cenoura. Trouxe, ainda, água, fruta e pudim de caramelo.
Deliciei-me com o sabor da salada, estava divinal.
-Esta salada está tão boa!-elogiei.
-Obrigada.
-Foste tu que fizeste?
-Sim.
-Fizeste todo o almoço?-perguntei, incrédula.
-Sim...mas precisei de ajuda com o pudim.
-Sim acredito. Ele parece saído de um restaurante de cinco estrelas. Foi a "menina" governanta, não foi?
-Sim.
Rimo-nos.
-Mostra-me o teu desenho, Annie. -pediu.
-Está aqui. -disse-lhe estendendo o meu bloco.
-Uau- admirou-se.- mas devias de dar mais contraste aqui.- apontou para uma parte do desenho.
-Eu sei. Ainda falta muito para o terminar.
-Pois.- suspirou.- Mana, acho que devíamos de falar sobre...
-Eu sei, e eu preciso.
Aproximei-me dele sentando-me ao seu lado e pousando a minha cabeça no seu ombro.
-Eu não sei que mal fiz. Não sei nem entendo o porquê de ele ter terminado a nossa relação.
Ele suspirou.
- Eu sei.
- Tu sabes...?
- Sei o porquê de ele ter terminado contigo.
- E...- disse após levantar a cabeça rapidamente na sua direção.
- Ele já não sentia o mesmo por ti. Ele continua a adorar-te, mas não da mesma maneira nem com a mesma intensidade que tu em relação a ele.
- Foi ele que te disse isso?- perguntei, triste.
- Sim... Foi o que ele me disse, e mais... Ele contou-me que não se sentia preparado para uma relação tão séria. Talvez nem mesmo para uma relação amorosa.
- Pois...ele no início do nosso namoro também me disse isso.
Depois de algum tempo calados, o Ed arrumou as sobras do almoço, puxou da sua guitarra e começou a tocar. Uma música muito calma, não cantou, só tocou. Os seus dedos aparentavam dançar livremente sobre as cordas da guitarra. Deitei-me na toalha com a cabeça apoiada na minha mochila, olhei na direção do rio e pouco a pouco os meus olhos cederam ao sossego daquele instante, até que mergulhei no sono.