PRÓLOGO

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Nota das Autoras: Gente, estamos muito felizes de estar escrevendo essa história, muito animadas com os rumos que ela vai tomar, e mais ainda por poder dividir isso com vocês!

Super obrigada de coração por darem uma chance à Sexologia, esperamos que vocês se divirtam a cada linha, que sintam ~coisas~, que aprendam com a Alexia e vivam novas experiências motivadas por sua força de vontade.

É um orgulho poder tê-las com a gente, e esperamos não decepcionar!

Beijão e boa leitura :)


XXX


"A vida começa no final da sua zona de conforto."

Era a frase que encabeçava a minha monografia. Era a frase que ditava a minha vida. Era a frase pronta que eu achei em algum lugar no Tumblr e não sei nem quem foi que disse.

Mas ela fazia sentido. Muito sentido. Mais do que que quando nossa avó diz que toda panela tem a sua tampa ou do que quando aquele tio amante de pimenta clama que passarinho que come pedra sabe o cu que tem.

Era mais do que um ditado popular, mais do que um mantra, mais do que um estilo de vida... Era o resumo perfeito da história que eu vim contar.

Agora, parada na coxia esperando para subir ao palanque, tudo o que eu consigo mentalizar é essa bendita frase besta. De alguma forma, ela me estimula a dar a cara a tapa, a ser tudo o que eu me tornei, a abraçar todas as mudanças e expor todos os conhecimentos que adquiri.

Não foi fácil. Na verdade, acho que foi exatamente o oposto. Passei por cada atrapalhada, cada situação-problema, desafiei mais a mim mesma do que achava estar disposta. Quem me acompanhou viu de perto quando eu deixei de ser Alexia, garota simples, aluna de Psicologia, e passei a ser Alexia, a mulher sob controle de seu corpo e decisões, sexóloga e comprometida.

Eu cresci. Não de altura, continuo tendo meus satisfatórios 1,67, mas de maturidade.

Tudo bem... também não é para tanto.

— Alexia, você está pronta? — Kiara me perguntou, surgindo detrás da cortina preta. — A bancada já está se acomodando.

Acenei de forma enfática, tentando manter as minhas mãos sob controle para não tremerem e rasgarem o papel de guia que eu trazia.

— Escuta, vai dar tudo certo. Eu acredito em você — ela piscou e se afastou com um apertão encorajador no meu ombro direito.

Eu comecei a fazer respiração cachorrinho. Onde ele estava? Eu precisava dele ali comigo.

"Senhoras e senhores, sejam bem-vindos. Hoje temos o prazer de apresentar os trabalhos de conclusão de curso da turma 147 de Psicologia. Eu sou Ângelo Lima, professor e paraninfo dos estudantes em questão. Vou começar apresentando os professores da banca..."

A voz soou no microfone e eu fiquei ainda mais nervosa. Eu era a primeira. Por que eu tinha de ser a primeira? Maldita hora que mamãe me deu um nome com a primeira letra do alfabeto. Eu podia me chamar Zara. Além de tudo, ia ter uma loja de departamentos chique com o meu nome, olha só que legal! Dá tempo de mudar, será?

— Psiu, linda! — eu me virei com um pulo com o susto que levei. Tinha que ser Apolo, ele nunca ia deixar de fazer uma aparição. — Nervosa?

Trocamos um abraço quente e eu não precisei responder: ele percebeu tudo o que precisava pela palidez do meu rosto.

— Você acha que eu tenho cara de Zara? — ele me olhou como se eu tivesse três cabeças antes de responder.

— Acho que você tem cara de alguém que eu vou comer mais tarde — eu dei um tapa em seu braço, rindo discretamente. Ele sempre sabia como me deixar mais tranquila com aquelas besteiras sem sentido. — E o seu orientador?

— Mandou mensagem dizendo que está preso no trânsito há uns 20 minutos.

— Eu vi o carro dele entrando quando cheguei. Já deve estar subindo as escadas. O que significa que essa é a minha deixa para vazar — ele se inclinou deixando um beijo na minha testa e um tapa na minha bunda. — Se tudo der errado, saiba que pelo menos você está muito gostosa nessa roupa.

— Sai daqui, seu sem vergonha! — eu ralhei com a sua cara de pau.

— Vou estar na primeira fila! — ele gritou por sobre o ombro, já quase fora da coxia.

Voltei a roer as unhas. Depois cuspi e corri atrás de um copo d'água - tinha esquecido daquele esmalte desgracento com gosto de cocô que eu tinha passado para me impedir de fazer justamente aquilo. Eca.

Resolvi que era melhor reler os pontos principais da minha monografia para ver se aquilo me acalmava.

1) Me apresentar;

2) Falar sobre como chegou ao tema;

3) Problema de pesquisa;

4) Metodologia;

5) Findings;

6) Tese;

7) Fontes;

8) Agradecimentos;

Ok. Eu podia fazer aquilo. Bastava agora ligar para o cartório para mudar o meu nome para Zara.

Afinal, eu ia me apresentar com qual dos nomes? Será que demorava para fazer a alteração? Porque se não fosse me passar para o fim da lista de apresentações, era melhor ficar com esse que eu já estava acostumada.

Mas espera. Não foi a Zara que se acabou naquele escândalo com a escravidão infantil sei lá das quantas?

Droga. Não quero me envolver com essa gentalha.

Eu podia ser Zileide? Zânia? Zaratrusta?

— Pode parar agora de fazer isso.

Eu pulei pela segunda vez no dia ao ouvir a voz do meu orientador, professor Alexandre, entrando às pressas pela cortina.

— Fazer o quê?

— Isso de pensar no que não devia.

— Mas como...?

— Até parece que eu não te conheço como a palma da minha mão, Alexia.

Suspirei ao vê-lo enfim chegar até onde eu estava. Trocamos um olhar, não mais do que isso, e eu já me sentia parar de tremer por completo. Alexandre sorriu com o canto da boca e segurou o meu queixo entre os dedos.

— Você está pronta. Me deixe orgulhoso. Bom... mais orgulhoso — o seu olhar escorregou pelo meu corpo e o polegar pelo meu lábio inferior.

A minha garganta secou.

— Eu preciso de ajuda.

Alexandre sorriu aberto e balançou a cabeça em negativa.

— Talvez quando tudo isso começou. Hoje, você não precisa de ninguém.

Suas palavras me encheram o peito e eu rasguei o pedaço de papel que tinha em mãos.

— Saia daqui antes que você me distraia.

— Vou estar na primeira fila. Se precisar descontrair, trouxe um vibrador remoto na mala.

Ri e o enxotei com um gesto. A proposta era tentadora, mas logo o meu nome foi chamado e eu não pude mais pensar a respeito.

Respirei fundo e venci as cortinas.

Para longe da minha zona de conforto. E além.

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