CAPÍTULO 4

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Tomar café da manhã com os meus pais era sempre difícil. Não porque eu não os amasse e não quisesse passar tempo ao lado deles, mas depois que comecei a estudar psicologia e expandir os meus horizontes, as nossas conversas se tornaram complicadas, para não dizer impossíveis. Eu queria contar a eles tudo o que eu estava aprendendo, todas as coisas maravilhosas que a vida poderia nos proporcionar, mas os dois pareciam mais interessados em me criticar, e criticar todo o novo estilo de vida que eu aparentemente havia escolhido – era como se eu tivesse decidido, do dia para a noite, tornar-me uma profissional do sexo.

Naquela manhã não foi diferente. Enquanto eu me servia de café com leite e torradas com geleia, eles discutiam sobre a minha saída da noite anterior, e como eu não conquistaria um marido decente se continuasse agindo de maneira irresponsável e vulgar. Geralmente, eu apenas concordava com a cabeça e fingia que aquilo não me atingia, mas chorava no chuveiro em seguida, pensando em como eles estavam certos e como eu era uma estúpida por achar que conseguiria quebrar aquele ciclo, mas, naquele dia em específico, eu não estava com muita paciência.

— ...chegou aqui às três horas da manhã, como uma rampeira, uma...

— Uma jovem de 20 e poucos anos que não está fazendo nada de anormal ou errado — eu me ouvi dizendo, e os dois olharam para mim como se eu os tivesse esbofeteado.

Eu sentia o meu sangue correr pelas veias, sentindo-me viva como não me sentia em muitos anos, mas também temendo pela reação dos meus pais. Eles pareciam decepcionados.

— Vai responder a sua mãe agora, Alexia? Vai se tornar uma péssima filha também? O que mais você está escondendo que nós não sabemos?

— Eu estou cansada de ouvir que não presto, dia após dia, pelas pessoas que deveriam me incentivar a ser o que eu gostaria de ser — abaixei o meu tom de voz, os dedos trêmulos e a garganta apertada.

— Nós não vamos permitir...

— Nada — cortei, levantando-me de supetão. — Nada, vocês nunca vão permitir nada. Com licença, eu perdi a fome.

Eu subi para o meu quarto e tranquei a porta, ouvindo as vozes abafadas no andar debaixo. Com o coração batendo muito rápido, mandei um Snapchat para Kiara, que havia me adicionado como a sua amiga na noite anterior. Eu não sabia muito bem usar o aplicativo, mas era a única maneira de entrar em contato com ela, já que eu não havia pego o seu número.

"Kiara, como é que você lidou com os seus pais na... transformação?"

Ela não demorou a responder, o seu rosto sem maquiagem e absolutamente deslumbrante do outro lado. Ela parecia ter acabado de acordar.

"Foi difícil no começo, mas quer saber a minha opinião sincera?"

Descobri a existência de uma espécie de chat dentro e digitei um "Claro!" bem rápido.

"Depois de algum tempo, ou eles se acostumam, ou perdem o contato com a filha. Acho que os seus pais vão tomar a decisão certa. Apenas tenha paciência e não perca o controle!"

Eu respirei fundo, controlando o meu corpo, deixando com que o oxigênio relaxasse os meus músculos. Um pouco mais sã, arranquei e roupa e fui tomar um banho. Quando saí, comecei a me vestir e abri o armário, dando de cara com o meu calendário, onde havia marcado um grande X naquele dia.

Respirei fundo novamente e busquei o celular. O histórico do chat com Kiara tinha sumido e eu não sabia se ela veria a próxima mensagem, então enviei uma nova foto para garantir.

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