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Janeiro, 1964

"Querido Diário,

Às vezes fico com medo que a felicidade não caiba em meu coração e que ele exploda em mil pedacinhos rapidamente. Às vezes é difícil acreditar em certas coisas que acontecem em nossa vida, e ficamos em dúvida sobre o que é realidade e o que é sonho. Prefiro não reclamar, mas é tudo maravilhoso demais pra ser verdade...

Love me tender, love me sweet, never let me go...

Elvis Presley."

Eu curtia meu último mês de férias na piscina da minha casa, com a companhia de Rô e Duda. O sol ardente já deixava minha pele vermelha. Eu sabia que aquilo arderia mais tarde, mas não me importava. A preguiça era maior.

Fátima havia nos trazido chá gelado, e bebíamos enquanto conversávamos empolgadas sobre a volta às aulas. Eu não estava assim tão feliz, já que previa como esse ano letivo seria cansativo graças à pressão que eu mesma colocava sobre passar em uma faculdade. Acho que minhas amigas não se preocupavam muito com isso.

"Mel, é essa semana que você sairá com Ben?" Não sabia como, mas o assunto caiu em mim. Rô me encarava por trás dos imensos óculos. Dei um grande gole no meu chá, tentando evitar aquela conversa; era inevitável eu me sentir tímida ao falar sobre esse assunto.

"Sim..." Respondi vagamente, com o intuito de que minha amiga não fizesse mais perguntas. Às vezes sua curiosidade não tinha limites. Ela soltou um grunhido empolgado, seguido de pequenas palmas. Dava a impressão de que aquele seria o meu primeiro encontro. Certo, talvez realmente fosse, mas não vinha ao caso.

"Vocês são o casal mais lindo de Belo Horizonte. Depois de mim e Rico, é claro," Rô disse convencida, com um enorme sorriso em seus lábios. Rolei os olhos.

"Não somos um casal, Roberta. Pare de ficar falando besteiras," virei meu rosto para encarar a piscina, rezando mentalmente que minha amiga parasse com seus comentários infelizes. Mas é claro que ela continuou a tagarelar. Então resolvi moldar uma barreira invisível à prova de sons, impedindo que qualquer palavra de Rô entrasse em meus ouvidos. Ela já estava acostumada a conversar sozinha de qualquer maneira, não faria diferença.

As meninas apenas foram embora quando o sol já não estava mais nos iluminando. Quando ele começou a se pôr, fomos para o meu quarto fazer nada de útil, como ler revistas e fazer as unhas, o que era o usual. Tomei um banho com a água dolorosamente fria. Cada respingo que tocava em minha pele me fazia soltar um gemido de dor. Eu me esqueci que preguiça é um pecado, e pecados geram consequências. Duvidava de que conseguiria colocar uma peça de roupa em meu corpo, mas Fátima me convenceu a colocar uma camisola de seda. Deitei-me com muita dificuldade, e agradeci pelos lençóis serem igualmente de seda, o que fazia minha pele relaxar ao toque frio do tecido.

"Mel?" Escutei alguém sussurrar em tom desesperado, e eu sabia de onde aquele som vinha. De alguém que se encontrava abaixo da minha janela. Aquilo só podia ser brincadeira! Eu nem de castigo estava para precisar de algum dos meus amigos para me sequestrar!

"Mel?" O indivíduo insistiu. Desejei não ter escutado, e deixar a pessoa se esgoelando até cansar. Entretanto, pensei na possibilidade de ser algo importante. Rico não apareceria a essa hora em minha casa se fosse algo sem importância, afinal, haviam inventado algo chamado telefone. Com a mesma dificuldade que me deitei, me levantei. Parecia que minhas juntas haviam sito queimadas assim como minha pele. Devo me lembrar de ir com roupas para um banho de piscina da próxima vez.

Arrastei-me como uma lesma até a imensa janela, enquanto a pessoa insistia em gritar pelo meu nome. Ele nunca fora tão irritante. Fiquei inevitavelmente surpresa ao ver a figura de Vini parada em frente à minha janela. Ele parecia muito abatido, percebi que seus olhos estavam inchados e vermelhos apesar do escuro.

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⏰ Última actualización: Mar 07, 2016 ⏰

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