Esperei até não aguentar mais meu tio chegar, sempre almoçamos juntos mas já era tarde e ele ainda não havia chegado. Então almocei, sozinha com o barulho da televisão me fazendo companhia.
Em vários momentos ouvi os ruídos de rodas de carros raspando sobre o asfalto e sempre me animava pensando ser meu tio, mas eu já tinha aceitado o fato que ele iria demorar mais do que o normal. Depois de assistir três filmes e andar pela casa mais de vinte seis vezes, analisando cada cômodo do local, meu tio chegou.
Fui contar para ele sobre meu primeiro dia, mas antes que pudesse pronunciar qualquer palavra eu vi seu rosto. Os cabelos pretos e curtos bagunçados como se ele tivesse passado a mão sobre eles o dia inteiro, os olhos pequenos e puxados estavam fundos, estava muito cansado. Ele me disse que nem iria almoçar e que iria direto para cama dormir, eu apenas assenti.
Realmente admirava muito o seu esforço, mas sabia a razão dele estar trabalhando demais, a escola em que eu estudava era particular e de uns tempos para cá nossa situação financeira tinha ficado mais difícil. Me magoava, ele sempre fez tanto por mim.
Para tentar afastar os problemas da minha mente eu liguei a televisão novamente, me deitei aproveitando as macias almofadas e acabei pegando no sono.
Meus lindos sonhos foram tirados de mim rapidamente. Abri os olhos devagar, meu celular vibrava, na minha bunda. Levantei, me dando conta que havia dormido em cima dele.
Ainda bem que meu tio já estava dormindo, se ele visse isso com certeza ia dar um discurso sobre como era perigoso dormir com celulares, porque eles poderiam explodir.
Peguei o celular o desbloqueando, se fosse Eun reclamando que ela estava a uma semana sem pegar ninguém eu ia matá-la, mas apra minha surpresa o número que tinha me mandado mensagens era desconhecido.
"Ei?"
"Eiiiii?"
"Morreu foi, nerdzinha?"
"Preciso falar com você!"
"Se você morrer e me deixar apresentando aquele trabalho sozinho eu te ressucito para te matar de novo"Ok, não era a Eun.
"É melhor ser importante" Respondi.
"Tá viva! Sou eu, Yoongi"
Dei um breve sorriso com sua constatação óbvia.
"O que você quer?" Perguntei.
"Quero conversar, bater uma papo"
Revirei os olhos, bater um papo? Segurei a vontade de mandar ele bater outra coisa. Bloquiei a tela do celular e desliguei a televisão, antes que pudesse me levantar meu celular vibrou novamente.
"É feio ignorar as pessoas, Lena"
"Obrigada por me chamar pelo meu nome"
"Ah não foi nada, aliás que biquíni era aquele? Foi para o Brasil ano passado?"
Arquei ambas as sobrancelhas, isso estava indo longe demais.
"Yoongi, eu disse que só falariamos sobre o trabalho. Como caralhos você viu essa foto?"
"Facebook, falando nisso, seu sobrenome é Costa? Não é coreano..."
"Primeiro você me persegue, depois você me stalkeia. Qual é o próximo passo, vai se esconder no meu guarda-roupa?"
"Nossa que mal agradecida! Já disse que estava tentando te ajudar, dá próxima deixo você sozinha"
"Sobre o que queria conversar mesmo?" Perguntei.
"Ah tinha isso, seu endereço. Não vou adivinhar magicamente aonde você mora"
Passei meu endereço a ele, mas o garoto não pareceu satisfeito. Tentei terminar a conversa mas ele sempre conseguia contornar e voltar o assunto e eu não estava tão irritada com isso.
Depois de quase meia hora conversando, e nenhuma dessas conversas citavam o trabalho eu lhe disse:
"Estou tentando ver TV! Se continuar a me mandar mais menagens o filme ira acabar e eu não vou ter visto nada"
Pela primeira vez ele demorou para responder, o que eu estranhei um pouco já que ele respondia tudo na mesma hora, sem nem me dar tempo de respirar.
"Obrigado por me tirar do tédio"
Yoongi ficou offline.
Coloquei o celular de lado e tentei prestar atenção no filme, mas não consegui.
Que garoto estranho.