— ESPERA AÍ! ELE TE BEIJOU? — Eun berrou tão alto que levei as mãos até os ouvidos, tendo que me certificar que ainda ouvia.
Uma velhinha que estava passando na rua se assustou com a gritaria e deu um pulo, soltando a coleira do seu salsicha que saiu correndo em direção a rua, ela nos xingou e foi correndo atrás do seu cachorrinho, o pegando antes que ele fosse atropelado.
— Eun, você sempre foca nas coisas erradas! E como é que consegue ter toda esse energia logo de manhã? — Reclamei, rindo baixinho da careta no rosto da minha amiga.
— Ah, é. Seu tio. Como foi?
Flashback
— Tio? Eu não sabia que já havia chegado — Eu disse com a voz falha, lembrando que seu carro não estava na garagem.
— O carro quebrou, vim de carona. Não desconverse. — O seu tom de voz nunca esteve tão severo.
Fechei os olhos, tentando encontrar palavras para dizer a ele.
— Eu...
— Quem era aquele garoto? — Ele me perguntou, se desencostando da parede e dando dois passos para frente.
Franzi o cenho, ele parecia transtornado.
— Desde quando se encontra com ele? Está namorando?
Meu tio me enchia de perguntas e nem ao menos me dava tempo de responde-las. Eu nunca, nunca fiquei com medo de meu tio. Mas agora eu o temia, andando para trás enquanto ele vinha em minha direção.
— Não! Eu não o namoro! — Minha fala saiu como um fio.
— Não se encontre mais com ele — Me disse, sério.
Fiquei boquiaberta. Por que ele estava desse jeito? Eu nunca o desrespeitei, sempre o obedeci, o ajudei, deixei de fazer muitas coisas apenas para não incomodá-lo. Mas agora, com quase dezoito anos eu não podia ao menos ter interesse em alguém?
— Por que? — Questionei, o medo se transformando em fúria.
— PORQUE EU ESTOU MANDANDO, LENA! — Ele gritou pela primeira vez comigo, seu rosto completamente desfigurado. — SE SE ENCONTRAR COM ELE NOVAMENTE, EU JURO QUE...
— DEIXE YOONGI FORA DISSO! — Desta vez eu gritei.
— Yoongi? — Me perguntou.
Merda.
— Se você fizer alguma coisa com ele.
— Comecei, trêmula. — Eu nunca mais irei lhe olhar na cara de novo.— Você é muito ingênua! — Ele resmungou alto.
— Por que você é tão manipulador nessa questão? Meu deus! Eu vou acabar em um relacionamento, você queria ou não. Pare de me prender nessa casa, com medo de fazer qualquer coisa e lhe decepcionar! POR QUE FAZ ISSO? — Berrei, sentindo minha visão embaçada pelas lágrimas que se formavam.
— VOCÊ VAI ACABAR IGUAL SUA MÃE! — Vociferou, esmurrando a parede e a deixando com uma pequena rachadura no lugar.
Me encolhi, assustada, pensando no que meu tio havia acabado de dizer.
Ele se sentou no sofá, desolado com as mãos entre os cabelos pretos, com a cabeça abaixada.
— O que você quis dizer com isso? — Perguntei, furiosa.
Suas expressões passavam por uma transformação, indo de tristeza a raiva. Ele não me respondeu.
— Eu te perguntei — Eu disse mais alto. — O que disse sobre minha mãe?