DESPERTAR

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Parte 5

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E.5.: 1786, 13/2 INV.

Anárquia (região central de Asttatus)

(Lembrança/subconsciente de Daro)


A única porta da masmorra se abriu com ranger fino e irritante. A luz da tocha rasgou a escuridão revelando o guarda arrastando um garoto surrado, pela gola da camisa puída, abriu a porta da cela e jogou o garoto da porta mesmo.

— Ainda tentando fugir? – perguntou o velho na cela em frente.

— O idiota não entende que só tem três formas de sair daqui Doms – inferiu a resposta o jovem na sela ao lado – Pela forca; pela arena; ou pelo mercado.

— Não me importo com o que você pensa, Calus – afirmou o garoto estirado no chão – Eu vou sair daqui, vocês vão ver, não serei prisioneiro para sempre.

— Não mesmo... Será um defunto logo logo se continuar com essa marra toda.

— Calus, pare de implicar com o Daro. O garoto só quer ser livre. Quem somos nós pra dizer que ele está errado em querer sair daqui? – proferiu o ancião, apaziguando os jovens.

— E por que você também não tenta sair daqui Doms?

— Lembra-se quando você foi jogado aqui Calus? Bom... Eu já era velho, Imagine agora filho! A essa altura só o que eu posso fazer é escolher o lugar onde vou morrer, e posso te garantir que mesmo velho, também não será aqui.

— E onde será Doms? Na cela ao lado? – gozou Calus.

— Ah! ah! ah! ah! Não se preocupe, garoto, você vai ver, você e Daro.

Semanas se passaram entre tentativas de fuga de Daro, implicâncias de Calus e apaziguações de Doms, até que o dia da feira chegou.

— Calus, Daro, acordem – sussurrou o velho para os garotos levantando sonolentos.

— O que foi Doms? – perguntou Daro esfregando os olhos.

— Espero que você esteja morrendo pra me acordar desse jeito! – resmungou Calus.

— Quase isso! – explicou Doms sussurrando – Como vocês já devem ter percebido hoje é a feira.

— Sim, e daí? Não te venderam antes, e não vão te vender agora, e a gente ainda não tem corpo pra ser vendido por um bom preço.

— Vocês vão fugir hoje – interrompeu o velho ficando sério – Quando eu for pra arena, Daro encoste o máximo que puder na grade do lado direito da sua cela, e Calus o máximo à esquerda, e quando chegar à hora, vocês estarão livres – completou Doms agora com um sorriso fraternal no rosto.

— Parece que você já escolheu onde vai morrer, não é mesmo? – proferiu Calus abaixando a cabeça para esconder as lágrimas que brotavam de seus olhos.

— Como assim? Como assim morrer? E que história é essa de você ir pra arena? – questionou Daro sem compreender direito o que estava acontecendo.

— Ele... Ele vai morrer por nós seu idiota – respondeu Calus agora sem conseguir segurar as lágrimas. Foram quase dois anos convivendo com o velhote, e por mais que odiasse levar broncas quando implicava com Daro, o jovem enxergava nele uma figura paterna no meio de todo aquele inferno, assim como Daro.

— Morrer? Como assim morrer? – continuou Daro ainda incrédulo e com lágrimas precipitando em seus olhos.

— Como eu disse outro dia, eu só posso escolher onde vou morrer garotos, mas vocês por outro lado estão jovens, têm muito que viver – disse o ancião com voz acalentadora – Fora daqui, eu os teria treinado, mas aqui dentro, só o que eu posso fazer por vocês é isso. Calus leia-o com atenção e cuide de Daro, ele ainda vai fazer coisas grandes – profetizou Doms, sacando um pequeno livro com capa de couro que ele escondia debaixo da pedra na qual ficava sentado a maior parte do tempo.

A GERAÇÃO DE PRAGASOnde histórias criam vida. Descubra agora