Um pouco de mim

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"Tente. Se nao der certo, re-tente, se possível tri-tente, mas não desista!"

   Por muito tempo, minha vida baseou-se em não ser vivida. Eu respirava, meu coração batia, mas eu não sentia que estava viva. E eu realmente não estava. Eu já não sabia o que era ser feliz. O que era sair com os amigos, aliás, que amigos? Fui perdendo um a um com o tempo. Não sabia mais o que era querer me arrumar. Eu fui a cada momento me fechando mas em mundo que era só meu. E o pior, o mundo em que eu não existia. Os assuntos eram sempre os mesmos, os pensamentos, os passos dados. Era realmente difícil algo me agradar, e eu ser agradável.
"Não!", essa era minha resposta para quase tudo:
-Quer um pedaço?
- Não!
- Quer sair?
- Não!
- Quer conversar?
- Não.
O não tornou-se um vício. Às vezes eu nem sabia porque o repetia tanto. Sabe quando sai no automático? Então...
   Só sei que chegou uma hora em que eu não conseguia mais ver nada. Eu entrei em desespero, afinal, minha vida não podia só ser aquilo. Mas forçar-me a ver pessoas não era a solução. Eu chorava tanto. Havia noites em que eu passava em claro.
"Deus? Não, não, obrigada. Ele não vai me ajudar em nada agora.", dizia a garota que sempre professou uma fé no "Deus Pai, todo poderoso",
Ir à consultas médicas não era a solução. Tomar remédios também não. Inclusive, remédios que me permitiram dias desacordada. A diferença entre o remédio e o veneno está na quantidade. Sabe, eu realmente achei que era melhor não acordar. Tudo era sempre a mesma coisa.
Mas um dia, não sei quando nem porquê, eu comecei a me dar a chance de ser feliz. Não lembro mesmo qual foi o primeiro passo. Só sei que foi. E aos poucos, eu fui cada vez querendo melhorar.
   Fui conhecendo pessoas novas. Coisas novas. Era como se uma flor começasse a desabrochar, bem lentamente.
E cada vez mais que eu conhecia o mundo que havia fora do meu, eu queria descobrir mais e mais. Eu queria sorrir mais, conversar mais.
Claro que nesse percurso eu caí muito. Deixei muitas pessoas falando sozinhas, porque eu não tinha condições de continuar aquele diálogo. Mas aos poucos, eu fui aprendendo a lidar com cada insatisfação. Fui aprendendo a superar cada lágrima teimosa que insistia em querer cair.
Vou falar: não foi fácil.
   Eu ouvia tanto que era falta de me apaixonar. Mas como gostar de alguém sem antes gostar de mim?
Não, não era falta de nada. Era falta de mim.
Eu ainda choro sem motivo, me fecho sem rezão. Me escondo. Não, ainda não é tão fácil assim. Eu ainda me olho no espelho e vejo defeitos.
Contudo, eu não sei dizer o que realmente mudou, mas mudou. Apesar de todos os altos e baixos, continuo seguindo, continuo tentando até porque o suicídio não é mais minha alternativa numero 1, descobri que existe milhares de números antes dele. 0000,0... 0,1 - 0,2 - 0,3...

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⏰ Última atualização: Jun 02, 2016 ⏰

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