E então chegou o dia tão esperado para mim: o dia que eu pegaria minha guitarra. Havia passado semanas procurando bons anúncios e bons produtos em um site de compras e vendas de usados. Confesso que dei sorte por achar tal produto baratinho e bem conservado.
Eu cheguei na estação de trem na qual marcamos o encontro (eu e o anunciante) para efetuarmos a venda, subi umas escadas e sentei em um banco de madeira perto de onde fica um posto de ajuda. Olhei para um lado e olhei para o outro observando aquela tamanha quantidade de gente andando cada um para o seu destino e aquilo foi me deixando ansioso. Eu comecei a pensar: quando será que verei pela primeira vez o meu instumento? Havia chegado cedo, portanto eu sabia que seria um tédio ficar sentado em um banco duro e olhando para o "nada".Após alguns minutos, foram chegando mais pessoas: uma mulher sentou em um outro banco do meu lado direito e outra sentou ao meu lado; e aquele sentimento de "será que vai dar certo" crescendo cada vez mais. Minha bateria do celular acabando e as pessoas andando... e foi aí que quando olhei para esquerda pude notar dois homens: um era branco, meio calvo e loiro e o outro moreno de cabelo escuro. Eu não conseguia ouvir nada porque estava longe, cerca de vinte metros de distância, eu apenas conseguia notar que eles moviam muito as mãos e faziam gestos estranhos. Sim, eles tinham deficiência auditiva. Quando eu percebi isso, após alguns segundos, eu fiquei observando-os intrigado com a conversa, pois eles riam e "falavam" como se fosse algo muito engraçado e interessante. Com dificuldade, eu tentava descobrir o significado daqueles movimentos com as mãos, mas não conseguia.
Confesso que me fascinei com o sorriso do rapaz moreno, pois era tão feliz e alegre.
O engraçado é que no começo eu senti dó e fiquei meio triste ao ver aquela cena, mas para eles era como se fosse um dia qualquer e em um lugar qualquer.
Eu não desgrudava os olhos deles. Cara, por um minuto eu quis ser surdo e me juntar a eles. Eu também queria estar por dentro do assunto. Isso não é justo!
Logo meu celular tocou e eu atendi. Era o rapaz da guitarra avisando que havia chegado. Então, eu me levantei com dificuldade, devido ao tempo que estava sentado lá, caminhei lentamente para a frente e, antes de tomar distância o suficiente para perdê-los de vista, olhei para trás e lá estavam eles se comunicando como antes. Olhei para frente novamente e fui a procura do vendedor que me ligara, e não sei o porquê, mas já não havia ansiedade em mim. Não mais.
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Estado Acrílico - Poemas&Crônicas
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