Se você foi recentemente a uma loja Marisa em um shopping e notou um rapaz de camiseta laranja, moreno, sarado, olhar sedutor e com um sorriso de deixar qualquer dentista com inveja, na fila do caixa, tenha certeza de que este cara não era eu. Agora, se esse homem foi pagar uma fatura e recebeu cerca de vinte moedas de troco e saiu de lá como se estivesse usando as mãos como cuia para carregar água em pleno nordeste, não me chame de convencido.
Eu não estava nada contente com aquela situação. Pensei em guardá-las em minha carteira, mas ela iria inflar de tal modo que ao colocá-la novamente no bolso de trás da calça eu iria me sentir meio Kim Kardashian e meio Miley Cyrus. Não que eu não goste delas, porém eu precisava ter a certeza de que conseguiria me equilibrar no chão. E não, não era devido ao peso das moedas. A causa do desequilíbrio seria ao caminhar tentando murchar a banda direita da bunda para torná-la proporcional em relação à outra nádega para não chamar atenção.
Tratei rapidamente de me desfazer delas trocando-as por dois livros em uma livraria próxima. Nem queira imaginar a cara de tristeza que a atendente fez para mim quando viu as moedas desprenderem-se das minhas mãos e caírem sobre o balcão. Tenho a absoluta certeza de que ela chegou a pensar em perguntar se eu iria pagar em duas vezes enquanto separava as de 10 e 25 centavos.
Aproveitando que estava muito calor, fui até uma lanchonete famosa por seus milk-shakes para comprar um sorvete.
Um sorvete.
Que isso fique bem claro.
Pelo menos entre nós.
Quase desisti quando me deparei com um desânimo estampado no rosto de duas atendentes — sim, metade para cada para ser justo.
Bom, depois de perder alguns minutos tentando explicar que eu queria um sorvete e não um "leite-mexido", fui finalmente compreendido e atendido com sucesso. Na verdade, não completamente. Mas isso eu iria descobrir após uma rápida procura.
Como você já deve saber, não gosto de chamar atenção, e, por isso, procurei a mesa mais afastada e por lá fiquei alguns minutos saboreando o sorvete de morango enquanto melava os dedos na cobertura.
Mais uma colherada.
Mais duas.
Uma descoberta.
Assim que retirei a colher trazendo um bom pedaço do sorvete, notei um buraco oco no interior do recipiente. Coloquei a colher lá dentro para analisar e escutei os dois objetos quando se choraram: o talher e o fundo plástico do pote.
Sim, havia um nada no meio do sorvete encoberto de pura intenção aos lados e em cima, sabor morango.
Volto a dizer: se você viu um homem de camiseta laranja, moreno, meio gordo, usando óculos, e com os dentes quase pulando para fora da boca de tanto gargalhar, tenha certeza de que esse cara estava rindo de mim.
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Estado Acrílico - Poemas&Crônicas
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