A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser génio. // Fernando Pessoa //
"Fletcher" ouvi um sussurro provindo da chaminé. Uma figura feminina que envergava uma larga t-shirt esburacada, umas calças de ganga clara ligeiramente dobradas nos tornozelos e umas adidas pretas revelou-se perante a luz da lua.
"Vénus?" questionei à ruiva afastando o livro do meu colo e retirando os óculos da cara "Como é que chegaste aqui?"
"Foi fácil" esclareceu sentando-se a meu lado "O teu pai nunca arruma o escadote para a casa na árvore, porque os teus irmãos adoram passar lá a vida inteira a encarnar as suas personagens fictícias, logo tirei o escadote encostando-o à parede da garagem e subi. Até chegar aqui, foi necessário bastante agilidade e, como podes observar pela minha postura desleixada, não a tenho, o que me fez pousar o pé numa telha frágil acabando por parti-la - desculpa lá por isso - e, de resto, foi só caminhar com precaução até aqui.
"Não foi isso que quis dizer" elucidei a minha vizinha que, pelos vistos, acabara de me partir a telha da garagem "O que eu quis perguntar foi o que é que fazes aqui?"
"Preciso de ti, Fletcher" manifestou-se deixando relaxar os ombros e ofegou um pouco fatigada.
"Precisas de mim -" olhei para o pequeno telemóvel alumiando o ecrã ao qual marcava 2:07 a.m. "- às duas da manhã?"
"Se não precisasse, não estaria no teu telhado a impedir a tua leitura do livro de física às duas da manhã!" confessou quase-que-revoltada perante a minha pergunta quase-que-retórica.
"Okay, okay!" rendi-me diante da sua inesperada e insignificante ira "Mas para que é que precisas de mim?"
"Caro, Fletcher, podes dizer-me que dia é hoje?" perguntou cordialmente imitando uma professora ridícula do secundário que frequentávamos.
"Dia quatorze de setembro" voltei a alumiar o ecrã vendo por baixo das horas wed, september 14
"Então?" arregalou os olhos na esperança que soubesse o óbvio.
"Então o quê?" questionei-lhe remexendo no cabelo ainda confuso.
"Então, as aulas começam amanhã!" sorriu alegremente.
"Ou seja..." ainda mais confuso fiquei.
"Foda-se, Fletcher! É preciso fazer um calendário, um desenho com bonecos de desenhos animados japoneses ou dar-te um estalo para acordares? Temos seis horas para fazermos umas das melhores partidas de boas-vindas aos caloiros."
"Não me parece uma boa ideia, Vénus..." adverti os seus pensamentos maliciosos o que reagiu num exagerado revirar de olhos dela.
"Oh, vá lá! Tu estás no décimo segundo ano, este ano é nosso!" esbracejou os braços balançando descuidadamente o corpo.
"Por isso mesmo é que não quero." recusei a sua proposta firmemente.
"E se eu te concedesse um desejo?" propôs com um sorriso misterioso arqueando a sobrancelha "Não me vejas com cara de alguém que sai de uma lamparina ou o caralho, mas vê-me como uma manipuladora, uma boa manipuladora" gargalhou escondendo do sorriso com a mão e baixando a cabeça.
Após considerar as vantagens e, eventuais desvantagens, aceitei a sua proposta. Espero não me arrepender...
"Muito bem, Fletcher! Carpe diem! " piscou seu olho esverdeado iluminado pela brilhante luz da lua. Vénus tinha o hábito de dizer algumas coisas em latim. Ao passar dos anos, fui-me familiarizando com isso. "Vamos?" começou a afastar-se de mim com o objetivo de descer.
"Vamos." senti a adrenalina a percorrer-me o corpo de centímetro a centímetro assim que assenti.
Saímos do telhado com todo o cuidado começando a nossa jornada.
Após vermos saído de minha casa, conduziu até ao fundo da rua, e depois, até onde me levava que acabei por descobrir por um simples "para onde" antes de ser interrompido com a sua resposta.
"Vénus?" chamei a minha vizinha que nos conduzia até à loja mais próxima. "Podes-me explicar para é que vais comprar bombas de mau cheiro, duas buzinas e tinta vermelha?" li num pequeno papel que tinha como título "compras a fazer com o A."
"Já te expliquei que íamos pregar uma partida, porém não disse o que íamos fazer" falou com uma mão no volante e com a outra a tirar o cd dos Arctic Monkeys do leitor de música. "Como já deves saber, os caloiros foram lá instalar-se para começar o ano já com tudo pronto, por isso, pouco antes da primeira aula começar, vamo-lhes pregar uma partida de boas vindas ao secundário de Sidney. Eu, tu, o Calum e o Michael vamos entrar nos dormitórios dividindo-nos em duas "equipas". Antes de os acordarmos com o barulho insuportável da buzina e de lançarmos as bombinhas de mau cheiro, escrevemos "bem vindos" na parede do corredor de modo a que todos vejam." explicitou de forma clara o seu plano incrivelmente demente.
"Isto é completamente louco" admiti fazendo-a sorrir. Provavelmente entendeu isso como um elogio.
"Insania. Loucura em latim." piscou-me o olho ignorando completamente o que tinha acabado de opinar.
Chegámos a uma loja que se dava por nome de Boyd em que um cartaz indicava que a loja se encontrava fechada. Vénus tirou uma chave do bolso de trás das calças deixando cair uma moeda de dois cêntimos provocando-lhe um revirar de olhos após apanhar a moeda, pondo-la no boslo, outra vez.
Ela abriu a porta deixando-a aberta e seguindo o seu caminho pelo escuro. Entrei rapidamente fechando a porta com esperanças que ninguém nos visse. Embora sejam duas da manhã, nunca se sabe quem nos vai ver e, possivelmente, denunciar.
As luzes acenderam-se revelando as enormes prateleiras paralelamente posicionadas. Na caixa registadora já lá estava o necessário, as coisas que estavam escritas no papel. Ia para começar a perguntar, mas ela interrompeu-me erguendo o seu dedo e explicando que aquela era a loja do seu tio e que Erica, a sua tia, tinha convencido Boyd a deixar lá as coisas preparadas. Vénus deixou uma nota onde se situavam os produtos voltando para o carro.
Esta noite vai ser longa.
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Sejam bem-vindas a venus.
Aqui está publicado o primeiro capítulo de venus!
O capítulo, obviamente, ainda não acabou. A seguir, vou publicar a segunda parte, mas queria só publicar isto para "dar um cheirinho" ;) Não, não estou a falar de cocaína.
Espero que tenham ficado curiosas para ler o que acontece a seguir, porque eu também estou.
Estou tão entusiasmada para escrever esta fic, haaalp.
Abraços virtuais da vossa dark que vos ama ❀
twitter:
@jetblackmariana
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venus // afi
Fanfiction"ela gostava tanto de mistérios que se tornou um." - cidades de papel, john green