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"Um pouco de aventura liberta a alma cativa do algoz quotidiano"  // Clarice Lispector //

Voltámos para a velha carrinha trazendo os nossos pertences.

"Ora muito bem -" olhou para o relógio que marcava as duas e trinta e dois da manhã "- agora temos de ir buscar o Calum a casa dele para, depois, irmos para casa do Michael beber umas cervejas, cidras e jogar monopólio como o Clube dos Poetas Deprimidos que somos."

Apesar de não fazer parte do grupo de melhores amigos com quem Vénus partilha aventuras a tempo inteiro, porque não tenho esse feitio ousado e ela sabe disso, por vezes deixo-me levar pelos seus encantos. Essa fraqueza já me levou a castigos, beijos inesperados trocados com ela, bebedeiras ligeiras e aventuras memoráveis. Entre as muitas aventuras, o Clube dos Poetas Deprimidos é um deles. Nesse clube, bebêmos álcool e petiscamos alguns snacks enquanto partimos histórias, jogamos jogos infantis e planeamos as tais ditas partidas.

Todas as sextas à meia-noite, reunimo-nos para festejar a nossa existência com o Clube Dos Poetas Deprimidos. Normalmente, juntamo-nos nas nossas caves, mas, como estamos no verão, saímos à rua levando um enorme lençol velho que penduramos por cima de dois galhos da grande nogueira da casa do Michael, uma manta para nos sentarmos e os típicos refrescos e jogos.

Chegando à rua do Calum dez minutos depois, deparámo-nos com o moreno sentado no passeio com garrafas de vidro poisadas no seu colo a cantar animadamente.

A ruiva parou à frente dele, abrindo o vidro e invocando-o com um simples "Anda lá, seu conas" .

Calum sentou-se nos bancos de trás e cumprimentou-me com um high five e com um beijo na bochecha pálida dela.

Calum sempre foi aquele rapaz muito dado e despreocupado. Ele mantinha uma amizade do presente connosco. Com isto quero dizer que ele dá sempre ao que estamos a fazer agora e não guarda ressentimentos do que aconteceu no passado e acho isso fantástico. Ele não partilha muito do seu passado por não ter histórias fantásticas para contar, ao contrário de Vénus e Michael, mas acho que já nos acostumámos a isso.

A viagem até a casa de Michael era bastante curta, logo chegámos lá em menos de dez minutos. Após trazer o necessário, passámos o jardim que a mãe de Michael, por sinal, tinha bastante trabalho ao manter bastante bonito e ter uma abundante variedade de diferentes flores. Ouvimos um grunhido por parte de Michael que se encontrava a pendurar o grande lençol já degradado por cima do galho. A dificuldade dele ao desenrolar um simples lençol causou gozo por nossa parte fazendo-os bufar de descontentamento.

"Isso, fiquem aí parados a rir da minha desgraça e não me ajudem" ironizou o de cabelo azul.

Aproximámo-nos dele ajudando-o com extrema facilidade a desenrolar o lençol e a colocá-lo de modo a que as pontas caíssem sobre manta posta no chão. Ligámos algumas luzes pousando-as nos cantos da nossa nada luxuosa tenda iluminando-a por completo.

Trouxemos o baralho de cartas e uns quantos jogos, tais como as bebidas e os snacks que aparentavam ser Doritos.
Entrámos na tenda sentando-nos nos quatro cantos e abrindo as garrafas de cidra e o pacote do snacks que, obviamente, iria ser completamente devorado em menos de cinco minutos. Vamos ser sinceros, ninguém resiste àquilo. Optámos por jogar ao velho jogo da Sueca. Todos nós já tínhamos experiência nisto, por isso, era uma tarefa complicada escolher as equipas, mas não tão complicada como ganhar. Entre equipas feitas e desfeitas de jogos diversos, Somersbys bebidas e gargalhadas abafadas, passaram-se horas bem aproveitadas. 

Eram agora seis e quinze e o sol já começava a rasgar o céu tornando-o ainda mais esbelto. Apagámos as luzes e arrumámos o nosso cantinho, deitando o lixo fora e voltando para a carrinha cheios de energia, porém um tanto cansados devido à noite passada sem dormir. Desta vez, foi Michael que conduziu levando-nos para o secundário.

Assim que chegámos ao secundário, deparámo-nos com o velho gordo da portaria que, de certeza, iria suspeitar de quatro adolescentes inconsequentes e lunáticos, tal como toda a gente. Antes de entrarmos no portão, Vénus murmurou para que gatinhássemos atrás dela. Achei absurdo, mas era a única maneira que tínhamos de entrar sem ser expostos. Baixámo-nos entrando pelo portão ficando encostados à parede branca que podia, eventualmente, marcar as nossas peças de roupa escuras. Vénus manifestou-se de uma forma bastante educada, à qual fiquei abismado pela complexidade do seu vocabulário, que estava aqui mais cedo para ajudar uma amiga, visto que era o primeiro dia de aulas dela. Calum desfez o meu transe tocando-me no braço fazendo o mínimo de barulho possível. Michael pôs-se de cócoras apoiando as suas mãos no chão ganhando mais equilíbrio, porém, como o piso era inclinado, acabou por cair sendo visto pelo velho. Vénus, ainda atrapalhada tentou explicar o sucedido, mas foi interrompida pelas gargalhadas altas do porteiro. Ele explicou-nos que já sabia de tudo, que o tio de Vénus lhe tinha dito. Fiquei um pouco perplexo com a resposta dele, mas nem me dignei a perguntar. Antes de irmos, ele avisou-nos que as câmaras iriam ser ligadas às oito horas em ponto, tínhamos tempo suficiente para bombardear os dormitórios com as nossas pequenas bombinhas, porém muito eficazes. 

Corremos até à secção dos dormitórios e dividimo-nos, ficando Michael e Calum no dormitório B e eu e Vénus no A. Assim que acabámos de relembrar todos os passos, entrámos com imenso cuidado para que nenhum movimento nos levasse à denúncia. 

A ruiva pediu-me para que segurasse no frasco de tinta aberto que tinha um cheiro nauseante. Embora Vénus não seja muito alta, conseguiu escrever com as suas mãos agora bastante pintadas "bem-vindos" em letras de um tamanho excessivo na parede e dando-me, de seguida, o frasco da tinta. Após a parede estar escrita, esperámos por breves segundos por uma chamada de Michael. Assim que o telemóvel alumiou, Vénus atendeu trocando umas breves palavras com o rapaz a menos de quarenta metros dela pronto para lançar as bombinhas. Em linguagem gestual, indicou-me para por a buzina num lugar indefinido do corredor e assim o fiz mantendo-me perto da mesma. Vénus à medida que fez uma breve contagem decrescente, disse com os lábios "agora" fazendo-me carregar na buzina reproduzindo um som repetitivo e estridente. Ela fez com que várias bombas começassem a reagir deitando fumo e atirou-as para o meio do corredor. 

"Vamos!" agarrou-me pelo braço começando a correr apressadamente. Comecei a correr ouvindo risos provindo dos rapazes que estavam também a correr atrás de nós. Gritámos um obrigada assim que passámos pelo porteiro que fez com que esta partida fosse possível. Comemorámos a nossa vitoriosa partida com um simples grito enquanto voltávamos para o carro. Eram agora oito horas certas, o que significava que tínhamos meia hora para nos vestirmos decentemente para voltarmos à escola e termos a primeira aula do ano. 

Bela madrugada de aulas.

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Aquela rebeldia mata-me...

Já está completo o primeiro capítulo!

Admitam lá, o Clube dos Poetas Deprimidos é incrível...

O que é estão a achar até agora? Espero que estejam a gostar tanto como eu!

Abraços virtuais da vossa dark que vos ama ❀

(mudei username do twitter lol) twitter:
@panickyluke

venus // afiOnde histórias criam vida. Descubra agora