Extra Paralelo "Paul"

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Os últimos 3 meses foram uma tortura. Olhava por vezes algumas fotos de meus amigos e minha namorada para encontrar nelas o sorriso em seus rostos que tanta ansiava ver novamente. 

Quando Gracy foi embora, e eu soube o que ela fez com a minha namorada e meu melhor amigo, me senti a pessoa mais impotente do mundo. E ainda continuo me sentindo assim porque nada é como antes. Não sei o que levou ela agir deste modo insano, nem cito a gravidez de Selena, porque isso não se compara ao que ela fez, mas me forço a pensar todos os dias que ela teve um bom motivo, porque se eu não pensar assim, eu posso alimentar um ódio dentro de mim por ela, e isso não é nada legal. A  Gracy ainda é uma das pessoas que amo muito, e tenho fé que um dia ela vai aparecer e explicar porque agiu de forma tão cruel.

Gabriel está acabado. Ele está sem rumo. Voltou a sonhar com Gracy para piorar. E ela continua pedindo ajuda em seus sonhos. Implorou para Madalena sua mãe lhe passar o endereço de Alfred, o seu pai, pressupondo que ela estaria com ele, ele o encontrou, mas só. Acabou discutindo com o pai, dizendo ser tudo culpa dele. E eu, eu estava lá, como sempre, presenciando os fantasmas que assombravam meu amigo, os perturbar mais uma vez.

Ele cogitou a idéia de casar com Selena, eu o impedi, pois sei que seria a decisão mais terrível de sua vida. Selena, realmente está grávida, mas me nego acreditar que seja de Gabriel. Ele por sua vez, diz que não irá fazer o teste de DNA, pois se descobrir que realmente o filho não é seu, surtaria. Selena não insiste em casamento, parece que o simples fato de Gracy sumir já a agradou o suficiente para sossegar da idéia. E isso me alivia. Meu amigo não precisa ferrar ainda mais com a própria vida.

Alice... o que dizer da minha baixinha, aquela alegria contagiante, aquele brilho nos olhos, apagou. Ela chora escondido, e finge que está tudo bem, mesmo sabendo que eu a conheço, e sei que não está. Por ser tão frágil, as vezes acho que ela sofre mais que Gabriel. Percebi o quanto eu sou forte, porque tenho aguentado as pontas, o fardo está bem pesado. Só peço a Deus que eu aguente. Alguém tem que aguentar.

Neste momento estamos no estúdio, Bárbara continua a mesma. Nós é que mudamos. Temos 3 novos integrantes. Karolyn e Jasmine novas back-vocal e Bernard na guitarra. Nem o sangue novo na banda, deu ânimo. Gabriel continua sendo o vocalista, mas sua falta de concentração está quase mudando isto. Acredito que a única coisa que o faz continuar ali por permissão de Bárbara são suas composições cada vez mais inspiradas. 

—Vamos lá, de novo esta música.— Bárbara comandou.

Gabriel termina de cantar e como num impulso se levanta em direção a porta do estúdio, sem olhar pra trás. 

—Gabriel! Volte aqui não terminamos. —Bárbara grita.

—Eu terminei. —Ele diz virando pra ela.

—Não, se sair por aquela porta, não precisa mais voltar.— Ela continua gritando.

— E quem disse que eu quero voltar. Para mim já chega, já deu, to fora.— Ele fala e sai. Mas que merda Gabriel! Pensei!

—Mas que raio de atitude foi essa?— Bárbara diz possessa nos olhando com muita raiva.— Alguém quer se juntar a ele? —Ela continua gritando.

—Para de gritar Bárbara! Você está totalmente descontrolada, parece uma criança esperneando, isso não te ajuda em nada, as pessoas não te respeitam mais por causa deste tipo de comportamento ridículo que você já vem tendo faz um bom tempo. Acho que quem está precisando de um tempo é você. —Eu coloco para fora, o que eu vinha sustentando a tempos.

Ela me olha com muita raiva se segurando para não chorar. Mas apenas respira fundo e nos manda sair, encerrando o ensaio. 

—Amor, você pode ir com Jean para casa? Depois eu passo lá tá bom?— Dou um beijo carinhoso na pessoa que eu mais amava no mundo. Alice apenas assentiu. Seus olhos estavam tristes. Eu temia que eles ficassem assim para sempre.

Me despeço dos outros integrantes pedindo para Jean levar Alice para casa. E vou atrás de Gabriel. Sei onde ele está, sei onde ele vai toda vez que quer fugir, e o admiro por não ir mais longe do que isso. Porque no lugar dele eu teria feito o mesmo que Gracy fez. Teria sumido.

Chego na pracinha, e de princípio não o vejo, o que faz eu pensar que desta vez ele foi imprevisível, mas não, contorno uma árvore e ele estava lá, sentado chorando desesperadamente com as mãos na cabeça. Eu já vi Gabriel chorar, mas apenas umas lágrimas e em silêncio. Ele estava soluçando de forma copiosa. Eu parei não acreditando na cena, e um nó amarrou minha garganta, olhei pra cima e  forcei as lágrimas para dentro em vão. Quem nos visse ali, naquele momento teria certeza de termos perdido um ente querido. Bom, era quase isso. Sentei em silêncio ao seu lado, tempo suficiente para que ele extravasasse e por fim conseguisse falar.

—O que vou fazer Paul? Eu não sei mais o que fazer! Todos os dias eu acordo como se eu tivesse vivido aquela noite de novo, mas percebo que ela não está do meu lado como deveria. Meu Deus! Eu até aceitaria ela não estar aqui, se no mínimo eu soubesse onde ela está. Ela preferiu ficar sozinha nesse mundo, ela desistiu tão fácil. E diz que foi por amor, isso não é amor. Não é possível que ela tenha me amado algum dia.

Pela primeira vez, não tenho argumentos para defender Gracy, eu sei que ela ainda é uma criança, como nós, e o fato de ser forçada a amadurecer muito rápido seguida de tempestades intermináveis ao seu redor, pessoas apareceram e desapareceram brutalmente de sua vida, com certeza ela está assustada agora em algum lugar. Mas mesmo assim ela desistiu. Ela foi covarde. E pior ela se entregou para o meu melhor amigo, e o deixou a ver navios em seguida. Não tenho mais argumentos!

— Eu não sei mais o que dizer Gabriel, a única coisa que eu posso fazer é estar aqui junto contigo. Sofrendo junto para amenizar a tua dor.

—Pode ser precipitado Paul, mas eu acredito que nunca mais vou amar ninguém. Não vou conseguir seguir em frente, sem antes encontrá-la e ver que ela já o fez. —Gabriel fala olhando para o horizonte. 

—O que pretende fazer até que isso aconteça?—  Pergunto com receio da resposta.

Ele respira fundo e solta o ar em seguida.—Apenas esperar! Deixar o tempo e o destino fazerem o trabalho. O que mais posso fazer?— Ele diz sereno.

—E se ela aparecer novamente, se ela voltar. O que vai fazer?— Estava curioso quanto a isso, e isso me dava certo tremor.

—Não sei o que poderia trazê-la de volta, só se uma tragédia acontecesse.— Me arrepio quando ele termina a frase. Ele continua: —Se ela voltar... e me procurar, é porque terá uma explicação e o mínimo que vou fazer é ouvi-la. Mas conheço Gracy o suficiente para saber que se ela voltar é por motivo maior. E admito, tenho mais medo disso do que pensar que ela nunca mais voltará.

Gabriel não iria lutar, na verdade ele já tinha esgotado as forças em várias batalhas. E perdido quase todas, não sei se a guerra já tinha terminado. Mas ele estava içando a bandeira branca. Ele estava se dando por vencido, e sei que isso acarretaria consequências, como sua desistência em realizar sonhos paralelos, a música por exemplo que fora seu principal combustível por muito tempo, ele tinha acabado de colocar no fundo do baú. Não tinha mais motivos para cantar e tocar. 

Não tinha mais Gracy.

Irmãos do Destino 3 - Verdade e EfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora