Capítulo 16

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E cá estava eu, no hospital novamente... Logo eu teria uma foto no monumento histórico. 

Seria cômico se não fosse trágico, quase perder meu bebê. Meu bebê! Daniel Michel Saint. Quando o médico me afirmou apesar de ainda ser muito cedo para saber, ser o sexo do bebê um menino, cogitei a idéia de colocar Michel como primeiro nome, mas a idéia se tornou assustadora para mim. Só de pensar que o chamaria desse nome, me percorreu um frio na espinha. Uma dor no peito e um nó na garganta. Eu lembraria de tudo toda vez que o chamasse, então me veio uma luz... o segundo nome é menos convencional, raramente alguém te chama pelo seu segundo nome, então quis fazer uma homenagem desta forma, unindo o útil ao agradável.

Depois que Alice saiu sem antes me fazer prometer que contaria toda a história, inclusive a de eu estar grávida, recebi Elise e em seguida meu pai. Meu pai, fora o herói do dia. Se não fosse por ele e sua agilidade em me trazer para este hospital, embora nem imaginasse ser o neto o motivo da minha dor... eu teria perdido meu príncipe. Mas não é por isso que o abraço forte assim que o vejo, não é por salvar a vida do meu filho e seu futuro neto, que eu choro soluçando em seu ombro, agarrando-o querendo nunca mais soltá-lo. Como senti falta deste abraço, como me arrependo de tê-lo afastado da minha vida, só porque ele o fez, para me proteger. 

Me esforçando muito para falar claramente; digo: — Me perdoa pai! Eu sinto muito, por tudo, pela mamãe, pelo Gabriel, por mim... Tudo que o senhor passou, e continua tão forte. Realmente tinha razão em dizer que um dia eu o entenderia, obrigada por me amar e cuidar de mim mesmo eu não merecendo. Mesmo eu não sendo...— Engulo o choro.

— Nem ouse dizer isso... você é, e sempre será minha filha. Obrigado, por me perdoar, e por finalmente voltar a minha vida, de onde nunca deveria ter saído. Eu estou abalado, com tudo o que te aconteceu. Me sinto impotente, em saber que mesmo com todos os esforços, ainda assim não consegui mantê-lo longe de você (Vincent). E no processo paralelo ainda sofreu tanto, olha pra você filha, você deveria estar tendo uma vida simples, saindo com as amigas para passear no shopping depois do colégio, deveria estar pensando com que dançaria no baile de formatura... —Ele para por uns instantes, e depois prossegue: — É culpa minha! Se eu tivesse te falado a verdade, e nós dois tivéssemos lutado juntos, tudo isto seria evitado. 

— Mas eu não me arrependo pai! Não me arrependo e sendo sincera, teve que ser assim, a única coisa que sinto muito é não ter confiado em você. 

—Filha você está grávida! Eu falhei! Eu falhei...— ele dizia derrotado.

— Eu estou feliz pai, feliz de verdade, como a muito tempo não estive. Pela primeira vez tenho algo concreto na minha vida, e eu tenho completo controle disso. Meu filho. Seu neto.

—Meu neto?— Ele pronuncia lentamente com os olhos brilhando o pronome substantivo/possessivo.

— Sim, Daniel! Seu neto!

— E o pai do meu neto... é... quem estou pensando que é?— Meu pai estava a par de tudo, ele sabia que Gabriel era apaixonado por mim e eu por ele, desde quando descobri a verdade que ele não era meu irmão. Meu pai, não teve coragem de impedi-lo ou afastá-lo de mim. Ele teria um neto, duas vezes neto!

—Sim!— Digo envergonhada. Ele só me abraça, e depois de um tempo assim. Me acalentando em seus braços ele me conta algo que me surpreende.

—Vocês se encontraram uma vez quando pequenos... —Arregalo os olhos...— Você tinha uns cinco anos e ele quase sete. Ele ficou fascinado por você. Eu os levei ao parque, só vocês e eu, foi o dia mais feliz da minha vida.— Ele diz e uma lágrima escorre. 

—Eu não lembro.— Digo emocionada.

— Eu sei que não, você era muito pequena, mas inconscientemente Gabriel nunca esqueceu... ele só tinha sete anos, mas eu percebi que se vocês crescessem juntos, ele jamais te trataria como irmã. — Então os afastei definitivamente... até que... —Meu pai estava muito arrependido. Eu o abracei novamente, nunca mais julgaria suas ações.

—Tudo bem pai, tudo bem... eu só preciso de você ao meu lado agora, nunca mais quero ficar longe. 

Ele sorri... me faz um carinho... e assim ficamos, até eu dormir... profundamente!

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Não sabia o quanto estava cansada, não dormia desde a viagem... quando senti que deveria abri os olhos, meu pai não estava mais ali, mas Eric!

A expressão dele era de culpa e remorso. 

— Eric?!— Digo com voz rouca de sono.

—Eu sou um imbecil mesmo! —Ele começa xingando-se.

—Não, você não é! —Digo o olhando com ternura.

— Se alguma coisa acontecesse com você... com... Ele olha para minha barriga... com o bebê. Eu jamais me perdoaria.

Eu reviro os olhos. — Tá tudo bem agora. —Digo tentando acalmá-lo.

—Não, não está... eu quebrei minha promessa, eu não me controlei e parti pra cima daquele... desgr...— Ele para ao ver minha expressão zangada. 

— Me perdoa? Por favor?— Ele diz e se aproxima me dando um beijo no topo da cabeça. E fica por ali mesmo, encostando sua testa na minha e fechando os olhos aguarda minha resposta.

—Não tenho do que te perdoar! Entendo a forma que agiu. Mas eu deveria tê-lo impedindo de vir comigo nesta viagem. 

Ele se afasta e a expressão de interrogação surge no seu rosto.

—Por que?— Ele pergunta baixo.

— Porque você não merece esse drama todo Eric, você é tão melhor que isso, merece muito mais do que isso, disparado.— Ele engole seco, como se sabendo o que eu falaria. Seus olhos desviam-se para a janela, implorando para eu não falar o que ele achava que eu iria falar. Mas ele foi mais rápido...

—Eu sei que você não me ama! Mas por favor, deixa eu te amar.

Eu toco seu rosto com minha mão e o faço olhar pra mim.

— Nunca falei que não te amo Eric. Como não te amar? Eu ainda não enlouqueci. E é exatamente por isso, que você deve partir. Porque eu sou egoísta demais. Porque nunca vou querer me afastar de você, mas eu não posso continuar com isso, é errado.

—Por favor, não... —Ele me implora com o olhar... E eu... me controlo para não abraça-lo.

—Eu não mereço você Eric. Eu preciso que vá embora, e continue a sua vida, e encontre uma pessoa igual a você, no seu padrão, perfeita, valorosa, amável, linda, e com o coração puro como o seu.

—Você é tudo isto... Gray não me afaste.

—Não não sou tudo isto. —Digo com o nó na garganta.—Eu estou pedindo que vá Eric... 

— Eu te amo Gracy... não posso te deixar, sem saber como isso tudo vai ficar... 

—Mas se você não for, eu não terei esse benefício, de saber como as coisas seriam se você não estivesse aqui.

—Você o ama... ainda não é? —Ele pergunta com uma expressão cortante.

— Sim... e já que estou sendo sincera, eu sempre o amarei e nunca deixarei de amar, mesmo que não seja recíproco. 

Seu rosto exprime dor. — Eu entendo... perfeitamente...— Devagar ele levanta da cama onde estava sentado ao meu lado, e diz:—Adeus Gracy!—E dá as costas.

—Eric! —O chamo tentando sair da cama... ele tenta me impedir... mas logo já estou fora dela. 

—O que está fazendo?— Ele me encara confuso.

—Preciso me despedir direito!— Eu me aproximo dele, e o encaro surpreso, seus olhos brilham, sua respiração acelera. Apoio minhas mãos ao redor de seu pescoço, não desvio meu olhar por nem um segundo sequer. Ele toca minha cintura. Aguardando que estava por vir. 

Um beijo... o beijo que ele tanto quis, doce, suave e instigante. Sim eu o amava também. Mas Gabriel chegou primeiro, eu estava esperando um filho seu, e não poderia arrastar Eric pra essa vida, nem ele, nem nenhum.

Se não fosse Gabriel, não seria nenhum outro!


Irmãos do Destino 3 - Verdade e EfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora