Capítulo 4

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Estava tudo planejado para o final de semana, iria para casa ver sua mãe e elas assistiriam a programas ruins por toda manhã, preparariam ao jantar juntas e durante a noite Aly contaria sobre seus dias de universitária. Porém, Elena ligara na noite anterior avisando que viajaria para a Irlanda pela manhã porque o avô de Alya estava doente e precisavam da ajuda de sua mãe lá. E ela entendeu claro, o jeito era partir para plano B daquele fim de semana. E cedo, naquela manhã de sábado, Alya decidira correr no parque, como havia feito durante todos aqueles dias. Escutava as novas músicas da banda de seu amigo e tentava aprender. Ela costumava saber todas as letras de todas as musicas deles, ajudou até a compor algumas e a tocar com eles em alguns pub's de Bradford - mas isso só para conseguir uma grana extra.

Olhou as horas e viu que já estava ali há um pouco mais de quarenta minutos, correu direto para a faixa de pedestres e esperou o semáforo abrir para ela. Atravessou a rua e caminhou pela calçada em direção ao seu apartamento, foi quando ela avistou um caixote com uma placa e os dizeres em vermelho: ADOTE UM CÃOZINHO, em frente a uma loja de antiguidades. Havia uma garota com aproximadamente doze anos ao lado, estava sentada em uma cadeira dobrável, cotovelos apoiados nos joelhos, seu rosto descansado sobre a palma de uma de suas mãos e os olhos fixos na pista em sua frente. Aly tirou os fones e aproximou-se da caixa, agachou até poder acariciar o animal que estava dormindo todo enrolado em si mesmo. Ele não acordou, mas mexeu-se preguiçosamente.

- Ele tem uma pata menor que a outra – alertou a garota olhando para o cãozinho – Então, se também pretende não leva-lo, cai fora. – Ela olhou seriamente para Aly, uma rápida hesitação passou por seus olhos, mas desapareceu para dar lugar a sua irritação.

Aly pensou em retrucar de forma bem grosseira a falta de simpatia da garota, mas assim que abriu a boca foi interrompida.

- Eram seis – disse -, os cinco foram adotados quase no mesmo momento, mas ninguém parecia querer adotar ele – olhou para o cãozinho que ainda dormia tranquilamente. – Algumas pessoas fazem carinho nele e quando se deparam com o seu defeito logo arranjam uma desculpa para não leva-lo.

Alya sentiu-se mal por aquilo. Os olhos azuis da garota ficaram vermelhos, claramente reprimindo as lágrimas.

- Às vezes as pessoas sabem como ser cruéis.

A garota apenas balançou a cabeça.

- Qual seu nome?

- Sky.

Aly estendeu a mão e elas se cumprimentaram.

- Que belo nome. – sorriu - Sou Alya, mas pode me chamar de Aly.

A garota a olhou por mais alguns segundos, e ela sabia o porquê.

- É, são diferentes – disse apontando para seus olhos.

- O que houve com eles? – perguntou a garota.

Aly riu da forma que a pergunta fora feita. Soava como se ela tivesse feito aquilo por vontade própria.

- É uma anomalia... Anomalia é quan-

- Eu sei o que é anomalia, estou na oitava série, dã.

Aly deu um risinho.

- Tá bom... Chama-se Heterocromia.

- Ah! Acho que li sobre isso em algum lugar... – disse ela tentando se recordar.

- Então – Aly demandou de forma simpática para que voltassem ao assunto inicial -, qual o nome da bolinha de pelos aqui?

Sky olhou para o cãozinho, agora desperto, e sorriu com carinho.

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