Capítulo 2

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Ajustou a gravata ao redor do pescoço, penteou os cabelos para trás com os dedos e, por fim, abotoou um único botão do paletó. Fitou sua imagem no espelho por alguns segundos. Gostava de estar vestido daquela forma, sentia-se mais velho, importante e bonito. Era algo meio infantil, mas ele não conseguia evitar. Ouviu batidas suaves na porta de seu quarto e em seguida uma voz doce.

- Ben, querido, posso entrar?

- Claro. A porta está aberta.

Ela pôs a cabeça para dentro e viu o garoto em frente ao espelho. Estava começando a por um relógio no pulso.

- Você está lindo - disse, e ele a encarou através do reflexo. Entrou e fechou a porta atrás de si.

- Você também não está nada mal - o garoto sorriu e virou-se para ela.
A mulher a sua frente vestia um longo vestido azul marinho, os cabelos castanhos caiam sobre os ombros nus e cada movimento era feito com delicadeza. Ela estava deslumbrante.

Astrid Harriet Radfield era doce, compreensiva e estava sempre sorrindo. Ben a admirava, ela era incrível aos seus olhos, além de ser uma mulher linda. Todos diziam que Benjamin era muito parecido com ela, a mesma cor de cabelo e olhos o mesmo nariz, e a mesma forma de agir. E ele gostava disso. Não que fosse ruim se parecer com seu pai.

Ela caminhou até o garoto e arrumou a gola do paletó e da camisa social.

- Você e seu pai sempre esquecem da gola. Tenho que fazer isso para ele toda manhã... Pronto. - pousou as mãos no peito do filho e o encarou sorrindo.

Ele sorriu de volta.

- Você está bem? Quer dizer, isso tudo não traz lembranças ruins?

A resposta honesta era: Sim, trazia muitas lembranças ruins e nada daquilo o fazia bem. Ano passado era ele quem estava se preparando para um jantar de noivado com a mulher que amava. E essas lembranças eram dolorosas demais. Queria sair de lá e ficar bêbado. Mas não podia dizer aquilo a sua mãe, se dissesse, ela passaria o jantar inteiro preocupada com ele e não aproveitaria em nada o noivado da filha. Por isso mentiu.

- Não, mãe - juntou as mãos dela em frente ao peito e sorriu - Estou perfeitamente bem e muito feliz por Anastasiya - essa parte era verdade - Além do mais, como ela está?

- Uma pilha de nervos, imagina no dia do casamento?! - ela sentou na ponta da cama e ele sentou ao seu lado. - Está extremamente feliz.

- Imagino - disse, pensando em como se sentiu no dia em que oficialmente ficou noivo.

- Ela está com Henry na cozinha, tocando o terror nos cozinheiros.

Ben riu, não da piada, mas da frase "tocando o terror", era estranho ouvir sua mãe dizer aquilo.

A família Radfield nunca fora o motivo da tristeza de Ben quando voltava para casa, pelo contrário, eles eram o que mais o trazia segurança. O principal problema era os jantares de todos os tipos que havia, seja de noivado, beneficente, aniversário ou por causa de qualquer outra coisa. Esses jantares nunca mais foram os mesmos desde o último ano. Nada era mais o mesmo desde então.

Ele era obrigado a sorrir e conversar com pessoas que o olhavam com desconfiança. Era torturante. Isso não acontecia apenas em jantares em sua casa, claro, mas era só quando acontecia lá que ele precisava interagir com essas pessoas, pelo bem dos negócios da família. Pelo bem do sobrenome Radfield.

- Fico feliz que esteja bem - ela sorriu. - Sua irmã estava preocupa com isso.

Ben pensou naquilo por um instante.

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