17 de junho de 2015, foi nesse dia que terminamos tudo. E como se fosse um sonho, eu estava revivendo tudo de novo.
Estava chovendo muito naquele dia, mas, ao contrário de Jimin que manteve firme o guarda chuva sobre si durante todo o tempo, eu não tinha forças para fazer o mesmo. Eu estava ensopado e já não sabia dizer o que era lágrimas e o que era chuva, apenas deixava que toda aquela água escorresse sem rumo certo. Eu estava desesperado demais para me importar com pequenos detalhes.
Ele havia me ligado minutos – talvez horas – mais cedo pedindo que nos encontrássemos na praça que ficava perto de nossa antiga escola. Foram pouco mais de seis anos de namoro, desde o nosso segundo ano do colegial. Trocamos nosso primeiro beijo naquela praça, e também foi nela em que pedi Jimin em namoro. Eu estava feliz, porque tudo indicava que ele me pediria em casamento.
Eu não podia estar mais errado.
Cheguei ao local assim que as primeiras gotas da chuva tocaram o chão. Me entristeci por um momento ao pensar que o tempo poderia estragar o tão sonhado pedido. Precisei esperar alguns minutos até ver a silhueta de Jimin em meio àquela quase tempestade. Estava de roupa social e maleta na mão, o que indicava que tinha acabado de sair do escritório. Ele andava calmo em minha direção, ação que só servia para aumentar o meu nervosismo e ansiedade. Seus cabelos alaranjados estavam levemente molhados pela chuva que ele devia ter pego em algum momento durante o caminho. Parou a uma distância incomum com o semblante sério enquanto os olhos focavam em qualquer coisa que não fosse o meu rosto. Ele também estava nervoso.
— Boa noite, Jimin. — dei um passo em sua direção na intenção de beijá-lo, mas ele recuou — Está tudo bem? — preocupei-me.
— Não, Yoongi. — abaixou a cabeça, mas pude ver o seu olhar triste — Eu quero terminar.
Assim como na primeira e todas as vezes seguintes, ouvir aquilo me causava uma dor imensa. Eu nunca saberia reagir àquelas palavras, não importa quantas vezes eu revivesse aquela mesma cena. Vê-lo chorar em silêncio não ajudava em nada a minha situação. Assim como da primeira vez, eu me desesperei.
Não sei dizer quantas vezes eu implorei para ele não me deixar, para que não me abandonasse, mas ele manteve o rosto abaixado e apenas sacudia a cabeça negativamente a cada tentativa minha de fazê-lo mudar de ideia. Eu usava todas as minhas forças pra mudar o inevitável.
Eu estava preso em um ciclo infinito de dor.
Quando o choro de Jimin deu sinais de que se tornaria audível, ele me disse adeus e seguiu rumo ao apartamento que dividíamos. Assim como todas as vezes, eu chorei ajoelhado no chão enquanto a chuva fazia o trabalho de levar embora as minhas lágrimas. Assim como todas as vezes, eu não pude impedí-lo de me deixar. Como sempre, eu o deixei ir.
°°°
Passei a noite na rua, pois sabia que ele estaria em nosso – agora apenas meu – apartamento retirando suas coisas. Em um de meus retornos, eu voltei para casa poucas horas depois de sua despedida, mas isso só rendeu mais lágrimas e uma discussão inútil quando vi Jimin guardando algumas caixas no carro de um de seus amigos. Eu não queria sentir mais dor do que o necessário, então passava as noites andando sem rumo pela cidade até que o dia desse os seus primeiros sinais e eu pudesse voltar para a casa que seria apenas minha. Eu era um covarde, mas não sabia como mudar aquilo.
Como sempre acontecia, havia espaços nas prateleiras da sala e pedaços de fita adesiva no chão. Faltava fotos e livros, coisas que de fato não me pertenciam. A planta que ele supostamente cuidava continuava no corredor, mas já estava com seus dias contados, pois ela nunca recebeu os devidos cuidados. No banheiro, a minha escova de dentes estava tão sozinha quanto eu. E o quarto... Esse sempre me causava problemas, apesar de eu sempre saber o que me espera.
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Reliving The Past
AléatoireNão sei como, nem quando, mas em algum momento da minha vida eu me vi preso em um ciclo sem fim. Voltava para os mesmos dias e sempre nos mesmos horários, e assim revivia toda a minha vida com a mesma pessoa. Revivia tudo o que aconteceu durante o m...