Terceiro Retorno

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22 de abril de 2008, foi nesse dia em que conversamos pela primeira vez.

Eu costumava ficar quieto e afastado do resto, mas isso mudou quando Jimin entrou em minha vida.

A principio, eu já havia notado Jimin muito antes desse dia. Quando as aulas começaram ele havia se sentado do meu lado, mas do dia seguinte pra frente ele passou a sentar do outro lado da sala. Ele sorria bastante e se dava bem com todos, então foi inevitável não notar aquele garoto que parecia sempre tão feliz.

Naquele dia a professora sorteou os nomes para o trabalho que ela havia passado. Jimin foi colocado junto a mim. Mesmo com poucos dias de aula, ele já havia cativado muita gente naquela turma e por isso eu pude ouvir reclamações de pessoas que queriam fazer o trabalho com ele. Graças aos pedidos insistentes de algumas pessoas, a professora ofereceu um segundo sorteio, mas Jimin rejeitou. Eu gostaria de dizer à ele o quão feliz fiquei quando ele rejeitou a oferta da professora, mas eu não podia.

Jimin colocou suas coisas ao meu lado e me cumprimentou com um sorriso amigável no rosto. Chega a ser engraçado quando lembro que no ano seguinte esse garoto estará aceitando o meu pedido de namoro.

— Min Yoongi, certo? — acenei positivamente — Prazer, Park Jimin.

Recebi o mesmo sorriso que todos naquela turma recebiam, mas isso não me incomodava. Nada que vinha de Jimin me incomodava.

Tivemos uma breve conversa sobre como e o que fazer no trabalho, até que alguém colocou uma cadeira perto de Jimin e começou a conversar com ele. Como na primeira vez, eu passei o resto da aula tentando me concentrar em qualquer coisa que não fosse o agradável som da risada do meu parceiro de trabalho.

°°°

Nossa primeira ocupação após as aulas era um trabalho de escola.

Jimin ia até a minha casa após o término das aulas para que fizéssemos o trabalho. O prazo era de um mês, mas já tínhamos gasto pouco mais de uma semana fazendo coisas nada produtivas. Chegávamos em minha casa decididos a fazer o trabalho e realmente fazíamos. Ou pelo menos começávamos, já que em algum momento alguém reclamava de fome ou cansaço e dessa forma perdíamos completamente o foco. Deixávamos a obrigação de lado e, quando a gente percebia, já estávamos conversando sobre coisas aleatórias enquanto a TV permanecia ligada sem que alguém lhe desse atenção.

Alguns dias gastos com coisas inúteis gerava algo melhor do que nota na escola: estávamos virando amigos.

Jimin já não me virava as costas quando alguém chegava pra conversar com ele, eu passei a ser obrigado a participar de todos os seus bate-papos. Aos poucos fui entrando em sua roda de amigos e me tornando alguém mais comunicativo. Assim como na primeira vez, Jimin me mostrou um mundo que era mais agradável do que me parecia. Estar com Jimin era mais agradável do que jamais imaginei.

Para todos ali nós já éramos melhores amigos, mas, para nós mesmos, ainda não tínhamos chegado a tanto. Aliás, tinha pouco mais de duas semanas que conversávamos.

°°°

Na primeira vez eu fiquei com medo de Jimin se afastar após a entrega do trabalho, mas agora eu sabia que ele não faria isso.

Jimin permaneceu ao meu lado durante todos os dias seguintes.

Em algum momento o grupo se tornou uma dupla. Era apenas Jimin e eu. As pessoas ainda conversavam com a gente, mas ninguém ficava por perto tempo o suficiente para se encaixar ali. Nós tínhamos criado a nossa própria bolha, mas não nos importávamos com isso. Era agradável e estávamos felizes, e era isso que importava.

Conheci a casa e a família de Jimin alguns dias depois do término do trabalho. Era um local aconchegante e a família era tão maravilhosa quanto ele. Novamente vi que Jimin tinha motivos para esbanjar felicidade.

Costumávamos seguir juntos até a praça, local onde ficávamos cerca de duas horas antes de cada um seguir rumo a sua própria casa. Na maioria das vezes nós não tínhamos muito o que conversar, apenas aproveitávamos a companhia um do outro com o som dos passarinhos e risadas das crianças como fundo para o nosso silêncio. Eram duas horas gastas da forma mais agradável possível.

Nós estávamos, mais uma vez, sentados no banco da praça quando Jimin resmungou que já estava tarde. Eu sabia que ele não queria ir, e eu não queria que ele fosse. Diferente de todas as outras vezes, eu segurei o seu pulso quando ele se levantou.

— Posso voltar com você hoje? — questionei.

Após um momento de confusão, Jimin sorriu e concordou com o meu ato impensado. Nós morávamos em direções contrárias, nós dois sabíamos, mas ele não disse nada e eu fiquei feliz por isso.

Eu não sabia se algo simples assim poderia afetar o futuro, mas eu estava disposto a arriscar para poder ter o Jimin ao meu lado o máximo de tempo que fosse possível.

Na primeira vez Jimin era apenas um amigo, mas da segunda em diante eu já o via de outra forma. Eu controlava cada pensamento e movimento, porque eu não podia agir de outra forma que não fosse de acordo com os acontecimentos da época. Estava fora de cogitação adiantar as coisas, já que o futuro era incerto.

Mas eu fiz justamente aquilo que eu evitava: eu mudei um acontecimento. E agora eu temia o próximo retorno.

Reliving The PastOnde histórias criam vida. Descubra agora