Gene And Tonic

Capítulo 4

— Lennon's Point Of View —

Acordei. Mas não que nem eu acordo nos outros dias. Sabe quando você acorda, abre os seus olhos, e por uns segundos, você esquece quem é você, o que acontece na sua vida e o que você vai fazer a partir daquele momento? Foi exatamente isso que aconteceu comigo. Mas não por muito tempo, infelizmente. Porque quando eu me lembrei do caos noite passada, desejei que eu nem tivesse aberto os olhos:

Ontem. Madrugada. Mãe. Briga. Faca. Alice.

Alice. Conversei muito com ela depois de tudo o que aconteceu, até eu conseguir pegar num sono. Isso aconteceu quando já era umas seis e meia da manhã. Ela conseguiu me acalmar sem precisar de muita coisa. Disse que tudo ia passar, e que agora, o melhor a se fazer era conversar com o meu pai, porque ele vai me dar todo o apoio que eu preciso agora, e esperar um tempo para resolver o problema com a minha mãe. Alice disse também para eu não me esquecer que ela continuava sendo a minha mãe, independente de tudo que acontecesse.

Ela é a pessoa mais incrível que eu conheço. Ela conversou comigo, e eu senti como se ela estivesse falando comigo do meu lado. Senti a presença dela junto comigo, como se ela estivesse me abraçando enquanto eu lia as mensagens, e estivesse aqui comigo desde sempre. Tenho certeza que era pra ela ter nascido aqui na Inglaterra. Isso não aconteceu, não sei por quê.

Depois que todas as memórias da noite passada vieram na minha cabeça, a primeira coisa que eu pensei foi o Liam. Precisava ligar pro meu pai, o mais rápido possível. A Alice tinha razão, ele ia me ajudar, não importa em que situação.

Peguei meu celular, que estava no meio dos lençóis, e disquei o número do meu pai, e só depois do telefone começar a chamar eu me lembrei que eram nove horas da manhã. De um domingo. Era mais do que óbvio que ele nem tinha acordado ainda. Mas é o preço a se pagar pra continuar com o filho vivo.

— Alô? — Ele atendeu. Achei que ele ia demorar mais, tanto que cogitei a possibilidade dele já estar acordado; mas, a voz de sono dele estava bem aparente. Senti uma pontada de culpa pro ter interrompido o sono profundo dele, mas eu não tinha o que fazer.

— Pai? — Respondi, e logo depois percebi como a pergunta foi ridícula. Era óbvio que ele era o meu pai!

— Lennon? — Em três palavras, essa simples conversa se tornou uma conversa típica de um hospício. Lembro que quando eu era menor, ele insistia em dizer que só idiotas respondem uma pergunta com outra pergunta, mas só que foi exatamente isso que ele fez.

— Sim, sou eu. — Aí eu comecei a pensar se eu falava logo ou se enrolava, perguntando se eu tinha acordado ele, se ele tava bem, essas coisas. Mas a pressão foi tanta que eu decidi falar logo. —  Pai, eu vou te falar uma coisa — No meio da frase, eu lembrei de todas as reações do meu pai quando ele soube de situações importantes, e achei melhor fazer uma observação — mas não faz escândalo.

— ... ok, pode falar. — Respondeu com a voz um pouco rouca, sem nenhuma animação. Aposto que ele jurava que seria mais alguma besteira. Respirei fundo e soltei tudo de uma vez:

— A Patsy brigou comigo ontem de madrugada, ela... ela surtou, explodi-

Nem deu tempo de eu terminar de falar, ele deu um berro que quase fez o meu celular escapar da minha mão:

— HOLY SHIT! SÉRIO? TIPO, DE VERDADE? FUCKING HELL! VOCÊ TÁ BEM? — Por incrível que pareça, eu nem me importei que ele fez um escândalo, porque eu já tava preparado pra isso.

— Não, eu não tô bem... — Ao falar isso, veio um filme na minha cabeça, com as cenas de ontem: Patsy gritando comigo. Ela abrindo a gaveta, dizendo que não queria me ver nunca mais. E quando eu me lembrei disso tudo, senti minha garganta fechar. Sabe quando você está prestes a chorar? Então. É, talvez eu seja uma bichinha mesmo, e tudo que eu sinto pela Alice é só uma ilusão do meu cérebro para eu não sair do armário.