o ínicio

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Há uns 14 anos atrás, meus pais decidiram se mudar para uma casa um pouco maior que a atual. Na época eu tinha de 2 para 3 anos e meu irmão de 1 para 2 anos.
Tudo ocorreu bem na primeira semana, porém, na segunda em diante, algo pareceu não se importar em bagunçar tudo.

-Amor,ouviu isso?- Elane, minha mãe perguntou de ressalte enquanto desempacotava algumas caixas.

-Ouvi o quê? - Julio, meu pai, respondeu enquanto a ajudava.

-Isso. Este barulho. - Minha mãe continuou intrigada.

-Não ouço nada amor.- Respondeu meu pai. Agora, com certeza em suas palavras e demonstrando o pouco caso que fez com as palavras ditas por minha mãe.

Deixando para lá, minha mãe continuou a fazer o que estava fazendo.
No dia seguinte, não houve um intervalo como essas tais coisas costumam fazer. O mesmo barulho então volta a se repetir.

-Mas que droga de barulho é esse?-Elane sai de seu quarto durante a madrugada e vai até a cozinha seguindo lentamente o barulho.

Ao chegar, percebe a porta do armário aberta. Um pouco intrigada mas não ao ponto de ter medo, a fechou e voltou aos seus aposentos, afinal meu pai poderia ter aberto o armário e esquecido de fechar. Claro, é o primeiro raciocínio lógico que surge na cabeça de um ser humano.

Na manhã seguinte a rotina seguiu a mesma. Preparar café da manhã para o meu pai, a mamadeira das crianças, e os afazeres de uma dona de casa.

-Tchau amor! Tenha um bom trabalho e vai com Deus!- despediu-se minha mãe de meu pai enquanto ele saía de casa.

-Tchau amor! Te amo!- respondendo-lhe, Julio saiu para o trabalho.

Após desperdir-se de meu pai, a correria de verdade começou.
Enquanto ela fazia o almoço, arrumava a casa e nos olhava ao mesmo tempo, ela ainda tinha que arrumar um passa-tempo para que eu e meu irmão ficassímos num só lugar. Então ela ligava a tv num canal infantil ou nos distraía com brinquedos e algo para comer.

Numa tarde comum e rodeada das mesmas rotinas, quando já estava lavando as louças sujas do almoço, uma coisa não muito comum chamou a atenção da minha mãe.
Ela estava virada de costas, e eu estava bem atrás.

-Não! Eu não vou te dar mais, seu pidão!
Franzindo a testa virou-se para trás, mas não com muita rapidez.

-O que foi julinha?
Apesar de falar tudo enrolado eu sabia me expressar bem, principalmente quando estava com raiva.

-Ele! Esse pidão, que fica pedindo minha pipoca! -com uma cara típica de criança com raiva eu tentei demonstrar todo o meu incomodo com o tal "ele".

Ela ainda sem entender e com a testa franzida continua - Ele quem bebê?

- Ele mamãe! -Apontando para o nada com o dedo, voltei meu olhar chateado para ela.

Bem, como essa conversa não ia sair do "ele", minha mãe parou de me questionar, enxugou as mãos e me levou para sala, onde estava meu irmão.
E no dia seguinte as mesmas rotinas, mesmos horários, mesmas correrias. Só que algo havia mudado, a casa não passava mais o sentimento de segurança e conforto. Juntamente com esse reboliço de novos e nada agradáveis sentimentos, eu começei mudar... e meu irmão também.

Os dias naquela casa se tornaram pesados para minha família, principalmente para minha mãe.
Depois que falei a primeira vez com "alguma coisa que me perturbou" começei a falar com mais frequência sozinha. As as coisas começaram a piorar de verdade, no momento em que meu irmão começou a ter surtos de medo. O qual o fazia se  arranhar com suas unhas, morder os próprios braços e mãos, e até mesmo puxar o cabelo com tanta força que as vezes tornava-se uma tentativa de arranca-los.

O que para os outros era um comportamento de criança mal-criada, para minha mãe era algo além de um mau comportamento infantil.
Vivenciando diariamente aquelas cenas caóticas e foras do comum, minha mãe certamente vivia perturbada. Nunca demonstrou a ninguém o que sentia sobre esse assunto, mas de vez enquando compartilhava momentos estranhos com o meu pai, com a gente.

Coisas estranhas começaram a acontecer com ainda mais frequência. Agora sem dúvidas o que acontecia era completamente sobrenatural.

Numa noite fria mas completamente normal até então, minha mãe finalmente havia conseguido nos pôr para dormir, a casa estava toda okay e meu pai já estava na cama, aparentemente no segundo sono. Agora era a hora, tinha que ser, a cama estava ali chamando-a para um belo e longo sono.
Já deitada e quase dormindo, é "acordada" com batidas na janela do quarto.
Cansada e sem ter certeza do que ouviu, levantou a cabeça e checou da cama mesmo, ao redor, mas não vendo nada com que tenha que se preocupar volta a tentar dormir. Novamente é acordada com um barulho de batidas, mas agora ele vinha da cozinha.

-Mas que droga de barulho é esse?
Com o sono já perdido se levanta e segue o barulho lenta e cuidadosamente. Quando avista a porta da geladeira escancarada toma um susto. Sem êxitar, dá passos longos até a geladeira e a fecha. Em seguida, vira-se em direção a saída da cozinha e antes que começace a andar para fora da mesma, pensou em voz alta - "Quem diabos ia mexer na geladeira se estão todos dormindo?!"
Seus pensamentos são interrompidos quando sente um medo horripilante correr sobre suas espinhas. Uma das portas do armário estava se abrindo lentamente a deixando completamente paralisada vendo aquilo acontecer, até que todas as portas do armário se abriram. Naquele ponto já era burrice continuar parada observando aquilo acontecer. Em segundos, criou coragem e correu para a cama combrindo-se por completo.
O meu pai, bem, ele não acordou, acho que quando está dormindo pode ser chamado de homem pedra... infelizmente.

Batalhando contra o medo, finalmente adormeceu.
No dia seguinte, não preciso nem repetir não é?

Com todas as tarefas de dona de casa quase completas, e já sozinha comigo e com meu irmão, decidiu ir até o quintal  lavar o restinho de roupas que faltava.
Logo seu sentimento de bem-estar por saber que suas tarefas diárias estavam quase concluídas, foi substituído por um medo sufocador, o qual não lhe deixou segura de estar naquel ambiente.

Algo no quintal, atrás de suas costas chamava a sua atenção, seus olhos eram atraídos a olhar sempre para trás. De repente, numa única explosão de horror, algo aparentemente grande pula de cima do muro do quintal, era invisível ou não, era confuso , mas era grande, fazia um enorme barulho com suas pegadas ao correr em sua direção.
Sua reação foi a mais óbvia, correr, correr sem parar para dentro de casa. Seu primeiro pensamento foi nos procurar, o primeiro a ser achado foi meu irmão que estava na sala assistindo tv, depois eu que estava perto do quarto brincando sozinha.
Ela nos pegou no colo e já com o celular na mão nos levou para o seu quarto e nos trancou junto com ela. De lá fez uma ligação desperada para o meu pai.
-Julio! Julio! Vem pra casa, rápido! Tem alguma coisa no nosso quintal!

-O quê? Calma o que você está dizendo?- Seu tom de voz era de quem havia sido pego totalmente desprevinido. E realmente havia sido.

-Só... venha pra casa, por favor!- Ela não escondia o nervosismo e o medo em sua voz.

-Onde estão as crianças? Onde você está?- Ainda sem entender nada, meu pai reage como qualquer um nessa situação

-Estamos trancados no nosso quarto! Por favor vem pra casa! Rápido! - Dessa vez, minha mãe enfatiza ainda mais seu pavor ao términar a frase.

Meu Passado Ainda ViveOnde histórias criam vida. Descubra agora