— Estou seca! Foi o que ele falou — disse Rúbia. O rosto triste, manchado pela maquiagem que escorria com as lágrimas. Uma six pack de Stella Artois teria feito pior, mas não havia tomado mais que três.
— Não desanima, minha flor — Camilo havia chegado há pouco, após receber a ligação embriagada de Rúbia.
Ela começou a beber em uma praça, pouco antes das 21 horas. Alguns cigarros acompanhavam-na, enquanto observava os jovens jogando bola na quadra de esportes. Não era seu melhor passatempo, mas naquele dia nada era importante. Nada, além de conseguir fugir.
Duas long neck foram suficientes para ela pegar seu celular e ligar para o namorado.
Sonhavam em se casar e ter filhos, pelo menos dois, Camilo dizia, um garotinho e uma garotinha. Era o maior sonho de Rúbia, desde quando era apenas uma criança brincando com suas bonecas.
— Como não desanimar, Camilo? — O tom de voz alto, de qualquer bêbado que se preze, começou a aparecer. — O médico disse que eu tô seca! Támentendendo? SE-CA!
— Tenho certeza que ele não usou essas palavras, meu amor — acariciava a cabeça dela, trazendo para perto da sua. Ela o afastou, começando a chorar novamente.
— E que porra m-me importa c-como aquele filho da puta falou? É a mesma coisa, Camilo, puta que pariu! EU-NÃO-POSSO-TER-FILHOS!!!
— A gente pode dar um jeito, meu bem.
— Que jeito? Não tem jeito, será que cê não consegue entender, porra?! É esse o meu sonho desde... desde sempre — tentava acender um cigarro com as mãos trêmulas. — Era o meu sonho.
— Pensei que ia parar de fumar — disse Camilo, abrindo uma das cervejas.
— Para ter os meus filhos sem ter vontade de fumar, pra que... ah, que se foda! Tá tudo indo ralo abaixo mesmo — mais lágrimas escorreram.
Camilo tentava continuar a conversa, sabendo que poderia ser perigoso deixar Rúbia só com seus pensamentos. Deveria haver algum tratamento, alguma possível solução, mesmo que pesasse em seus bolsos.
— É inútil. Sou uma aberração, uma casca sem sementes...
— Não diga isso — ele sorria. — Você é muito especial pra mim. Vamos achar alguma solução. Prometo!
— Obrigada por tentar me animar, mesmo eu sendo uma chata... olha pra mim. Uma mulher de vinte e tantos, bêbada em uma praça... tô me sentindo uma adolescente.
— Sua cabeça só tá cheia, nada de mais querer esvaziar. Além disso, essa praça é legal — olhava para as árvores, para os lixos jogados no chão, para a quadra de esportes recém-esvaziada que praticamente caía aos pedaços... era um lixo de lugar, mas não vinha ao caso. — Mas que tal irmos pra sua casa? Comer alguma coisa, tomar um banho demorado... beber bastante água?
— Uma merda, né? Nem pra beber eu presto.
Desceram para a casa de Rúbia, e não demorou muito para ela cair no sono após o banho não tão demorado.
***
Rúbia dormia tranquila. Em seus sonhos, caminhava para casa em meio a uma escuridão intensa, quando se deparou com um carrinho de bebê na frente de uma casa em pedaços. Uma criança chorava.
Rúbia se aproximou, confusa. Uma criança ali, abando...
— Posso ajudá?
— An? — Rúbia se assustou.
Um velho usando trapos sujos chegava por trás. Sua cabeça era coberta por um pano, mas era possível ver seu rosto queimado do sol, coberto de rugas e marcas de expressão. Carregava uma bengala, um pedaço velho de madeira.
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Contos de Um Quando
HorrorO mal sempre está à espreita. Ele escapa no silêncio da noite, fugindo daquele quarto escuro e esquecido dentro da sua cabeça, te persegue enquanto te aprisiona em um eterno desespero, ou pode até mesmo estar em sua casa nesse exato momento. Ao seu...