~ Anteriormente em " Me diga quem é você? ~
POV's Nora
- Não olhe pra baixo! - ordenou, impedindo minha próxima ação. Ele sentou-se do meu lado e virou minha cabeça para encara-lo.
Por fim foi chegando mais perto, sua cabeça em direção a minha. Recuei ela para trás a medida que ele avançava.
Merda. O que ele está fazendo?
Por fim senti o vidro da janela atrás da minha cabeça.
Automaticamente me contrai fechando os olhos. Seu toque em minha testa trouxe consigo tremores, e uma pequena corrente elétrica. Já havia sentido isso, mas não fazia ideia do que era.
Abri meus olhos com medo, a ponto de o ver com um bandete em mãos.
O encarei sem ao menos piscar, esqueci até de como respirar. Era a primeira vez que alguém chegava tão perto assim de mim, ainda mais sendo um homem. Senti medo, nervosismo, meus olhos escureceram por um breve momento, mas eu ainda sentia curiosidade.
Os olhos dele eram tão escuros, mas do que me lembrava quando o tinha encarado e seus cílios grandes possuiam uma curva sensual.
- Você não tem mais medo de me encarar? - perguntou friamente, colocando o bandete no ponto em que meu corte estava
Olhei para baixo quase que imediatamente. Ele deveria saber que tenho medo, só não sei porque naquele momento o medo estava em segundo plano é a curiosidade em primeiro. Ele deve ser realmente muito assustador em tempo integral.
- A outra está pior? - pergunta depois que se afasta e recua as mãos.
Ele acha que me meti em uma briga de mulheres? Mas tenho medo demais para responder ou ceder a sua estranha tentativa de um diálogo.
Fixo meu olhar na janela, sem ver realmente o que está lá fora.
- Ele vale tanto assim a ponto de você brigar? - percebi um tom de comédia e deboche em sua voz.
- Preciso passar! - ignorei sua pergunta, e agradeci ao céus por minha parada ter chegado.
- Claro - ele levantou e ao passar, senti minha perna roçar na sua, trazendo consigo novamente aquela corrente elétrica misturada com um desconforto. Puxei a corda e esperei que a porta abrisse.
Desci rapidamente, antes de começar a andar ouvi sua voz, que me fez olhar para trás.
- Você não parece ligar para essas formalidades não é Nora - Ele estava com a cabeça para fora da janela.
- Sou Patch! - levantou uma sobrancelha e volto-se para dentro novamente.
Meu coração batia violentamente em meu peito, com essa reação imprevisível dele. Realmente não esperava.
Patch?
Isso é nome de cachorro ou o que?Nome de guerra? De membro de gangue?
Uma hora ele me ameaça outra é quase gentil. Será que ele é bipolar?
Balancei a cabeça e espantei esses pensamentos para longe.
Quanto menos pensar nisso, menos minha vida pacata será importunada.
Estou certa? Sim estou!
Andei um pouco ainda, já que minha vila ficava há um quarteirão do ponto de ônibus.
Não era muito tarde, mas a noite estava bem mais escura, pois o céu não tinha nem estrelas e nem lua. Nem um único ponto iluminoso.
Flash daquela noite começaram a passar em minha mente. Senti imediatamente náuseas e pouco de enjoo.
- Casa! Quero ir pra casa! - sussurrei pra mim. Comecei a dar passadas longas e rápidas. Não demorou muito para chegar e só de ver meu lar, minhas ansiedades e meus calafrios haviam parado. Talvez eu demore um pouco a esquecer. Ou nem esqueça. Mas, manchas sombrias nas memórias todos tem, não é?
Chegando em casa, encontrei meu pai fazendo o jantar. O que me surpreendeu, porque ele deveria estar no trabalho.
- O que acha que está fazendo? - perguntei me encostando na geladeira ao lado do fogão.
- Estou preparando o jantar. Ninguém vai dormir com fome nessa casa.
- Me referia ao seu trabalho pai! - reforcei.
- Falei que precisava de um dia de folga.
Ele era realmente um super pai, não conseguia disfarçar a preocupação presente em seus olhos. Enquanto eu não parecer ótima, aquele sentimento não deixara seu olhar quando estiver em mim. Isso me dava forças para focar em minha recuperação.
Odiava trazer preocupações ou dificuldades para casa, e nesse momento eu me odiava por ter trago.
- Uhmm. Entendo. Você precisa de alguma ajuda? - me aproximei para ver o que ele estava fazendo.
- Não, não. Já está tudo pronto - ele mexia com a colher para misturar os ingredientes da macarronada. Ela estava com um cheiro que trouxe até água à minha boca
- Vá guardar suas coisas e lavar suas mãos - disse desligando o fogo.
- Ok.
Fui para eu quarto. Troquei minha roupa por uma mais surrada.
Não havia mensagens daquele número desconhecido no meu celular.
Tentava não pensar naquela noite, mas era difícil. O sentimento que tomou conta de mim, um sentimento de quem está esperando a morte era tão intenso. O gosto de ferrugem de repente me veio a boca.
Lembro de como estava o céu, pois não olhava para nada além dele, com medo do que tinha por vir. E quando ele apareceu, foi praticamente uma luz naquela escuridão, mesmo que estivesse coberto por sombras. Era um homem, por causa do seu tamanho, principalmente os ombros, e ele tinha brigado com certeza, não sei se foi com os dois.
Pela primeira vez na minha vida eu estava agradecida a alguém que não fosse meu pai. Tinha ignorado as mensagens, mas no primeiro momento que pedi um favor ele veio ao meu encontro mesmo sabendo o risco que podia correr por alguém que nem conhecia.
Graças a ele, estou em minha casa, estou na presença com meu pai. Lágrimas vieram aos meus olhos pensando no que aconteceria se ele não tivesse ido até mim. O que teria acontecido comigo e com meu pai.
Então tomei uma decisão, devia agradecer a ele.
Olhei o horário em meu celular. Não era tão tarde, então uma mensagem não faria mal.
Comecei a digitar, e me sentia ansiosa, nervosa. Era a primeira vez que mandaria mensagem para alguém, ainda mais agradecendo.
" - 09:23 - Boa Noite.
Não sei por onde começar mas sei que primeiramente devo agradecer a você por ter atendido meu pedido de socorro. Se não fosse você, não sei o que teria acontecido comigo. Por isso estou realmente agradecida. "
Apaguei a mensagem. Não precisava fazer uma redação, basta agradecer.
" - 09:23 pm - Boa Noite.
Obrigada por aquele dia. "
- Não, não. Isso foi muito frio - apaguei novamente.
" - 09:24 pm - Boa Noite.
Obrigada por aquele dia, não sei nem por onde começar a agradecer a você. Realmente obrigada mesmo. "
Coloquei o número no destinatário e enviei. Por fim, fui lavar minhas mãos para comer. Mas antes escutei o bip do meu celular.
Seria ele?
Quando fui pegar meu celular na cama, meu pai me chamou para comer. Posso ver depois.
Meu pai não tirava os olhos de mim enquanto eu comia. Isso realmente não vai dar certo.
- Pai. Sei que herdei seus genes da beleza - comecei. Coloquei uma colherada de macarronada na minha boca e prossegui falando de boca cheia enquanto mastigava, e as palavras soavam meio enroladas - Tenho uma péssima notícia, mesmo você me encarando tanto, não os conseguirá - ele começou a gargalhar tanto, que chegou a sair macarrão pela sua boca.
- Verdade, não deveria ter doado tanto dos meus genes, agora eu só tenho meu incrível senso de modéstia, porque beleza não tenho mais.
Começamos a rir juntos. E finalmente a atmosfera estranha havia ido embora.
Meu pai foi dormir logo, enquanto eu limpava a mesa. Lavei e depois guardei a louça.
Fui ao meu quarto para pegar minha toalha para que tomasse uma banho antes de dormir.
Meu celular estava na cama, então me sentei para que pudesse ler a mensagem.
" - 09:54 pm - Boa Noite. Fico agradecido por ter te ajudado e por você ter me pedido ajuda. O bom é que você está bem agora, não é? "
Ele está perguntando se eu estou bem. E agora?
Será que respondo, ou espero um pouco, ou... Ah, não sei.
Fui tomar um banho para esfriar a cabeça. Disse que não falaria com aquele estranho, mas ele me salvou. Caramba eu pelo menos deveria estar agradecida, por que que estou pensando tanto. Ele ainda foi me ver no hospital, tenho quase certeza que era ele.
Depois que vesti uma camisola, me ajeitei pra dormir e peguei meu celular.
" - 10:15 pm - Estou bem, graças à você. "
Esperei sua resposta. Mas depois que me dei conta de que não tinha perguntando nada, não tinha o porquê dele responder.
Deixei meu celular do lado do travesseiro e fechei meus olhos no momento que a mensagem chegou. Os abri imediatamente e peguei meu celular.
" - 10:16 pm - Hahaha, estou ficando envergonhado quando você fala assim. Você saiu do hospital? E os remédios? Está tomando certo? "
Fiquei um pouco sem reação. Ele claramente estava preocupado comigo. E senti um sentimento estranho, que trouxe um pequeno sorriso ao meu rosto.
Comecei a digitar a resposta.
" - 10:16 pm - Eu tive alta hoje. Estou tomando apenas um remédio para dor no corpo".
Digitei outra mensagem.
" - 10:17 pm- E você, está bem? "
Lembro que ele brigou com aqueles caras e não acho que tenha saído ileso. Então seria grosseiro não perguntar como estava.
Esperei o sms ansiosa. Tomara que ele não tenha se machucado muito por minha causa.
" - 10:17 pm - Estou bem hahaha
Feliz por você estar bem. "
Então ele não deve ter se machucado muito, já que ele não disse. Ou ele se machucou, mas por ser homem, não vai reclamar para um mulher.
Olhei o horário, eu deveria ir dormir, mas tinha uma pergunta a fazer ainda.
" - 10:18 pm - Tenho uma dúvida é gostaria que você me esclarece-se".
" - 10:18 pm - Como você conseguiu meu número"?
Fiquei em dúvida em enviar a última mensagem. Mas eu realmente queria saber como ele conseguiu meu número. Tenho certeza que não dei a ninguém e nem meu pai, por perdido meu.
Parei pra pensar direito: ele tem meu número, sabe como sou, e é provável até de saber meu nome. Isso é estranho. Realmente estou agradecida, mas aprendi a desconfiar de estranhos. Fiz o que precisava fazer.
" Mensagem enviada" apareceu na tela do meu celular.
Então esperei a resposta, mas ela não veio. Deu 22:46, 23:18, 23:37 e nenhum sinal de mensagem.
Será que ele está ocupado, ou dormiu, ou simplesmente está ignorando minha mensagem.
- Aff...- resmunguei e fui dormir. Amanhã era sábado, então o movimento seria maior na Cakes Doux.
POV's Narrador
Uma figura encapuzada adentrava em um beco, onde um homem de terno preto e bem passado o esperava.
- Qual a situação? Me reporte apenas o que for útil.
O encapuzado soltou todas as informações que continha para a figura a sua frente.
- Agora não ouve mas nenhum movimento suspeito - finalizou.
- Ótimo - a figura se aproximou de seu informante, o agarrou pela gola e o empressou na parede - Espero que isso não dure mais que o fim dessas férias - disse entre dentes e o largou, limpando as mãos em seguida - Preciso do caminho livre para mim.
E por fim se foi.
O encapuzado bufou.
- Vamos ver que vai estar com o caminho limpo - em seu rosto bonito, digno de príncipe de um baile, ou de um comercial de TV, um sorriso macabro apareceu o deixando realmente assustador.
- Vamos ver - repetiu soltando um riso pequeno.