~ Anteriormente em " Me diga quem é você? ~
POV's Nora
Olhei o horário, eu deveria ir dormir, mas tinha uma pergunta a fazer ainda.
" Tenho uma dúvida é gostaria que você me esclarece-se".
" Como você conseguiu meu número"?
Fiquei em dúvida em enviar a última mensagem. Mas eu realmente queria saber como ele conseguiu meu número. Tenho certeza que não dei a ninguém e nem meu pai, por perdido meu.
Parei pra pensar direito: ele tem meu número, sabe como sou, e é provável até de saber meu nome. Isso é estranho. Realmente estou agradecida, mas aprendi a desconfiar de estranhos. Fiz o que precisava fazer.
" Mensagem enviada" apareceu na tela do meu celular.POV's Narrador
- Ótimo - a figura se aproximou de seu informante, o agarrou pela gola e o empressou na parede - Espero que isso não dure mais que o fim dessas férias - disse entre dentes e o largou, limpando as mãos em seguida - Preciso do caminho livre para mim.
E por fim se foi.
O encapuzado bufou.
- Vamos ver que vai estar com o caminho limpo - em seu rosto bonito, digno de príncipe de um baile, ou de um comercial de TV, um sorriso macabro apareceu o deixando realmente assustador.
- Vamos ver - repetiu soltando um riso pequeno~ Uma semana depois ~
- Bom apetite - disse Nora com a voz arranhada enquanto servia mais uma mesa naquele sábado.
A CakeDoux estava com bastante movimento neste finalzinho de tarde. Não demorava desocupar uma mesa, já haviam clientes para ocupar. Isto era realmente bom para os negócios do Sr.Chefe.
Enquanto isso, Nora estava mais calada que o normal. Mesmo seu semblante parecia estar cansado, pálido.
O Chefe percebeu isso e a chamou depois que serviu o restante das mesas.
- Nora o que está acontecendo? - perguntou depois que chegaram na cozinha.
- Nada - respondeu baixo e de olhos cansados. Nora pensava que era melhor não deixar alguém preocupado com ela, mesmo que estivesse a ponto de desmaiar, mas aguentava com toda a força.
- Como assim nada. Você está se sentindo mal? - ele se aproximou para tocar seu ombro e a reação que Nora teve foi inesperada pelos dois.
- NÃO - gritou Nora se afastando para que Sr. Mouret não a tocasse. Ela mesma se surpreendeu com sua ação. E Mouret tinha certeza que não estava bem, seria esse um efeito colateral do que ela havia passado antes de ir pro hospital. Ele se perguntava o que tinha acontecido à ela.
Nora percebeu o quanto sua reação foi exagerada e tratou de pedir desculpas pelo ocorrido. Ela realmente não fazia ideia do porque agiu daquela maneira.
- Sinto...mui...to! - gaguejou olhando para as mãos suadas, bastante envergonhada.
- Tudo bem, você só precisa descansar um pouco, realmente seu rosto parece um pouco sem cor - o gerente observou - Vá lá pros fundos e descanse por momento, agora não está tão cheio, posso pedir para Patch cobrir suas mesas.
Ela apenas acenou com a cabeça e foi para os fundos. Quando ela sumiu de sua vista, tratou de chamar Patch.Ele rapidamente serviu a mesa e foi até ele.
- Faça- me um favor, cubra as mesas de Nora só por momento sim?
Afirmou rapidamente.
- Algo errado com a Nora?
- Ela está um pouco exausta, então dei um intervalo para ela se recuperar.
- Ok! - será que ela estava bem, perguntou se quando voltava a servir as mesas.
No caixa, Vee acabava de passar o troco para o cliente. Chamou Patch.
- Preciso ir no banheiro! Você pode tomar conta rapidinho? - pediu apressada.
Patch fez menção com o queixo para seguir em frente.
Enquanto chegava no vestiário, Vee viu Nora com a cabeça abaixada e as mãos entre o pescoço. Percebeu que as suas mãos tremiam e seu pescoço parecia estar molhado de suor.POV's Nora
Não tinha ideia do que havia acontecido, mas a sensação de ir lá para os fundos e ficar sozinha acalmou mais minhas náuseas.
Peguei uma blusa no meu armário, dobrei e molhei no chuveiro com água fria, depois fui me sentar.
As náuseas ainda estavam lá, apesar de mais amenas. Com minha blusa em minha testa elas pareciam diminuir ainda mais.
O que estava acontecendo comigo?
Deixei a blusa de lado e coloquei a cabeça entre as pernas. Li que isso é bom para evitar possíveis desmaios, e achava que se não fizesse algo, apagaria.
Não demorou muito e meus pensamentos clarearam mais e a sensação ruim foi indo embora.
- Nora? - escutei a voz da Vee me chamar. Levantei a cabeça.
- Oi! - minha voz saiu um pouco rouca.
- Você está bem? - perguntou com um tom preocupado na voz e seu rosto parecia surpreso.
- Sim estou - respondi com um singelo sorriso.
- Então por que está chorando? - Vee se aproximou mais sentado-se ao meu lado.
- Ahn? - disse confusa. Toquei minha face e senti algo molhado em volta dos meus olhos. Olhei para minha mão as pontas dos dedos estavam molhadas. E sentia que mais lágrimas desciam.
Por que eu estava chorando? Por que? Nem eu sabia responder à isso.
- Vou falar pro chefe te liberar. Acho que deve ir para a casa! - afirmou Vee.
Sua maneira de se preocupar me trouxe um pouco de calma, mas receio também. Muito receio.
- Não faça isso. Só estou preocupada com uma coisa. Por isso me deixei levar. Desculpa.
- Você tem certeza? - insistiu.
- Sim tenho! - lhe mostrei um meio sorriso.
- Cadê seu celular?
- É...está na minha mochila! - respondi a sua estranha pergunta, mas me arrependi, era pra te dito que não tinha.
- Uhmm... Então coloque seu número ai - disse me estendendo seu celular.
- Ahn? - falei para disfarçar.
- Celular número seu anotar - disse com uma voz suave e com as mãos como se estivesse meditando
Sorri, mas por dentro gargalhava. E foi bom, sentir isso.
- Até que enfim vi você sorrir - disse piscando para mim. No mesmo momento fiquei envergonhada.
Por que estou agindo dessa forma? Toquei minha testa, para ver se estava quente, mas não havia nada de diferente.
- Não precisa ficar envergonhada. Quero que sejamos amigas - Vee disse com um grande sorriso.
Vee era bastante divertida e engraçada. Mas será que eu seria capaz de interagir e ser amiga dela?
Pensei na minha mãe, e como ela abandonou meu pai e eu sem excitar. E de isso acontecer novamente? Serei capaz de aguentar? Não quero sentir como se meu mundo desaba- se, ou ficar como meu pai ficou. Não quero sentir meu coração despedaçar.
- É...eu preciso voltar pro expediente! - disse me levantando rapidamente e sai de lá antes de ela manter qualquer outro diálogo. Sei que isso foi rude, mas tinha um motivo.
Precisava me proteger.
Senti os olhos de Patch em mim como sempre, talvez ele tenha estranhado eu sair de repente, ou me vigiava para ver se eu não falaria nada sobre aquilo.
Me odiei por aquele dia novamente. Aquilo me meteu em problemas que não são meus, com pessoas que não conheço.
Depois que o expediente acabou, esperei na parada de ônibus mais próxima.
Fixei meu olhar no céu. Dessa vez ele não estava assustador. Parecia calmo e misterioso. Como se escondesse um segredo.
Formei um retângulo com meus dedos e fechei um dos olhos para ver melhor. Mirei a única estrela que permanecia sozinha e distante das outras, era pequena em comparação as outras, no entanto seu brilho era mais forte.
Sorri comigo mesmo. Até as pessoas mais sozinhas tem seu brilho próprio. Talvez eu tenha o meu, só não o encontrei ainda, ou ele não me encontrou.
Fiquei mais um tempo enquadrando a pequena estrela, até duas órbitas oculares escuras e profundas apareceram em minha tela. Eram um par de olhos que eu reconhecia.
Me assustei assim que elas piscaram uma vez.
- Você parecia bem concentrada - disse Patch sentando -se ao meu lado.
Uma brisa trouxe o cheiro dele até mim, cheiro de banho recém tomado. O frescor do sabonete. Era um cheiro agradável. Senti minhas bochechas ruborizarem com esse pensamento.
- Você está bem? - perguntou aproximando de mim - Você está vermelha!
Meu Deus, que droga está acontecendo comigo. Por que estou tão instável.
- E...Es..Estou bem! - guagejei. Seu olhar ainda me vigiava.
- Uhmm. Ok! - disse virando se novamente.
De repente o celular dele tocou.
- Alô? - usei esse tempo de distração para observar ele rapidamente. As marcas de brigas haviam sumido. Por que fui me meter em encrenca logo com alguém que já é da encrenca.
Olhei novamente a estrela sozinha.
Talvez ele também tivesse um motivo que não pudesse ser explicado, assim como o meu.
Será que você também teria um motivo para ser afastada das outras estrelas?
- Nora? - Patch me chamou - Por quê você sempre está nas nuvens como agora? - perguntou sério. Seus olhos estavam mais obscuros e profundos do que nunca.
Por que o interesse dele de repente. Ainda sou uma ameaça, não é? Que pergunta inútil.
Apesar de me sentir acanhada, não possuo coragem de usar o que sei como uma chantagem. Apesar de tudo, eu ainda era humana e tinha coração. Não é certo brincar com as dores dos outros.
- Você está fazendo isso novamente! - Patch murmurou.
- Me...desculpe...é - tentei formar alguma resposta mas foi inútil. Sentia seus olhos presos em mim. Por que seu olhar era tão intenso?
Enquanto tentava responder, palavras saiam sem nexo. Ele ria, baixo suficiente para que eu não percebe- se, mas olhando de canto, vi a curva de sua boca em sorriso.
- Gosto de pensar! - foi o que saiu depois de uma eternidade, falando palavras soltas e sem nexo.
- Uhmm - foi tudo o que ele disse e me senti boba. Graças a Deus, meu ônibus, havia chegado.
- Boa Noite! - disse me levantando. Subi rapidamente para evitar possíveis despedidas.
Desabei na assento ao lado da janela. Estava exausta. Nem tanto do trabalho, mas dialogar com outras pessoas me deixava assim. E meus sentimentos instáveis me deixava preocupada e desprotegida.
Fechei meus olhos. Podia ser capaz até de dormir do jeito como estou.
Havia travado uma batalha hoje, mas a guerra mal havia começado.
- Você esqueceu que eu também pego esse ônibus? - dei um pulinho e arfei de assustada.
Neguei com a cabeça, fixando minha atenção em qualquer coisa que estivesse lá fora menos em Patch ao meu lado.
Escutei um burburinho, parecia que ele havia acabado de pôr o fone de ouvido.
Graças a Deus, ele não irá prolongar nossa conversa e poderei chegar em casa sem problemas.
Sentia- me até acanhada de respirar ou fazer qualquer movimento sendo brusco ou não.
Quando estávamos trocando de faixa para dobrar na próxima avenida a direita, o ônibus violentamente mudou de faixa, fazendo com que eu fosse de encontro a janela e Patch veio para cima de mim.
Minha cabeça estava à centímetros da curva de seu pescoço. O cheiro era inebriante. Sentia sua respiração no meu cabelo, como se seu rosto estivesse perdido em minhas madeixas. Seus braços haviam se apoiado contra a janela. Me encontrava entre eles, enquanto os meus estavam pressionados contra seu peito. Que por sinal, parecia bem rígido, conseguia sentir seu coração batendo. Enquanto minha frequência cardíaca estava tão alta que eu era capaz de sentir meu coração batendo forte contra meu peito.
Então por fim ele se retirou e voltou ao seu lugar.
Meu coração ainda batia violentamente. Estava com medo de ele escutar, então tentei conversar para manter sua atenção longe.
- Me desculpe! - pedi, não sei porque, mas foi o que veio na minha cabeça - Esse motorista me deu um grande susto! - tentei sorrir quando olhei para ele, mas Patch olhava para frente e parecia não me escutar por causa dos fones.
Senti um pontada de raiva. Sim, isso mesmo. Embora não entenda o por quê dela. Ele estava calado, do jeito que gosto que as pessoas fiquem, mas por que isso não estava me agradando.
Desviei meu olhar e permaneci quieta, esperando meu ponto.
Como se soubesse onde iria descer ele se levantou e esperou eu passar.
- Obrigada! - disse quando passei e puxei o corda para avisar ao motorista. Patch apenas acenou e voltou seu olhar para frente.
Desci devagar, pensando que talvez ele fosse falar comigo, mas ocorreu tudo normalmente.
- Como ele pode ser tão frio? - bufei irritada - Era de se espera! - garanti.
De repente me dei conta de que algo estava muito errado.
O que eu disse? Como isso saiu da minha boca? Meu Deus, o que está acontecendo comigo? Algo está muito errado!
Passei as mãos no meu rosto. Preciso me acalmar.
-Nora você não é assim! Recomponha-se! - sussurrei para mim mesma.
Olhei para o céu novamente tentando encontrar alguma resposta, mas estava certa de uma coisa. Algo está errado comigo!
POV's Patch
Acabara de chegar em casa. Morava em um quarto numa vila pequena. Era o máximo que podia pagar depois de tudo o que aconteceu.
Ele era simples e só tinha o necessário para mim.
Uma cama pequena, meus pés sempre ficavam para fora dela. Uma mesa e uma geladeira que ficavam perto da porta. Havia um pequeno guarda-roupa ao lado da cama e um espelho grande reservado em um canto do quarto.
Me olhei nele. Lembrei do real significado dele estar lá. Para não fazer eu esquecer do meu real objetivo. E nem que eu morra tentando, irei cumpri-lo.
Tirei minha blusa e virei de costas para o espelho.
Ela estava lá desde aquele dia, agora mais cicatrizada, e a dor permanente em minha lembrança.
- Você vai me pagar! - disse entre dentes.
Depois que peguei minha blusa, senti um cheiro diferente nele. Aproximei do meu nariz.
Era cheiro de shampu de banho. Lavanda, para ser mais preciso. Logo lembrei onde consegui esse cheiro.
Os cabelos de Nora, quando fiquei perto demais dela. Essa garota ainda é um enigma para mim. Ainda não sabia qual era a dela. E ela acabou se tornando um ponto fraco para mim.
No dia que ela viu minha marca, me senti exposto. Estava tão exposto que tremia violentamente. Era a primeira vez que alguém me via assim. Foi difícil manter a calma e não explodir pra cima dela. Logo preciso saber o que ela pretende fazer. Por isso estarei vigiando.
Lembrei quando ficamos perto demais. O coração dela batia tão forte que eu era capaz e ouvi-lo. Seria medo? Isto está ficando ainda mais melhor ao meu favor.
Joguei a camisa no lixo e fui tomar banho.
Tudo se resolverá ao seu tempo.