Capítulo 1

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Chamo-me Edgar Alan Silva, numa infeliz referência ao mestre do terror E. A. Poe. Meu pai, um leitor compulsivo de livros de terror, deu-me esse nome. Apesar de apreciar o referido autor, não acredito que a intenção tenha de fato atingido o seu fim, que era de me tornar um rapaz orgulhoso do próprio nome, e quem sabe no futuro, tornar-me um grande escritor.

Meu nome é o menor de meus problemas. Tenho dezenove anos, solteiro e vivo num apartamento, de número 28, no quarto andar de um edifício na periferia da cidade. Trabalho meio período numa lanchonete situado no shopping mais badalado da capital, onde obtenho o meu razoável salário, suficiente para pagar o aluguel e parte da mensalidade do meu curso de Letras – a outra parte é paga pelo meu pai, um advogado humilde que cobra apenas o estritamente necessário pelos seus serviços. Esse também não é o pior dos meus problemas, embora achei necessário mencionar para restar demonstrada o que de fato me aflige.

Não sou o típico rapaz extrovertido, muito menos não sou de todo tímido. Consigo manter uma conversa sem muitos embaraços com uma moça, se esta me permitir, e não for muito bonita. O meu problema, de fato, é o meu rubor facial. Fico vermelho com extrema facilidade, diante desde as situações triviais do dia-dia, até as mais constrangedoras. Nem preciso dizer que fico escarlate quando estou diante de uma moça bonita, principalmente se for loira.

Procurei explicações para esse fato peculiar, um medo inconsciente de loiras, mas infelizmente não encontrei. Confesso que é um drama de minha vida ver-me ruborizado diante de alguém que sequer entende o meu problema.

Passei por diversas fases de minha vida tentando conciliar minha condição, não encontrado um meio termo que me permitisse levar uma vida normal. Felizmente, embora passasse por situações em que fiquei terrivelmente vermelho diante de clientes loiras, nunca tive problemas com meus superiores, e esse problema não afetou significativamente o meu trabalho. Menos mal.

Minha situação, porém, agravou-se há duas semanas, quando Vanessa mudou-se para o apartamento ao lado. Era uma moça de beleza magnifica, loira de cabelos compridos e olhos azuis como o oceano, profundos e instigadores.

Nosso primeiro encontro informal foi no elevador. Ela segurava na altura dos seios dois livros de psicologia. Ela lançou-me um sorriso tímido e formal quando entrei, voltando-se em seguida para a porta, como se eu sequer existisse. De alguma forma senti-me aliviado. Já vermelho, a situação poderia piorar caso ela tentasse puxar assunto. O silêncio dela foi até um alivio.

Sua beleza era complementada por um corpo escultural, de seios médios e firmes, uma cintura estreita e pernas bem torneadas. Tinha 1,72cm de altura, dez centímetros mais baixa do que eu. Fiquei atraído, como jamais havia acontecido, tão preso a ela que mal mexia os lábios. Paralisado, fitei os números do painel, esperando a porta abrir-se. Quando ocorreu, ela saiu na frente, fazendo-me deter-se por alguns segundos, até que ela seguiu à direita, em direção ao apartamento 29.

Foram os quarenta segundos mais longos de minha vida. Poderia ter dito um bom dia, falado sobre o tempo com ela, mas detive-me ao estrito silêncio, absoluto isolamento e recolhimento.

Sou realmente alto, porém magro e sem muitos atributos, a não ser a paixão pelos livros. Não saberia dizer ao certo que tipo de homem Vanessa sentia-se atraída. Se fosse um homem alto, magro, de rosto pálido e culto, tirei a sorte grande, embora fosse apenas a metade do caminho. Precisaria conquistá-la, o que seria a parte difícil.

Não foi preciso muito para descobrir as afinidades de Vanessa, no que se refere aos homens. No dia seguinte surgiu em sua porta um grandalhão de 1,85cm, musculoso e rosto retangular, de cabelos curtos e pele bronzeada. Cruzei-lhe a porta, tempo suficiente para vê-la sorrir ao encarar o rapaz, que lhe retribuiu o sorriso e complementou com um ardente beijo. Essa luta estava perdida – pensei.

O Tímido do 28Onde histórias criam vida. Descubra agora