Capítulo 4

213 10 0
                                    

Minhas noites eram monótonas. Se não bastasse a vida solitária que levava, não conseguia ter boas ideias para me divertir sozinho. Tinha uma pilha de livros para ler, era verdade, mas chegava o momento em que colocaria em dúvida o prazer pela leitura. Um homem não vive somente de prazeres intelectuais.

Notei uma movimentação incomum no apartamento de Vanessa. Não foi difícil concluir que ela havia preparado uma festa.

As músicas tocavam num volume aceitável, chegando aos meus ouvidos como sons abafados e indistintos. A mistura de conversas evitava qualquer interpretação, tornando-se apenas mais barulho sem qualquer importância.

Apesar de tímido, eu gostava de festas, não como as pessoas normais. Eu era do tipo que se escondia num canto com uma lata de energético e tentava parecer invisível, embora desejasse, bem lá no fundo, que alguma garota se aproximasse e puxasse assunto. Ao mesmo tempo, tinha medo que isso acontecesse, eu ficasse travado e a deixasse constrangida. Esse deve ser o medo de todo tímido.

Frequentei algumas festas durante minha adolescência. Por sorte, não fui alvo de chacota ou de brincadeiras de mal gosto. Fui ignorado, o que se era esperado, mas no que se refere a garotas, fui uma negação. Com exceção de uma ou duas meninas que trocaram um "olá", não consegui manter outra conversa mais extensa. Era frustrante vestir a minha melhor roupa, ficar perfumado para no fim passar uma noite ouvindo música e bebendo, sem dar um beijo sequer.

Evidentemente, não fui convidado. Vanessa já sabia o meu nome, mas não era suficiente para me chamar para sua festa. Ela tinha muitos amigos e precisava selecionar os que tinha mais afinidade, caso contrário não caberiam no seu apartamento. Eu ocuparia o lugar de alguém extrovertido, o que não era nada interessante para as intenções dela. Seria como um peso de papel num lugar que não precisava de um.

Fiquei fitando aquela pilha de livros sobre a mesa. "Interpretação e Produção Textual", "Nova Gramática", "Mistérios de Sangue", "Antologia do Terror". Alguns pela metade, outros sequer iniciei. Dentre eles havia um em especial que me chamara atenção. Era o tipo de romance que me fazia ficar horas a fio lendo, mesmo que me faltassem as forças. Puxei-o, tomando cuidado para não derrubar os outros. Uma prateleira nova estava no primeiro lugar de minha lista de compras.

Juntei dois travesseiros, encostei a cabeça e deitei-me no sofá. Abri na página 197 e continuei a leitura, num falso entusiasmo que ia se convertendo aos poucos num prazer contido.

De vez em quando minha concentração era interrompida por imagens de casais se beijando na festa de minha vizinha, sorrindo e falando bobagens, com copos de cerveja nas mãos. Estavam por demais desinibidos, mostrando seus corpos sarados. As garotas, de vestidos curtíssimos, mostrando as calcinhas transparentes. Não... estou sendo modesto, mostravam além do que estava nas calcinhas, o meio pelo qual sentiam prazer, suas vaginas ardentes pedindo para serem penetradas.

Conseguia ver aqueles biquinhos dos seios rijos por debaixo da blusa. Elas, para provocar os parceiros ou alguma paquera, apalpavam-nos aos suspiros, com a bocas salivantes, com prazer nos olhos, uma excitação crescente que se expandia por entre as pernas, descendo em forma de liquido.

Aquelas vaginas estavam tão úmidas que poderia me banhar nelas. Mas nada poderia fazer senão continuar minha leitura. Imaginar as centenas de situações em que poderia me divertir nessa festa só servia para me deixar mais frustrado.

Na terceira ou quarta página, acabei cochilando. Não lembro bem quanto tempo se passou, mas acordei ao som de batidas na porta. Dessa vez fui precavido. Belisquei-me para ver se não estava sonhando. Daquela vez não, era bem real.

O Tímido do 28Onde histórias criam vida. Descubra agora