Capítulo 01 - Tragédias e Mudanças

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Eram duas da manhã quando o telefone da sala tocou desesperadamente, como se anunciasse uma desgraça, meu pai desceu correndo pela escadaria, que levava para o primeiro andar, no mesmo momento eu levantei da minha cama e encontrei minha mãe no corredor. Só ouvimos o sussurro triste do meu pai, era uma desgraça:

Mamãe chegou junto dele no andar debaixo, abraçou-o e ele disse algumas palavras que eu nem consegui entender, era algo triste, muito triste.

Talvez a minha inocência dos cinco anos de idade impediram que eu entendesse a profundidade do que haviam acabado de descobrir, só fui sentir a pressão do momento, quando no dia seguinte fui para uma cidade distante com meus pais e avistei dois caixões e um menino um pouco maior que eu que chorava desesperadamente.

Hoje eu entendo tudo, era o meu tio (irmão do meu pai), que havia morrido em um acidente de carro, e junto dele fora sua esposa, havia ficado apenas meu primo o Felipe, ele tinha sete anos na época, mas havia sentido-se desnorteado órfão. A notícia daquela madrugada, aquela fatalidade, daria rumos novos a todas as nossas vidas e trariam mudanças eternas.

Felipe chegou à minha casa, na manhã seguinte com algumas malas e um coração dilacerado, mal conhecia minha família, apesar do vinculo forte que o meu pai tinha com o pai dele, ele tinha olhos tristes e cabelos negros, era uma nova pessoa no meu lar, um estranho no ninho, não sei se me adaptaria àquela novidade. Felipe tomou conta das casas em poucos dias, era vivo, sorridente, apesar de uma tristeza perturbando seu olhar, tornou-se rapidamente um filho pros meus pais e eu me perguntei porque até hoje não havia pedido um irmão.

A convivência era algo fundamental na minha vida, sentar à mesa com meus pais e com meu novo irmão, assistir TV, dormir, tudo isso era novo, mas fazia da minha vida melhor, muito melhor. No meu aniversário de 6 anos Felipe me presenteou com um abraço forte pela manhã, haviam laços extremamente fortes sendo construídos em nossas vidas, algo que jamais seria quebrado, era o amor pulsando, a liberdade pedindo licença, era uma fraternidade forjada, mas bem sucedida.

Felipe era dois anos mais velho que eu, era meu "irmão" mais velho e trazia em si todo o cuidado e amparo que esse tipo de irmão traz, ele cuidava de mim, me ajudava nas tarefas e sempre estava ao meu lado mesmo que eu estivesse errado.

Ninguém percebia, nem mesmo nós, mas dia após dia, os laços que nos uniam se tornavam mais fortes e verdadeiros, ele era a pessoa que eu queria que me protegesse eternamente, e ele desejava o mesmo. Costumávamos brincar muito, correr pela casa, subir e descer as escadas correndo e gritar o tempo todo por todos os cantos. Em uma tarde quente fomos assistir Felipe jogar futebol no campinho da escola, ele era excelente no esporte, fez três gols e saiu ovacionado por uma platéia que me incluía. Eu e meu pai fomos buscá-lo no vestiário, senti-me perturbado ao ver tantos garotos nus, tantos corpos suados e bem delineados, éramos todos crianças, mas a minha pele ficou rubra, eu percebi que a inocência se esvaia na flor dos meus sete anos. Felipe me abraçou fortemente, tirou a medalha do pescoço e me disse sorridente:

- Eu ganhei ela pra dar a você.

Choro ainda hoje ao lembrar essa cena.

Mudanças fortes romperiam nossa vida como uma tempestade, e eu tinha medo de nunca mais chegar a calmaria.

Corpos Colados (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora