Capítulo 08 - A Vida Como Devia Ser

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E ainda bem que nunca mais nos desgrudamos, íamos sempre juntos a todos os lugares, éramos muito mais do que qualquer coisa que pudessem rotular, de repente nem nos preocupávamos mais com as pessoas dizendo que éramos próximos demais, andávamos pelas ruas, às vezes esquecíamos e nos abraçávamos no meio da rua cheia de gente hipócrita me olhando e rindo, riamos com eles também, víamos graça no absurdo que eles pensavam da vida, para gente era a felicidade que importava...

Fomos à noite a um restaurante desses "cool" por aí, tinha música ao vivo, gente bonita, bebemos um pouco de umas batidas fortes de frutas vermelhas, ficamos de rosto colado na mesa, um pegado na mão do outro, olhavam-nos como se fossemos pecadores, mas simplesmente nós amávamos que pecado a nisso, ninguém era obrigado a entender o nosso amor, já que isso exigia uma inteligência que nenhum ser humano tinha, nem nos entendíamos, mas todos deviam entender a felicidade. E então começou a tocar uma música, essas que tocam em lugares de casais, um rock antigo, uma balada romântica, aquelas que fazem o coração sangrar, ela fez com que eu e Felipe lembrássemos a nossa infância e víssemos que o amor sempre esteve ali esperando a hora certa de aflorar, ele me pegou pela mão, me levou pro meio da pista, e me conduziu na dança, entre homens e mulheres dançando, estávamos nós dois, quase os mutantes daquele lugar, mas dançávamos com uma alegria nos olhos que incomodava, havia um grupo de amigos "machões" em volta de nós, nos olhando e rindo muito enquanto viravam o enésimo balde de chope, ao fim da música nos beijamos, o beijo tinha gosto de cereja, morango e todas as frutas vermelhas da batida, saímos sorridentes da pista, sob o olhar espantado de alguns e decidimos ir embora.

Fomos por um caminho novo, estávamos naquela fase de experimentar novas sensações, em um beco escuro de uma dessas ruas sujas todas pichadas, vimos aquele grupo de bêbados incrédulos da boate, eles estavam na nossa frente uma parede de homens:

- Vocês deviam ter vergonha de andar na rua – disse um loiro alto.

- Vocês deviam se matar, seus desgraçados – disse um moreno dando um passo à frente.

Antes que pudéssemos fazer qualquer coisa eles nos atacaram rapidamente, foram tantos pontapés e socos na barriga, que eu estava dolorido e jogado ao chão, só ouvia um Felipe raivoso querendo afrontá-los:

- Solta ele seus malditos, solta ele seus desgraçados.

Suas palavras aos poucos, sumiam, pois eu estava zonzo e quase desmaiando, meu corpo doía e os pontapés não cessavam, a dor foi maior quando eles desabotoaram minha calça e me deixaram nu com muito deboche, nem sei quem foi que fez aquilo comigo, mas me penetraram com muito ódio, me estupraram com uma força absurda, enquanto outro machão dava tapas em meu rosto, eu estava sangrando, machucado, nu e humilhada, eu gemia de dor de ódio e um deles dizia:

- Ele está gemendo de prazer. Bicha desgraçada – e um novo pontapé.

De longe ouvia o choro de Felipe, um choro forte, um choro de alguém que queria muito me proteger, ele gritava pelo meu nome:

- Soltem ele, soltem ele... Dú...

Ejacularam dentro de mim e depois na minha boca, eu não sentia mais nada, tudo girou e eu desmaiei.


"Meu pai vinha em meu encontro, em uma rua vazia desabitada, ele estava sério e prudente, caminhava lentamente, eu não me via, mas sentia muita dor... Senti quando ele pegou em meu queixo e tirou uma mão toda ensanguentada, ele me olhou com pena e uma lágrima correu pelos seus olhos vazios:

- Perdão meu filho por tudo que te fiz sofrer – ele me disse um pouco choroso.

Eu não respondia só conseguia gemer com aquela dor maldita, que cortava todo meu corpo.

- Eu te amo muito, nunca se esqueça disso. Um milhão de perdão por todo o sofrimento que fiz você passar na vida. Quero só que você seja muito feliz.

A dor não cessava, mas existia algo bom que me invadia, o perdão do meu pai, ele me pedindo desculpas por todo o mal que um dia podia ter me causado. Eu fiquei em silêncio, enquanto ele saiu sorrindo, minha dor aumentava, e meu pai caminhava devagar livre de qualquer culpa e preconceito, assim como a vida devia ser." 

Corpos Colados (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora