Capítulo 09 - Dignidade

1.4K 175 5
                                    

Acordei com mamãe ao meu lado, estava com a perna engessada, o braço com uma tala, o rosto cheio de pontos e muito dolorido, minha mãe chorava, mas tentava me dar algum tipo de força, eu estava recebendo sangue pelas veias, eu estava muito fraco, mal conseguia mexer as mãos:

- Força, meu filho, e você vai sair daqui – minha mãe disse parecendo muito transtornada com toda aquela situação.

Ela me beijou lentamente, eu nem conseguia falar estava muito dolorido. Lembrei então do momento em que fui espancado e humilhado na frente do meu grande amor e agora entendia porque minha mãe estava chorando, ela odiava tudo que estava longe da dignidade, odiava todo tipo de agressão, ou humilhação, a voz de Felipe gritando implorando para que me libertassem fez minha cabeça arder e eu tentei dizer, mas a voz custava sair:

- Onde está o Felipe? – minha voz era baixa demais.

Minha mãe encostou o ouvido em minha boca e ouviu minha indagação:

- Ele está bem filho, está bem e lutando por justiça – de alguma maneira aquilo reduziu as minhas dores e eu voltei a dormir.

Saí do hospital três dias depois, usando uma muleta e com o rosto sem os pontos, mas com algumas cicatrizes, que segundo o médico desapareceriam com o tempo, no corredor do hospital estava Felipe sorridente, ele estava com o braço engessado e com o cabelo todo cortado, ele se aproximou de mim e então olhamos um ao outro e choramos, qual era o preço que pagaríamos pelo nosso amor, porque tínhamos que sentir aquela dor, rapidamente lembrei-me da imagem do meu pai, me pedindo perdão, nunca acreditei em sonhos, mas aquele foi tão real que decidi dar credibilidade a ele de alguma forma. As lágrimas de Felipe não cessaram e nem as minhas, se abraçamos meio desajeitados, pois estávamos cheio de gesso no corpo, minha mãe chorava atrás de nós aflita.

Entramos no carro e fomos para a casa.

- Quem cortou o seu cabelo? – eu perguntei mexendo nos cabelos curtos dele.

- Foram aqueles idiotas que cortaram tudo e eu tive que ajeitar assim – ele disse com um sorriso amarelo.

Nossos olhos ainda estavam marejados, deitei no colo dele e senti que ele estava quente, seu coração batia forte:

- Ainda bem que você está aqui, eu não podia te perder Dú – ele disse.

- Obrigado por estar aqui também. Eu te amo tanto.

Nos beijamos, nossa saliva nos dizia tanto, estávamos mais apaixonados do que nunca. Minha mãe chegou na sala nessa hora, ficamos muito sem graça, ela olhou no fundo dos nossos olhos e disse:

- Eu tenho muito orgulho de vocês dois – os seus olhos já envelhecidos tinham brilho e muita verdade. Aquelas seria uma das últimas frases dita por ela. Nós abraçamos os três e ali estava mais um momento digno de porta retrato.

Corpos Colados (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora