5 - A VIAGEM

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     Gérard não podia acreditar que o amor de sua vida havia sido levada pelo ser mais poderoso que ele já vira.

     Segundo James, esse servo de Lăm Mëmoh não tem sequer dez porcento do poder de seu líder. Para recuperar Kate, Gérard teria sim que lutar no campo de batalha do inimigo.

     O cheiro de queimado emanava por todo o corpo do homem. As queimaduras sobre seu corpo - que não eram poucas - estavam causando gemidos e suspiros de dor.

     - Antes você precisa ir ao hospital, senhor Gérard. Está gravemente ferido - disse James torcendo para que o homem recusasse, pois não havia mais tempo, teriam que partir imediatamente.

     O ódio que Gérard sentia só aumentava quando ele pensava em Kate. A tristeza tomou conta de seu peito e logo veio o remorço.

     Eles a levaram por minha culpa. Pensou ele, balançando a cabeça na negativa. Se eu tivesse uma vida normal como a de qualquer outra pessoa, nada disso teria acontecido.

     - Você não teve escolha, August. Você foi obrigado a se tornar o que é hoje - o senhor tentou acalmá-lo.

     - Pare de ler meus pensamentos, seu velho enxerido.

     - E então? - Pressionou para que August Gérard respondesse rapidamente - o que você fará?

     - Você é um chato, não é mesmo? - Retrucou Gérard - se você conhece Lăm Mëmoh, tem ciência de seus poderes e já foi para o outro mundo algumas vezes, por que eu devo cumprir essa missão?

     - Gérard, de nós dois, você é o caçador de demônios, eu apenas te aconselho e aviso sobre possíveis ataques quando necessário - após finalizar a frase o senhor fechou os olhos e pensou que não devia ter dito tais palavras.

     O semblante de August franziu completamente, ficando sério e encarando James por alguns segundos.

     - Por que diabos não me avisou que não era Kate na porta? - Gérard estava fora de si e gritou - por que você não me avisou!?

     Uma mulher com um carrinho de bebê passava pela rua e olhou para o homem gritando com um espelho. Gérard percebeu o que estava fazendo e tentou disfarçar.

     - Boa noite, minha senhora - gritou ele, que estava há dez metros de distância - estou ensaiando minha peça teatral. Vou me apresentar em algumas horas.

     A mulher não pensou duas vezes e saiu correndo do local. Mais uma vez o homem olhou para o espelho balançando a cabeça na negativa e insistiu na pergunta.

     - James, por que não me alertou sobre o demônio?

     O velho homem que era visível apenas ao reflexo do espelho, suspirou fechando os olhos.

     - Quando eu disse para nos apressarmos, você me ouviu? - James sabia que o que falaria seria errado e se arrependeria amargamente, mas prosseguiu - eu sou seu guardião, Gérard. Muitas vezes sei o que é melhor para você, mas infelizmente você não me ouviu. Levaram Kate por sua culpa. Se já tivesse partido quando eu lhe pedi, sua amada estaria em segurança neste exato momento.

     Gérard não aguentou ouvir tais palavras e num súbito ataque de raiva, jogou o espelho no chão, fazendo-o se despedaçar.

     As lágrimas logo saíram de seus olhos e começaram a percorrer pelo rosto.

     Gérard gritou.

     - A culpa foi sua, James! Você tem medo de seu irmão, por isso me colocou para fazer esse seu trabalho sujo. Você começou tudo isso há muito tempo atrás - August Gérard caiu de joelhos enquanto conversava com o homem que já não podia mais ser visto - isso tudo foi culpa sua, não minha. Você não teve nem a decência de me avisar que não era a Katarina. Como você pode se dizer guardião? COMO?!

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