Entre Dimensões

6 - DEVER

- Labissa, agora que você já sabe praticamente tudo sobre mim, por que não me conta como eu volto para minha casa? - perguntou Kate já um tanto cansada, pois ficou praticamente o dia inteiro naquela caverna escura.

A monstruosa garotinha riu levando as mãos à boca antes de responder - Não tem como sair daqui, ninguém nunca conseguiu. Se você fosse uma guardiã a passagem estaria livre para você ir e vir quando bem entendesse, mas para nós, o único jeito é colher dezenas de criaturas e fazer uma oferenda sabe lá para quem. Lăm Mëmoh foi o único a tentar e parece que vai conseguir.

- Como eu me torno uma guardiã?

- Nem tente. Você terá que dar sua vida para salvar alguém da morte. É uma palavra que eu esqueci... é... sacrilégio eu acho.

- Sacrifício? - corrigiu Kate.

- Isso! Sacrifício - Labissa apontou para Kate como se ela tivesse resolvido o maior mistério do mundo - quando uma pessoa sacrifica a própria vida para salvar outra, ela se torna guardiã, uma espécie de anjo da guarda.

- Isso realmente é verdade? - Kate não sabia se acreditava ou não nessa história que parecia ser um conto para crianças.

- Me diga: por qual motivo eu mentiria?

- Não foi isso que eu quis dizer, mas, todos nós já não temos um anjo da guarda? Por que precisaríamos de outro?

- Não, não temos. Para ser mais realista, não existem anjos, isso é na verdade um mito. Simplifiquei para você entender o que os guardiões fazem.

Kate já estava acostumada em ser tratada como um ser inferior à Labissa, mas dessa vez ela se sentiu ofendida pelas palavras da garota, contudo não tinha escolha, ela sabia que dependia daquela pequena monstrinha, então nada fez.

Katarina bocejou.

- Está entediada com minha explicação? - perguntou Labissa parecendo estar furiosa.

- Claro que não, apenas estou com sono. Continue me explicando sobre guardiões.

- Então, continuando, quando a pessoa dá sua vida para salvar alguém, ela vira guardiã - Kate revirou os olhos para cima, impaciente por Labissa falar a mesma coisa. Por sorte a garota não viu o gesto - e guardiões protegem as pessoas até em outras vidas, por exemplo, a pessoa morre e depois vive de novo, não sei explicar isso.

- Reencarnação? - mais uma vez ajudando Labissa com as palavras.

- Você é muito inteligente para uma humana, parabéns. Continuando, depois que a pessoa salva a outra e vira guardiã, ela deve proteger seu elo por várias reencarnações, entendeu?

- Mais ou menos. Como assim deve proteger? E se o guardião não quiser mais acompanhar seu elo?

- Não tem como não acompanhar, sabe? É como a gravidade. Você não pode desistir dela e sair voando, sempre você será atraída de volta. Por onde você andar, tudo o que você fizer, cada segundo de sua vida é movido pela gravidade. O elo do guardião funciona da mesma maneira, pois sempre que ele tentar debandar de sua missão, a Vida o trará de volta.

- Que legal, você também é muito inteligente para uma... o que você é? - Kate estava um pouco estressada, cansada de tudo aquilo. O ar parecia ficar cada vez mais denso, dores musculares surgiram por todo o corpo, suas costas estavam pesadas.

Labissa piscou os olhos duas vezes num curtíssimo intervalo de tempo e seu olhar pareceu distante.
- Eu realmente não lembro. Faz tanto tempo que estou aqui, que não tenho nenhuma recordação da minha vida no planeta em que nasci. Já vi tantas criaturas banidas que são trazidas de seus mundos, mas nunca vi alguém de minha espécie.