Prólogo

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Acho que tudo começou naquela noite.
E se alguém tem culpa do que me tornei hoje esse alguém é a Lauren, minha melhor amiga.

- Vamos lá, vai ser legal. - Disse ela já me puxando em direção as casas do fim da rua.
Nós duas tínhamos por volta dos 8 anos e as crianças do bairro tinham se reunido pra brincar de pique-esconde. Ela sismou em se esconder na casa abandonada do fim da rua. Eu não queria ir porque sabia que a casa não era abandonada. O morador de lá era agrônomo, vi ele conversando sobre plantas com meu pai e também ouvi quando ele disse que a casa era velha porque a mulher dele não ligava em cuidar.

Lauren parou e sorriu de orelha a orelha.

- Sabe aquele filme Eduard mãos de tesoura?

- Pelo amor se Deus Lauren aquele filme é mais falso que nota de 3 dólares. - Resmunguei aflita. Entendi o que ela queria dizer. De perto a casa se tornava muito mais assombrosa. - É melhor voltarmos.

- De jeito nenhum. - Quando ela sismava com uma coisa não tinha reversão. - Ninguém vai nos encontrar aqui.

- E se o dono chegar?

- Não tem dono! - Subiu as escadas que ranjeram a cada passo - Isso é mais velho que a casa da família Adams . - Riu sozinha e eu só me abraçei seguindo-a.

Ela girou a fechadura e a porta se abriu.

- Isso!- Comemorou e entrou sem cerimônias.
Eu olhei ao redor. A rua permanecia vázia. Pelo menos se o dono da casa chegasse eu poderia dizer que fui obrigada pela Lauren.
Entrei e tomei um baita susto quando ela acendeu as luzes.

- Vendo? Não mora ninguém aqui. - Ela afirmou aquilo porque não havia móveis na sala. Nenhum. Só poeira e um carpete mais desgastado que o da vovó Price.

- Se tem energia é porque mora alguém.

- Você é tão paranóica. - Comentou indo pro corredor.

- Espera por mim!- Gritei correndo atrás dela.
Não havia portas no percurso do corredor e sim escadas bem lá no fundo.
As luzes estavam ligadas .

- Vamos lá? - Não foi uma pergunta. Lauren já estava no topo das escadas e olhou pra mim com aquele olhar repreensivo. - Você tem 8 anos , não 81 . Garotas da sua idade estariam curiosa.

- Eu estou curiosa. - Falei indo até ela - Só que com medo.

Lauren pegou minha mão.

- Tá bem agora? Ainda tá com medo?

Eu estava.
Mas não ia dizer pra não ser estraga prazeres.

Descemos os degraus e a cada passo eu tinha mais certeza de que se tratava de um porão.
Lauren descia os degraus saltitante mas eu já tentava ter a visão máxima do lugar e por isso fui a primeira a vê-la e congelar quase no último degrau.
Lauren ia dar um sermão em mim mas ela também viu a mulher.
A mulher acorrentada a uma das vigas que sustentava o porão .
Lauren recuou alguns passos porque ela reparou no sangue espalhado pelo chão.

Dei um passo a frente mas ela me puxou pra trás.

- Está maluca? - Questionou apavorada - Ela está morta.

- Não está não. - Apressei o passo até a mulher . Ela respirava. O peito subia e descia , era visível porque ela estava sem roupa.
Haviam cortes pelas pernas e braços. Boca amordaçada. Suas partes íntimas também tinham sangue.

- Moça? - Chamei olhando ao redor. Avistei um guarda roupas velho e corri até ele. Abri-o as pressas e agradeçi a Deus por ele ter roupas limpas. Tirei um vestido preto de dentro. - Me ajuda Lauren! - Então olhei para as escadas e vi que a covarde fugiu . Bufei indo até a pia precária. Enchi um pequeno balde com água e parei ao lado da moça. - Ei! Acorde!- Gritei e então ela abriu os olhos. Azuis. Ela se sentou rapidamente e tirei sua amordaça. - Está tudo bem?

- Eu... Eu... - A voz dela saiu esganiçada demais. Corri até o balde e joguei a água sobre o corpo dela. Estendi o vestido.

- Se enxugue com isso. - Mandei ignorando o desespero e o medo. Ajudar uma pessoa era prioridade. Via isso na TV o tempo todo. Fui até o guarda roupas e tirei outro vestido.
Ela estava se enxugando. - Vista esse , consegue vestir?

Ela apenas concordou com a cabeça.
Varri o porão novamente a procura de algo útil.
Vi os objetos reluzindo abaixo de uma mesa no recanto.
Uma tesoura de jardinagem cheia de sangue. Olhei pra moça de relance. Torçi para que não fosse o sangue dela. Me agachei perto da caixa e puxei um daqueles alicates grandes igualzinho ao que o papai usava quando ajustava as rodas do pneu do carro.

Voltei pra perto da moça .
Ela estava com o vestido florido.
Os cabelos loiros assanhados e sujos de sangue. As unhas dela eram terríveis. Eu não perdi tempo analisando nada e usei o alicate para quebrar as correntes.
Elas quebraram e a pobre da moça levantou-se com dificuldade.

Fiquei ao seu lado e com a mão direita envolvi a lateral de seu corpo e com a esquerda entrelaçei nossos dedos.

- Meu pai é policial. - Avisei começando a dar os primeiros passos. - Ele vai te ajudar.

-Obri...Obrigada...

- Não fale. - Estavamos no corredor já - Você está em estado de choque, ouvi muito disso nas conversas do papai .

Passamos pela sala em um ritimo mais acelerado.
Subimos a rua quase correndo .

Logo ao avistar minha casa perçebi a movimentação.
Lauren havia chamado meus pais.

Ela e o meu pai vieram correndo em nossa direção.
Ele segurou a moça que começou a chorar desesperada.

- O que aconteçeu? - Perguntou a ela ciente de que não ouviria resposta - E você moçinha , vai pra casa .

- Está bem pai...

A moça se afastou dele e me abraçou forte.

-Obrigada . - Agradeçeu - Você me salvou daquele monstro.

- É a mulher dele?- Perguntei curiosa. Ela deveria ter uns 20 anos e o cara que morava na casa tinha uns 40 .

- Não. - Ela ficou séria - Eu nem sei quem ele é mas ontem a noite ele me abordou na rua dizendo que ia ...

- Ela é uma criança. - Meu pai a interrompeu - Não sabe o que é um serial killer. Venha comigo, precisa ir ao médico e mandarei de imediato uma viatura encontrar o Robert Macoy... Deus - Papai olhou pra mim preocupado - Ele deixava passar a personalidade psicopata.

Ela segurou meu rosto nas mãos me fitando com os olhos azuis grandes e esbugalhados.

- Você é uma menina muito corajosa. - Beijou minha testa - Como se chama?

- Faith, Faith Forbs.

Faith Forbs - Investigação CriminalOnde histórias criam vida. Descubra agora